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quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Relacionamento em Rede - entre o tropeço e o soluço.

Entre o tropeço e o soluço, em busca das soluções, organizações buscam implantar e integrar diversas ferramentas de administração e gestão para estruturar estratégias e revigorar o plano de negócios de forma a encontrar a estrada dos tijolos amarelos da perenidade, com licença social, consolidação comercial, conforto ambiental, e fôlego financeiro, com uma bela imagem estampada na parede. A licença social tornou-se moeda de troca e valorização.

Dentre tantas ferramentas, a metodologia de relacionamento em rede é uma que contribui deste desenvolvimento de projetos, a reestruturação da estratégia de relacionamento institucional de uma organização, e também no seio familiar. O que antes ficava na mesa de profissionais de RP, ou de informais lobistas agora habita a mente de analistas de relações institucionais, gerentes, coordenadores, assessores e mágicos corporativos.

Para estruturar um Plano de Ação de Relacionamento Institucional é importante antes criar a matriz geral de relacionamento (em Excel mesmo), e nela estabelecer o corte do potencial de influência, estabelecendo uma matriz específica de partes interessadas (um desdobramento da primeira planilha). Tive a oportunidade de criar a metodologia do relacionamento em rede de uma empresa e perceber os benefícios que trouxe desde em negociações básicas de mídia/imagem, até articulações para garantia de atividades operacionais, internas e externas.

O próximo passo é estabelecer como esta matriz se relaciona com a organização objeto, qualificando o perfil e desdobrando em como cada personagem da matriz relaciona entre si. Após esta qualificação, que passa por uma análise com aspectos subjetivos de percepção e leitura de território, realiza-se um corte por cenário de interesse, montando um infográfico (em ai / cdr ou ppt) do perfil de relacionamento. Desta forma, é possível compreender o mapa de interrelação, entendendo o fluxo de articulação entre os indivíduos, possibilitando traçar estratégias, identificar pontos de tensão e pontos de equilíbrio, para definir o que deve ser protegido, pressionado, monitorado, mas nunca ignorado.

Muitos tropeçam em tentar estabelecer fórmulas, ao invés de adaptar critérios, aspectos, vetores e criar a própria metodologia de forma contextualizada com seu negócio, setor, local de atuação, perfil social, econômico e cultural.

Na matriz de interrelação, deve ser verificado o nível de interferência / influência entre os indivíduos, classificando e identificando por cores e letras desdobrando em diretriz para cada perfil de público e se for o caso específico por indivíduo. Se é forte, médio, pequeno ou inexistente. A partir da diretriz por classificação, estabelecem-se as ações.

Na verdade, a metodologia de relacionamento em rede é a formalização e aplicação corporativa / política do que já existe de forma natural na organização do ser humano em sociedade, bem observado por Gertz e tantos outros. Quando formalizado em uma organização, facilita o trabalho em equipe no que concerne à relação institucional, pois padroniza o posicionamento conforme a identidade organizacional e suas estratégias. É fundamental saber fazer a transição da estratégia, metodologia para aplicação efetiva da estratégia, sair da ideia e mensurar os resultados obtidos (o que é extremamente possível).


 

... este assunto merece um desdobramento... depois retornarei a ele por aqui...


quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

conteúdo da forma



Intermitente reflexão sobre os valores dos fluxos, das pessoas, das coisas, mergulha nosso olhar ao redor com um distanciamento enigmático. Um pedaço de papel, dinheiro, certidões, contratos, escrituras, endereços, contas, rendimentos. Números na rede, signos, símbolos dos nossos rótulos. Todavia ainda tudo permanece sendo o que é. Quando sopramos para fora das coisas o sentido que colocamos nelas, podemos perceber que elas são o que são.

Espaços, objetos, reputação, imagem, relacionamentos. Firmamos no horizonte nossos objetivos, por casa, carro, riquezas, relacionamento, sucessão de gozo e legado. Alternamos nosso tempo entre dedicação, confrontamento e descanso, até sucumbir aos últimos dias de vida. Flanqueamos estandartes dos propósitos, queremos mudar opiniões, olhares e gostos.

Se viva a planta está, consome nutrientes, rompe a terra, vive, floresce e morre. Perpetua-se no pólen que cede, na cor que pinta a paisagem, no verso que inspira o homem. Nasce vive morre homem. Interfere na paisagem  desejando assiná-la, rimando por às vezes assassiná-la. Contudo, belo é seu intervir quando pinta a paisagem, de modo a propiciá-la ainda mais bela ao próximo, mesmo sendo este, cego.


terça-feira, 27 de março de 2018

têmporas


O céu de sólido sol cede o palco para nuvens que alteram a iluminação sobre meu rosto, a temperatura sobre minha pele. O anúncio da chuva, pelo cheiro no ar, é a introdução de uma bela sinfonia natural do porvir. A chuva, instrumentada de todos os tons, toques e ternuras avança gradativamente. Trocadilhos traiçoeiros, têmporas a mercê das temporãs.

O ritmo da vida ao redor faz outro sentido aqui dentro. A relevância dos fatos, a dimensão dos impactos varia tudo conforme o respirar, o interagir e a paz.

Foi assim a palavra sem alça despencando do "auto" de minhas ideias, atravessando meus sentimentos em um papel que nem tinta absorve, nem olhares retém. Essa bula, este manual do que me resta na curva dos versos de rimas tão amargas. A maestria do toque suave da paisagem muda o gosto e o sabor. Especialmente belo o dia me toca com paz. O inspirar o ar fresco da manhã, ouvir a vida ao redor é como ser abraçado de um modo especial.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

fusos



O desafio na comunicação corporativa perpassa o relacionamento da Tecnologia e o conflito de gerações. Sendo que um fator determinante deste cenário é a necessidade de lideranças participativas, que saibam administrar as diferentes gerações e conduzi-las a vivência das novas tecnologias.

Futuro da comunicação ou comunicação no futuro. O “agora, já passou”. O foco das ações de comunicação já não está nas plataformas (intensificada após a efervescência tecnológica), mas sim no conteúdo; esse faz a diferença e interfere na malha social. Todavia, é importante conceber, formatar e disseminar de forma assertiva o conteúdo, revendo os resultados esperados, não basta buscar audiência por audiência. O volume não mais sobrepõe à qualidade de absorção da mensagem e manifestação da interferência.

O público procura se envolver com marcas e narrativas que corroboram com seus valores e propósitos. No entanto, vivenciamos valores volúveis e propósitos líquidos. O cidadão tem se estruturado assim e ainda impõe uma demanda por fidelização que extrapola os padrões estabelecidos pelas marcas, forçando-as a uma metamorfose incessante.

Um breve olhar sobre a paisagem e percebemos que as espécies são movidas pela busca. Players de mercado, ou influencers, então estudam o perfil destas buscas e oferecem alternativas de desejo que não são o objeto inicial da busca, mas são colocadas como o foco principal, transformando assim a busca, induzindo o mercado. Trata-se do aprofundam, então do agenda setting. Além de pautar as reflexões, interferir nas buscas e objeto de desejo.

A comunicação então deve estimular a convicção e não a repetição de mensagens e narrativas, mas sua multiplicação por absorção da mensagem e convicção do conteúdo. Neste processo, o lobby (que luta para ser devidamente regularizado) é uma estratégia de defesa transparente de temas chave na sociedade, assumindo um lado. Entretanto, o lobby tem sido depreciado em função dos maus lobistas. 

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) define o lobby como a comunicação oral ou escrita com uma autoridade pública para influenciar decisões políticas, administrativas e principalmente legislativas. Ampliando sua atuação na sociedade, o lobby é realizado pelas Relações Públicas, a partir da disseminação de narrativas setoriais.

Clientes então não podem ser vistos apenas como consumidores, mas sim cidadãos que se relacionam com mensagens e não com produtos ou objeto de resultados.


Pássaro verso
Pouso transcende
Voo ascende
Horizonte que dobra
O que ao vento passa
Beija a flor
Pássaro cor



segunda-feira, 13 de novembro de 2017

caixa


Esconda sua felicidade no seu sorriso. Não permita que toquem, que furtem ou que o soterrem.

Cambaleou e mesmo diante do contorcionismo para evitar a queda, sucumbiu. Tentei juntar os pedaços do cristal despedaçado e quanto mais tentava, mais me cortava. Os cortes, o sangue, as lágrimas. Varri então os cacos, acomodei-os em uma caixa. Identifiquei-a e a entreguei ao mercador dos cacos. 

Deixe ao tempo o que ao tempo designado é...

segunda-feira, 24 de julho de 2017

rastro



Chegamos a um tempo em que o diálogo harmonioso deu lugar a uma troca de agressões. Quem se faz mais cruel, quem mais fere, esse sai como vencedor do ambiente, torna-se o imponente; contudo não percebe que mata um pouco do outro. Mata um pouco do outro. E a parte morta muda o ser profundamente. Gira-se a roda.

Posso sentir seu peso sobre mim. Consigo pressentir seus passos atrás dos meus, seu peso sobre meus ombros, suas mãos em meu pescoço, sua risada ansiando minha derrocada. Ainda assim persisto. Ainda assim continuo vivo atrás das retinas lacrimejantes. Com a pele fustigada de tanta agressão, com a memória falha de uma mente sobrecarregada, com a visão turva, com a cabeça que raramente não está dormente; ainda vivo. A leitura em braile da pele vê nas rugas a marca de um tempo. Outrossim, mesmo com as pessoas tropeçando nas minhas palavras, não compreendendo meus gestos e usando o que sou contra mim, sigo vivo. Posso sentir o cheiro do seu egoísmo, sua vontade em dissecar-me tornando-me um troféu na estante dos réus. Todavia, insisto. Perpasso meus sonhos entremeio a realidade. Desvencilhando-me dos desfiladeiros das pessoas que querem que o mundo seja segundo suas regras. No respirar gero frutos. Parte de mim que espalhada em gestos, em palavras e pessoas, infecta a vida de um novo olhar, um aroma que traz paz.. 




domingo, 18 de junho de 2017

poça passo peço



A iminência de um passo. A gota formada desce pelo ar sem mira, sem esperança alguma, sem qualquer pensamento sobre passado presente e futuro. Sem preocupar-se com o estado em que se encontra, sem ao menos ter ciência de sua pureza. Cai, repousa na face de quem o céu observa na esperança de ser refrigerado, corpo e alma. Durante uma caminhada o automatismo mantém em movimento o corpo enquanto a mente se liberta para buscar soluções, rumos, tempo. “A falta de alternativas clarifica maravilhosamente a mente.(Henry Kissinger)". Uma mente clarificada, sem as névoas do dia a dia, permite perceber a vida, o ambiente ao derredor, de uma forma diferente. Entre as formas de tocar, a mais intensa é o olhar. Suas camadas, suas cores e seus versos. Não melhor ou pior, mas diferente. Seu doce vai além da formiga que chama ao vento.

Assim o tempo se embrenha no vento e dobra sobre os poros, escorre pelo olhar, mantém-se tempo, vento. O ruminar memórias de estrangeiros, os passos de Marco Polo revelando invisíveis curvas que dobram conceitos. O segredo das pisadas não está na direção. Se te escrevo me descrevo, me embrenho e ainda respiro.

Esse laço desfeito sobre nossas cabeças que solta-nos ao ar em uma queda onde a liberdade é o tormento de distanciar-se do que se deseja. Você não compreende o que é fazer da palavra um punho fechado a esmagar o coração no peito, comprimindo suas batidas, espremendo o que corre nas veias.
...

Plenamente belo, o beija-flor perpassa os fios do vento carregando em si o pólem da esperança, o sabor do verso de amor. Antes de pousar, o beijo, o momento delicado de reverter a física a favor de um instante. Meu olhar encontrou repouso no seu voo. Os ambientes passavam e entravam dentro de mim.

domingo, 7 de maio de 2017

O Poder do contra






Regimes Democráticos contemporâneos e a iminência da ruptura

O retrato social revela um comportamento popular que exemplifica as interferências sociais do sistema político vigente. A sociedade leiloa seus direitos a poderes e representantes que mais empatia geram. Legislativo, executivo e judiciário estão repletos de protagonistas que defendem um projeto político que manipula a população em função das facilidades de sempre: aumento e garantia de poder aquisitivo. Uma reforma do sistema político deve partir do rompimento deste paradigma: o das facilidades e das riquezas. Quando o fazer política, uma vocação natural humana, deixar de ser um negócio, quando passar a reunir a sociedade de forma que ela possa compreender as ferramentas que possui para forjar um novo sistema que vá além dos precedentes.

Desta feita, é máster promover uma releitura de como o pensamento político e visão da sociedade percorreu a história e estruturação dos regimes que organizam e regem a sociedade além das gerações. Mas o que possibilita o pensamento de que o sistema político vigente precisa de uma ruptura e sucessão? O trânsito livre pelo mercado integrado pela acessibilidade da globalização revolucionou as concepções de liberdade e desenvolvimento, diálogos culturais, mas também acentuou as mazelas do indivíduo, expondo fragilidades.

Forjada nas frustrações sociais, a democracia foi usada como brasão de um sistema de ordem social. “A crença democrática é a crença no homem comum… é a crença na capacidade de todas as pessoas para dirigir sua própria vida”. DEWEY (1939). Concebida como o governo do povo, a democracia foi disseminada para todos como um mecanismo para todos, mas suas especificidades não eram expostas. Desde a Grécia antiga, passando por suas diversas releituras, a democracia embutia em sua operacionalização a exclusão do próprio povo, pela seleção das vozes interferentes do que vem a ser a ideologia democrática. Se conceitualmente povo representava uma sociedade de homens livres e de direitos iguais, na prática, essa concepção de povo se referia ao povo controlado, mas o povo interventor nas políticas públicas não tinha a voz de mulheres, escravos, e jovens menores de 18 anos.

Assim, podia-se dizer que o sistema político ateniense era constituído por homens livres selecionados, pois uma triagem era realizada para definir quem pertence como interventor no referido sistema. A esfera pública então, não representa o povo em sua totalidade, mas o controla sob o argumento de representar a voz popular.

A esfera pública pode ser descrita como uma rede adequada para a comunicação de conteúdos, tomadas de posição e opiniões; nela os fluxos comunicacionais são filtrados e sintetizados, a ponto de se condensarem em opiniões públicas enfeixadas em temas específicos. Do mesmo modo que o mundo da vida tomado globalmente, a esfera pública se reproduz através do agir comunicativo, implicando apenas o domínio de uma linguagem natural; ela está em sintonia com a compreensibilidade geral da prática comunicativa cotidiana. (HABERMAS, 2003: 92).

Assim, é possível também perceber que a opinião pública não representa a representação popular, da sociedade, mas sim a manifestação da vontade de um grupo dominante que se impõe como consenso, como opinião da massa.

"Uma das dimensões muito importantes da teatralização é a teatralização do interesse pelo interesse geral; é a teatralização da convicção do interesse pelo universal, do desinteresse do homem político – teatralização da fé no padre, da convição do homem político, de sua confiança naquilo que faz. Se a teatralização da convicção faz parte das condições tácitas do exercício da profissão de clérigo – se um professor de filosofia deve parecer acreditar na filosofia -, é porque é a homenagem fundamental do personagem oficial para com a autoridade; é aquilo que precisa conceder à autoridade para ser uma autoridade, para ser um verdadeiro personagem oficial. O desinteresse não é uma virtude secundária: é a virtude política de todos os mandatários. As escapadelas dos padres, os escândalos políticos são o colapso dessa espécie de fé política na qual todos estão de má-fé, a fé sendo uma espécie de má-fé coletiva, no sentido sartriano: um jogo no qual todos mentem a si mesmos e aos outros, sabendo que os outros também mentem a si mesmos". (Bourdieu 2012)

Durante muito tempo o modo de controle popular, de subjugar a opinião pública, pela castração do direito de participar do processo decisório. A observação quanto aos argumentos de Bobbio (2000) quanto a democracia, o controle e legitimação do controle introspectados nela evoca uma reflexão além de paradigmas. A massa tem força para intervir, mas não tem união e direcionamento. Sua voz é forte, mas seus argumentos não tem continuidade.

O poder de intervenção da massa está na sua expansão territorial, envolvimento nas diversas camadas produtivas da sociedade e pelo seu quantitativo em grupo. Se cada indivíduo estiver alinhando e com a cultura de mudança e participação política como principio introjetado em sua constituição pessoal, quando em grupo ele se comportará de maneira alinhada aos demais e assim propiciará a construção de um consenso, de uma multifacetada voz de intervenção política e social.

Bobbio em sua obra discorre sobre os aspectos que orquestraram a dissolução da sociedade orgânica em prol de ideologias individualistas de sociedade, baseadas na sobreposição de poderes e supressão de direitos. O contratualismo, e sua hipótese de estado de natureza, na qual o povo deveria aceitar soberanos naturais em acordo para reger a sociedade rumo a vida e liberdade remete às defesas de argumento de Hitler na estruturação e seu governo. Soma-se a isso a economia política e sus visão do indivíduo singular como membro ativo (economicamente) e a filosofia utilitarista considerando estados essencialmente individuais.

Neste cenário, a democracia então propiciou o surgimento do liberalismo. Se um defende a voz e participação política do povo, o outro defende as liberdades individuais, e especialmente a liberdade econômica. O Estado era visto como um personagem a parte no mercado, dessa forma nasceu uma sociedade industrial capitalista, focada na conquista de mercado para alimentar liberdades individuais e potencializar o consumo dos sujeitos como alimento para o mercado e sistema de produção.

Em uma sociedade liberal, onde as decisões por meio de práticas democráticas previam deliberação pela votação de agentes racionais. A valorização do coletivo era modulada pela aceitação do poder decisório da maioria sobre a minoria. Então, a soberania popular foi compreendida como verdade com a instituição do sufrágio universal a partir do século XIX. No entanto, a liberdade do voto era cerceada pelos interesses políticos e econômicos do grupo dominante do sistema vigente. A democracia como o consenso a partir de tradições e nacionalismo, o liberalismo como a constante quebra de paradigmas em prol das liberdades individuais, mesmo que isso represente suprimir os direitos de um grupo menor.

... o que distingue um sistema democrático dos sistemas não-democráticos é um conjunto de regras do jogo. Mais precisamente, o que distingue um sistema democrático não é apenas o fato de possuir as suas regras do jogo (todo sistema as tem, mais ou menos claras, mais ou menos complexas), mas sobretudo o fato de que estas regras, amadurecidas ao longo de séculos de provas e contraprovas, são muito mais elaboradas do que as regras de outros sistemas e encontram-se hoje, quase por toda parte (BOBBIO, 2000, p. 77-78).

As democracias modernas então, para subsistir, dependem da limitação da maioria; procedimentos eleitorais com fluxos definidos; transmissão do poder dos representantes em um processo complexo e fechado. O desafio da operacionalização de um sistema democrático não está apenas na definição e garantia dos fluxos, mas sobretudo, na conquista da credibilidade e confiança junto à sociedade. A população deve estar convencida de que o processo vigente é o mais eficiente e confiável possível para definição do poder representativo e constituição de políticas públicas.

Sabemos por experiência própria que no momento mesmo em que a democracia se expande ela corre o risco de se corromper, já que se encontra continuamente diante de obstáculos não previstos que precisam ser superados sem que se altere a sua própria natureza, e está obrigada a se adaptar continuamente à invenção de novos meios de comunicação e de formação da opinião pública, que podem ser usados tanto para infundir-lhe nova vida quanto para entorpecê-la (BOBBIO, 2000, p. 17).

Na constituição de um regime democrático, a oposição precisa não ser morna, mas oscilar entre o ser “fria” e ser “quente” para assim justificar as transições e até mesmo reforçar regimes. Neste mesmo cenário, a miséria e a apatia da sociedade devem ser controladas para garantir que o regime político flua sem grandes obstáculos e ruína. Percebe-se então que a desigualdade deve sempre existir, mas nunca em demasia ou escassez, tendo um pluralismo subcultural baixo como mecanismo de participação política.
As nações em que o método democrático supracitado mais ocorrem são as grandes nações industriais. Neste sentido, para favorecer esta estrutura precis de alguns aspectos tais como: Grupo dominante (mateil humano da política de alta qualidade); limitar o centro de decisões; formalizar os fluxos em uma burocracia tradicional, bem treinada; Controle e aceitação dos limites democráticos. Ou seja, o controle da participação e da aceitação é primordial para a perenidade do sistema.

Acredito, e já o disse muitas vezes, que não deve o sapateiro ir além do sapato. Não creio em versatilidade. Recorro ao sapateiro quando quero sapatos e não ideias. Creio que o governo deve caber àqueles que sabem, e os outros devem, para seu próprio bem, seguir suas recomendações, tal como seguem as do médico (STONE: 1998)

Schumpeter apresenta uma perspectiva que corrobora com o pensamento de que no socialismo a produção e distribuição de bens e serviços atenderia as necessidades autênticas da população. Sem considerar as nuances do capitalismo que renovariam o mercado e o potencial de cada indivíduo em empreender e rever as relações de trabalho e produção (ex: tecnologias e livre mercado), Schumpeter via uma transição do capitalismo para o socialismo como algo necessário para sanar as mazelas sociais. Contudo, a burguesia sempre temeu a ascensão dos pobres e por isso sempre teve nas restrições do sufrágio um mecanismo de defesa.

No terceiro milênio, a esquerda entrou em colapso ao não conseguir se estruturar de forma a coexistir com o capitalismo, uma vez que as interferências e interdependências financeiras e das relações comerciais conflitam o pensamento de esquerda no que concerne a democracia e desenvolvimento.

O capitalismo de forma natural suprimiu a democracia liberal, que defendia a liberdade do indivíduo e sua interação e voz enquanto povo. Entretanto, o pleito pela igualdade no acesso a recursos (bens e serviços) cada vez mais crescente não tem ganhado espaço no centro decisório, uma vez que a opinião pública castrada não consegue se estabelecer coo interlocutor de um contexto social pujante, na iminência de mudança, em face de ruptura com o sistema vigente. Assim as manifestações sociais ganham mais força e recorrência, pois se instalam no contexto social como uma terceira vertente entre a narrativa do poder e a narrativa da suposta opinião pública.

A democracia é o poder do contra. É o fluxo alternado das decisões padronizadas pelo grupo dominante. O voto censitário, o sufrágio universal; tentativas de encontrar um modo de viabilizar a materialização de conceitos e práticas de uma política que viabilize a sociedade de forma organizada e aprazível para todos. O Estado alternou suas formatações de patrimonial, absolutista, e de direito ao longo das gerações, adequando-se à nova dinâmica de uso e ocupação territorial, com os movimentos populares sendo imponderados. Os Estados atuais intercalam entre democracia clássica, democracia progressista ou socialista e autoritário. Enquanto os democráticos possuem sistemas parlamentarista, presidencialista e de assembleia, os autoritários se baseiam em cesarismo, ditadura e o poder individualizado.

Os autoritários defendem a ideologia de um grupo dominante, representada pelas vontades de uma liderança, enquanto os regimes democráticos deverias estar focados na realização da pessoa humana, na satisfação do indivíduo visto como comum (destituído de poderes interventores no grupo dominante da sociedade).

Todavia, é relevante para a compreensão da coexistência dos diversos sistemas políticos e regimes a licença social. A aceitação da massa quanto ao que lhe é imposto. Aceitam o sistema, mas não necessariamente as ideias isoladas e demais deliberações. A alienação controlada nos sistemas autoritários faz com que o indivíduo tenha a limitada sensação de liberdade em busca da satisfação pessoal (para atingir seus fins da maneira que desejarem sem que esses fins interfiram na dimensão política) e se sinta um cidadão capaz de contribuir na organização e desenvolvimento da sociedade.

Stork e Echevarría tratam da liberdade social como algo "em que os ideais possam ser vividos, e que toda pessoa tenha em suas mãos, a possibilidade de realizar suas metas". Nesta linha, Kant aborda a liberdade como o direito do indivíduo de dar próprias regras e moral à vida, e não apenas exercer vontades. Trata-se de algo construído, o livre arbítrio. Sartre a vê como condição natural do ser humano, manifestado pela vontade. Marx a vê como atributo dos indivíduos em relação aos bens materiais e serviços. Tantas outras são as leituras do que vem a ser liberdade e qual a liberdade ideal e qual a almejada pela sociedade.

A liberdade como premissa de ser “mestre de si mesmo” não pode existir com os padrões de organização social contemporâneos. Uma estrutura de vanguarda seria necessária, pois ao observarmos o Estado Liberal de Direito, com a democracia clássica (estruturada no sufrágio universal / equilíbrio de poder / pluralismo partidário / autogoverno locais / supremacia da lei) e a atual configuração de conflitos sociais, percebe-se seu colapso.

A estabilidade social não está ligada à estabilidade política, uma vez que percebemos que a configuração social segmentou suas expectativas e confiança do sistema político. Desta forma, um processo de entropia está instalado na sociedade, de forma que os conceitos como democracia e liberdade perderam sua força social e tornaram-se bandeira de movimentos e manifestações.

A trajetória de tentativas e erros da comunidade primitiva, escravidão, feudalismo, capitalismo, socialismo mostra uma busca do ser humano por harmonia, paz, perenidade, personalidade, conforto, subsistência, igualdade e liberdade. Não há mais espaço para sistemas amparados em violência e força como imposição social e argumentação política (Facismo). A pseudodemocracia garantiu ascensão política de ideologias e indivíduos que afetaram a psique social de forma fazer emergir guerras como instrumentos de harmonização da comunidade local, nacional e mundial.

Os conflitos passaram a ser concebidos como instrumento de resolução de controvérsias sociais e interesses divergentes. Seja na escala local, com manifestações de classes, ao invés do diálogo instituído, seja pelas guerras civis, crimes organizados, guerras entre nações.

O retrato social reforça o quanto estão obsoletos os sistemas percorridos, e evoca uma mudança, sem receitas, sem caminhos, apenas rumos. As decisões políticas e ideologias não podem mais serem tratadas com ortodoxia, como dogmas da organização social. 

REFERÊNCIAS

BOBBIO, Norberto. (2000). O futuro da democracia. Trad. Marco Aurélio Nogueira. 9ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
BOURDIEU, Pierre. Fonte: Le Monde Diplomatique – Il manifesto, via micromega Janeiro de 2012 / Tradução: Mario S. Mieli
Cf. Stone, I, F. (1988). O julgamento de Sócrates. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
Cf. Dewey, John (1939). “Creative Democracy: the task before us” in The Essential Dewey: Vol. 1 – Pragmatism, Education, Democracy. Indianapolis: Indiana University Press, 1998.
HABERMAS, J. Mudança estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma categoria da sociedade burguesa. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,1984.

SCHUMPETER, J. Capitalismo, socialismo, democracia. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961. pp. 305-366.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

tato

Lanço-me
leitura em braile
as ranhuras de teus lábios
com a língua.

Delineio teu corpo
com a boca,
aquecer teus vales
fazer florir orquídeas
exalar o perfume dos lírios
entrelaçar palavras
formando frases multifacetadas
de uma mesma narrativa

desenhar uma paisagem leve
sonhos encaixados à realidade
contemplação e tempo
que passa e leva-nos
nus
sós


...

terça-feira, 12 de abril de 2016

sensações

O vento sempre passa mais perto de você. Sorrateiro, ele conhece bem o encanto de suas curvas. A superfície de sua pele evoca o toque das mãos, os passos intensamente delicados dos lábios até chegar  aos teus. Suas palavras bem encaixadas, suas emoções encaixotadas, seus pensamentos distantes, perpassando entre os dedos de tantos, como borboletas em voo. Abstenho-me de conseguir qualquer feito que seja mais que seu sorriso, pois seu sorriso espontâneo revela a narrativa de seu corpo, de sua mente, de seu coração, diante dos encantos que a você são destinados. Fazer fluir seus sorrisos de uma boa palavra, uma bela flor, um verdadeiro gozo, um sabor especial, uma brisa, um caminhar de mãos dadas, um contemplar o luar compartilhado, o vislumbre do horizonte em tempos difíceis.

Vejo o pôr do sol. Sinto aquecer meu rosto. Fecho os olhos e imagino você ali. O corpo dobra sobre o móvel como uma flor se abre para o sol à medida em que a luz toca suas pétalas, ainda úmidas do orvalho. O momento marca profundamente sensações que acompanharão por toda a vida.

Os ponteiros espremem os passos. Você distraída em suas leituras desconexas, em suas notas de rodapé indecifráveis. Eu. Sentado à mesa para mais uma refeição. Para mais um momento a sós com minhas cicatrizes. Apenas quando olho no espelho vislumbro minha casa... Mas já nela não entro. Não sou bem-vindo. A língua livre. O corte de cada alimento, aumentando os pedaços, diminuindo nos tamanhos. A textura de cada fibra, o sabor de cada combinação. Bom mesmo é quando os abraços misturam os poros, mesclam os cheiros formulando um novo perfume. os lábios tocando seu rosto como um anúncio de querer mais. Os braços que apertam você como se não soltaria jamais, como se fosse o abraço da despedida, ou do reencontro. Quando acabar, lembre-se sempre de apagar as mensagens de seus poros, de sua memória, de seu futuro. Entretanto os ponteiros podem sucumbir aos passos e o futuro pode se tornar tão presente e tão forte.

Disse, mas não me deu ouvidos. Repito e não me deu um olhar. Fere-se a terra para colocar a semente. Decepa-se o caule para fazer a flor despertar um sorriso, estancar um choro. Deus criou um jardim e entregou uma flor para cada coração. Quem recebesse deveria cuidar, amar e valorizar. Alguns corações vislumbram a encantadora  flor que não receberam. De longe, tentam cuidar, amam e valorizam...

Ah, seu olhar transforma tudo o que toca, com cor e vida, tornando a paisagem um lugar mais aprazível, e o horizonte um mar de possibilidades.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

espaços sentidos



A intensidade dos fluxos contemporâneos evoca reflexão. Metal, plástico, palavras e concreto armado sobre cabeças, sob pés. Recursos humanos e naturais na luta por um futuro aprazível. Cidades atrofiadas, campos mal utilizados. A sociedade tropeça em sua essência na busca por uma sustentável leveza de ser.

Pensar o querer geral e ser racional de Immanuel Kant e também perceber a relação dos seres com os espaços a partir do interesse e suas vertentes diversas. Os indivíduos com objetivos específicos, interesses pessoais se tornam seres sociais. Os seres sociais buscam estabelecer um ordenamento embasado no interesse coletivo. Todavia, o interesse coletivo é por muitas vezes uma roupagem aceitável do Interesse Dominante. Ou seja, um indivíduo articula seu interesse pessoal de forma a viabilizá-lo como o interesse de um ser social com potencial de se transformar em interesse coletivo. Por persuasão, submissão ou identificação para alcançar fins pessoais, outros seres sociais tornam-se adeptos do interesse proposto tornando-o Coletivo. Quando analisado em profundidade, este interesse nada mais é do que o interesse dominante não de um grupo, mas de um ser com poder articulador às vezes imperceptível em sua ação, mas evidente em suas consequências.

O significado de um espaço vai além de sua finalidade. O que um espaço representa para o grupo social e para um indivíduo diz menos sobre a estrutura e mais sobre quem com ele se relaciona. Inspiramos e expiramos sentimentos e sentidos, atribuindo significado às pessoas e espaços com os quais nos relacionamos com o passar do tempo. Neste sentido, quando passamos novamente por um local, é como se passássemos os olhos em um hipertexto construído essencialmente com partes de nós. Os links (de nossas experiências, mecânicas, orgânicas, superficiais ou não com aquele lugar) despertam novos olhares ou antigas sensações. Para isso, o tempo é quem determina o grau de envolvimento no momento da releitura dos espaços. Tempo de exposição, tempo de disponibilidade, tempo da lembrança e da memória. E a maneira como acessamos esses links interfere na dinâmica constituição do nosso caráter e na determinação das escolhas do presente.

A partir deste olhar, podemos conceber os espaços também como organismos vivos, erguidos e sustentados na multiplicidade de ser. A relação com ele vai além da simplicidade de definir se é público ou privado. Na dimensão de nosso relacionamento com ele, ora concebemos o espaço como privado (nossas percepções, sentidos, interesses e significados) e como público (finalidade operacional, interesse coletivo ou estrutural do local). Um local carrega em si apenas sua matéria estrutural ou também guarda os significados que os indivíduos a ele atribuem? Os significados estão em nós e são disseminados pela linguagem que utilizamos para representar os espaços? Refletir sobre esses aspectos pode contribuir para uma madura percepção dos indivíduos quanto à organização social, bem como a construção, uso e ocupação dos espaços. Trata-se de um vislumbre de um horizonte onde existam comportamentos além de La Belle Verte (filme de Coline Serreau - 1996). Talvez dessa forma, a famigerada sustentabilidade possa deixar de ser discurso e se consolidar como um retrato da vanguarda. Esta última materializada a partir de um novo olhar sobre organização espacial e suas possibilidades diante da demanda humana por subsistir e evoluir.

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© obvious: http://obviousmag.org/rumos/2015/10/espacos-sentidos.html#ixzz3pn4Xey00

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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

caminhar na névoa


No processo de criação de narrativas, precisamos ter cuidado para não nos perder entre a ânsia de repetir discursos implementando impressões pessoais e a necessidade de alcançar a vanguarda, cativar um público que o reconheça como narrador.

Histórias (inventadas ou não) estão postas no cotidiano. Entretanto, é preciso conhecer os aspectos que envolvem a narrativa; além do famigerado contexto, as características de cada indivíduo em ouvir, contar e registar histórias passam pelo prisma da percepção, compreensão e respeito.

Relacionamo-nos não com as pessoas (em si), mas com as representações que elas fazem de si e as representações que a sociedade reflete sobre elas (pessoas). Contudo, há um encantamento que proporciona intensidade à relação, gerando desdobramentos que vão além das representações; esvaem-se em outras narrativas.

Conviver com o humano; viver; é caminhar na névoa. Adoro caminhar na névoa. A distância impossibilita prever acontecimentos, apenas conseguimos vislumbrar nuances do porvir. Enquanto se adentra à névoa, naquele espaço perto de você ela quase que se desfaz ao te envolver. Você se torna névoa para os outros, você se torna  mais um no meio dela.

A multiplicidade tão temida pelos conservadores, e por quem tem dificuldade em lidar com o que é diferente (não necessariamente novo) é o diferencial para sobrevivência e sucesso de mercados, organizações e da sociedade. Conceber que o ambiente é multifacetado e composto pela diversidade é fundamental para construir narrativas acessíveis, transparentes e efetivas no objetivo da mensagem elaborada.

Neste sentido, caminhar na névoa é um necessário exercício constante, que perpassa o processo de autoconhecimento, percepção do outro, compreensão do ambiente e concepção de mensagens.


 

terça-feira, 31 de março de 2015

Novas (?) Narrativas Jornalísticas


Ilustração: Ramon Bruin
Não sei se nova é a narrativa, a linguagem jornalística, o olhar, ou ainda assim o tempo. Antes o ideal era a câmera não tremer e as frases serem bem concatenadas. Agora tentam vender realidade viva. Algo que pulsa incontrolavelmente. Tanta espontaneidade que chega a parecer um espetáculo de dança contemporânea. O imprevisível é parte do enredo, está no script do espetáculo midiático.
A inquietação é premissa para a evolução. Nesse sentido, os programas de TV têm buscado inovar na maneira de narrar e de fidelizar o público. Seja por meio dos milhares de “cozinha com fulano” que tentam sofisticar, naturalizar, ou tornar rústico o ato de preparar alimentos e se relacionar com eles; ou nos programas de esporte que tentar levar adrenalina aos pilotos de tablets e controles remotos, lembrando até da metalinguagem de programas como A Liga e Profissão repórter. A linha entre o interessante, eficaz e o cansativo é tênue. É preciso destreza para caminhar sobre ela.
Dentre as várias tentativas, algumas são bem interessantes (mas não inovadoras). O Mundo segundo os Brasileiros, produção independente (produtora holandesa/argentina - Eyeworks) disponível em canal no Youtube e transmitido pela Rede Bandeirantes, há 5 temporadas (desde 2011) apresenta a narrativa pelo viés de quem vive o espaço e transmite a própria impressão a respeito do lugar, do tempo, da história, das referências.

Um texto praticamente documental estilo história oral, aquela conversa informal de quem quer contar suas experiências em um novo território. Trata-se se um formato sem protagonistas fixos; alterna-se os narradores, guiando com a câmera, nos contando histórias oficiais e impressões de estrangeiros andarilhos. Baseada no original argentino Clase turista: el mundo  según los argentinos, a série é dinâmica e perpassa desde os principais pontos turísticos a pontos pouco conhecidos do globo.
Cidades invisíveis erguem-se à medida que significados são repassados ao espectador. Forçando um pouco as vistas, dá para imaginar o Marco Polo contemporâneo revelando as nuances das cidades, ou o estrangeiro de Camus andando pelo mundo, contaminando-o e sendo contaminado por ele. E como brasileiro é um povo espalhado pelo planeta, matéria-prima não falta ao programa.
Iniciativas assim precisam se alastrar pela TV aberta, mas essencialmente necessitam estar alinhadas com o conteúdo multimídia, considerando o comportamento de consumo de informação e a disponibilidade dos meios; expandindo assim a acessibilidade ao conteúdo, novos campos para reflexão e seu desdobramento.

Publicado também no Observatório da Imprensa
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed844_novas_()_narrativas_jornalisticas

terça-feira, 1 de abril de 2014

Dois pontos





A exclusão é premissa da organização das pessoas em sociedade. Aspectos como "fatores socioambientais", "comportamento por prazer" e "comportamento por sobrevivência" são estruturais. Quando um grupo se reúne e estabelece critérios de convivência, tem por objetivo excluir "algo" para assim garantir a permanência e manutenção dos valores dominantes dos proponentes da ordem social ou dos possuidores articulados dos recursos básicos que viabilizam a vida em sociedade.

Compreender este processo é perceber quão complexo é o sistema e quão sutis são as ações que podem causar mudanças. O estandarte da educação, saúde e segurança funciona como uma vitrine ambulante que resume as linhas de atuação. Embora seja secular o conhecimento, a exibição e o repasse deste estandarte por todos os segmentos sociais, as demandas estão petrificadas. Ações desconexas brilham como faíscas de possibilidades (ex: trabalhos como os da Associação do Semi-Árido, produtores de alimentos orgânicos, grupos culturais, câmaras mirins de vereadores, Jovens Inventores, etc), mas não penetram no cerne da organização social, menos ainda causam as mudanças esperadas. A evolução da consciência crítica existe, no entanto, o sistema de relevância dos meios de comunicação interfere incisivamente no índice de reconhecimento de um indivíduo ou causa.

A organização social não possui um cerne? As ações incipientes precisam de maturação para se embrenhar no consciente coletivo, consolidar um automatismo sustentável e se estabelecer como aspecto de "comportamento por prazer, ou comportamento por sobrevivência"?

O exercício contínuo das ações dos indivíduos estabelece as intocáveis tradições. A família poder ser analisada como uma célula social. Refletir sobre o processo de construção dos valores é fundamental para realizar qualquer reforma (política, social, religiosa, agrária, moral). Se pensar que a sociedade não é um bloco fechado, mas permeável, entendo-a como uma narrativa, restrinjo-a em um texto. Todavia, não há um cerne, uma palavra "pedra fundamental", um código fonte para mudar o todo por reação em cadeia. Acredito que neste contexto, o cerne está no canto de uma frase, especificamente nos dois pontos.


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Garimpar [narrativas e relações]


O que te globaliza te identifica? Sem a interrogação ou com uma resposta completa? Que cenário você integra diante da desconstrução do indivíduo dentro da fôrma do ser social? Sua fé, seu modo de interpretar os fatos, a maneira como você opera o egoísmo, o sistema de relevância e a metáfora do copo d'água. Beba! A multiplicidade é o paradoxo contemporâneo. A vanguarda é ser simples. Ponto de Vista?

As narrativas midiáticas e as relações sociais construídas deleitaram-se do conforto e das potencialidades da multiplicidade. Entretanto, todos tornaram-se vítimas daquilo que as alimenta (euforia, inquietação, diversidade e imediatismo). Depressão, estresse, violência e choro. Linguagem atrofiada nas narrativas, clichês ineficazes nas relações interpessoais. Não se trata de uma gueda de braço, mas mãos dadas.

Acostumamos ao ritmo da vida em resumos. Resumo de livros, de filmes, de amizades, de coito, de notícias, da conversa à mesa, de análises, de sonhos e transformação. O dar conta é o novo mito, acima da objetividade. Dar conta de tudo talvez seja compreender e exalar que somos ineficientes para "dar conta" de tudo.

A segmentação de narrativas e o envolvimento do público com especificidades é uma alternativa dentre tantas. Tantas? Não apenas as plataformas de negócio mudaram. O processo de construção da identidade do indivíduo ganhou outros elementos constituintes, com a modernização do ser social. Desse modo, "conhecer" tornou-se ouro sob nossos pés. Como garimpar? Como acessar? Como conhecer? E fazer o quê depois? Perguntar impulsiona, perguntar é fácil. Desafio é viver as respostas, conclusivas ou não.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Valor às marcas


O desejo de ser referência para a opinião pública está mais atrelado a uma busca por lucro e controle de mercado do que prestação de serviço à vida. Diante das mudanças bruscas das últimas décadas, o poder e valor das marcas já não pode ser trabalhado como um anúncio, uma placa, um nome gritado aos quatro cantos do esférico mundo.

A regionalização das narrativas, em linguagens e temas tem sido a estratégia padrão para integrar os consumidores e fidelizar o novo cidadão digital. O modelo de construção das marcas ultrapassa os espaços publicitários, e alastra-se pelo espaço editorial, pelo espaço físico das cidades e pela manifestação cultural. É necessário conhecer a natureza do resultado a que se propõe obter. O valor a ser construído depende dos parâmetros que constituem a cultura da organização.

Seja a partir das sucursais (muitas em extinção); seja os grandes meios de comunicação com uma gestão integrada de afiliados (Globo com 29 grupos de comunicação e 122 emissoras – sendo 117 afiliadas); seja nas empresas com um corporativismo velado sob a tutela dos conceitos-produtos: Responsabilidade social, Qualidade de Vida e Sustentabilidade. Todas as frentes de comunicação anseiam tocar o público, controlá-lo, saciar as vontades que os próprios meios criam. Mas como se posicionar diante dessa massa?

Os gestores, com raiz no modelo antigo de administração, são resistentes a assumirem a transparência como virtude. Eles a consideram um risco, uma ameaça à saúde do negócio. Dessa forma, cerceiam a liberdade dos profissionais de comunicação (dentro ou fora das redações) como um indivíduo pensante. São poucas as empresas e áreas de comunicação que sustentam uma postura transparente e sóbria na construção de discursos, práticas e relacionamentos. A marca (seja de uma indústria ou de um veículo de comunicação) deve ir além do símbolo, precisa representar um valor, um caráter perceptível nas práticas.

A integração de serviços e a livre escolha são estandartes do mundo contemporâneo. O indivíduo precisa sentir liberdade para consumir informação e o acesso deve ser resultado de uma fórmula cruel, onde a instantaneidade deve estar disponível em multiplataformas a um custo baixo [ o que muitas vezes desconsidera o valor de produção e do produto].

TV, jornal, rádio, tudo na palma da mão. O smartphone dita o ritmo de vida moderno. O rádio foi então revitalizado pelo twitter, os jornais pelo facebook e a TV pelos portais de convergência de conteúdo. A maneira como a Rádio CBN e a Itatiaia utilizam o twitter para alinhar e expandir a programação, provocar interatividade e prestação de serviços tem dado fôlego ao fazer jornalismo. O mesmo acontece com as fanpages dos jornais. As notícias provocam diálogo direto com os leitores e aponta caminhos possíveis para aprofundar nos temas veiculados. Muitos têm aprendido a trabalhar tendo a interferência do público como instrumento do processo narrativo.

O turbilhão do padrão de absorção das novas gerações é um dos desafios do atual modelo de consolidação de marcas por meio de ações de comunicação. A cultura de timeline impera. F5 é o piercing na língua da juventude. Engajar todos na cadeia de produção e absorção de conteúdo é algo inevitável.

Engajar o empregado/consumidor é dar poder a ele. Isso é um paradoxo da gestão atrofiada que não percebe os benefícios do equilíbrio entre autonomia e arbitrariedade. Para que as organizações, midiáticas ou não, obtenham representatividade perante o público é preciso trabalhar à sombra da confiança e não hesitar para mantê-la intacta. A ruptura da confiança reinicia todo o processo de sedução do outro, trincando as marcas. Enfim, o processo de comunicação está cada vez mais vulnerável, pois embora tenha suas premissas básicas (tal qual leis da física) sua instabilidade despertou como um vulcão acordado. No desconforto procura-se por referência. É fundamental refletirmos a respeito de qual valor há nas marcas que espalhamos ao vento, para não sermos fustigados pelo que sair do vulcão que criamos.

Publicado também o Observatório da Imprensa  http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed690_o_valor_das_marcas

sábado, 3 de março de 2012

o sabor da linguagem


Enquanto no escurinho há teatro e cinema, e à mesa (e aos olhos) repousam orgias gastronômicas, sem reservas, respira-se entremeio aos fluxos urbanos. Dentre As mais fortes, o bufão. Não o filho do demônio, mas o riso grotesco, as entranhas do homem expostas numa risada. O espelho que anda diante de nossas palavras reflete nossos pensamentos. Encenar a espontaneidade é respirar. O processo de formação de público, estimulado pelas campanhas de popularização do teatro e da dança colherão frutos a longo prazo. Todavia, a iniciativa deveria contaminar também as salas de cinemas, com estratégia de exibição de filmes "não comerciais" seja ficção, documentário, curta, média ou longa metragem.

Frustração é consequência de visão limitada [embebida em paixão], entendimento raso. Diante dos desafios, o talento traz a confiança, mas apenas a sabedoria a mantém. Apesar de tudo o que cansa no humano, os poros escondem mais do que pelos; o suspiro e as palavras muito mais do que significados.

A felicidade está em encontrar a plenitude da vida no gerúndio, no significante. Chocolates e olhares. A amargura o distingue, realça a ternura de seu sabor, delineia o espanto, o medo de se envolver; a vontade e a energia. Tudo em uma mordida silenciosa, seguida de uma intensa e vagarosa dança da língua. Amelie ou Angelique. Poulain ou Delange.

O som de degustar um chocolate. Caminhar na chuva emotivamente anônimo meia noite em paris; texas. Inocente, ingênuo e intenso, o amor se faz em um chocolate e impregna-nos ao se desfazer na língua.


Entre o que nos faz humanos e o que nos faz palavras, o picadeiro pós-moderno: a cidade
O circo é o palhaço. "O gato bebe leite, o rato come queijo. E você?"


terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O gineceu e a desinformação do sustentável



No simples gesto de folhear a realidade percebemos que milhões ($) transitam diante e além de nossos olhos. Entre os interesses da massa e as necessidades e anseios individuais, os eletrocidadãos mobiles perambulam entre as novelas midiáticas da famigerada vida real.

A polêmica política de integração nacional familiar pernambucana de Bezerra; a proposta de aumento exorbitante (61%) dos salários dos vereadores de Belo Horizonte (MG); as desgraças do período pós-chuva a atingir 3 milhões de pessoas nos municípios mineiros e os 3 milhões atingidos pela seca no sul do país; o ENEM e os erros do sistema educacional (e o Prouni comemora que desde sua criação, em 2004, já concedeu quase um milhão de bolsas de estudos em cursos de graduação – e esse ano arrebentou em inscrições; mais de 1,2 milhão – Qualidade versus Acesso), tudo se renova do mesmo. Etanol, café e suco de laranja pelos ares.

A esperança está na sensação que alguns veículos conseguem provocar com suas matérias, ao apontar incoerências e soluções, e transmitir a ideia de que algo está sendo feito. Nem que esse algo seja apenas barulho.

Fato curioso não é a mídia estacionar as pautas nos trending topics, mas é a matéria da Folha de São Paulo Online no dia 12/1, em uma matéria sobre o MinistroBezerra, utilizar o jornal O Estado de São Paulo como fonte ao falar sobre os dados da ONG Contas Abertas. Costume cada vez mais presenta na mídia.

Mino Carta e Thomaz Souto Corrêa (na última edição da Revista Imprensa) declararam que a qualidade do jornalismo brasileiro tem caído continuamente.

A mídia impressa há tempos é usada como registro histórico de uma era. Uma versão equivocada, ou narrativa mal construída pode comprometer o registro e a interpretação das gerações futuras ao revisarem a história social. O que intriga atualmente, é que alguns veículos não consideram esse fato e tornam-se panfletos que sujam nossos dedos de tinta ou cansam nossos olhos à tela.

Um eficiente sistema de controle, a desinformação justifica dentre outras coisas a censura rebatizada de SOPA e PIPA, mesmo Obama alegando veto. Atualmente, conteúdo público e privado depende muito mais dos interesses do gestor ou autor, do que da natureza do produto. Quando têm o interesse de disseminar em massa algo novo, tratam como conteúdo público e gratuito; todavia, quando esse algo já está consolidado, querer ganhar dinheiro com o acesso, tornam o produto privado. O padrão de precificação de conteúdo do Itunes (pelo menos para música e apps) apresenta-se como alternativa, mas ainda muito ineficiente. A interação em web aponta a substituição do download pelo streaming.

A desinformação é uma arma estratégica. Ela enaltece e afunda partidos políticos, obras públicas, iniciativa privada, conceitos e ideologias; funda religiões, corrompe a relação do homem com Deus e contribui para o espetáculo da soberba e fúria contemporânea, onde a modernidade se faz arcaica e humanidade confunde-se com individualismo.

Cada vez mais distante do que deveria e precisaria se tornar, o homem se enobrece, alimentando-se de sonhos, silício, cidades e jardins resignados a vasos no quintal de concreto.

Se Almodóvar espirrasse:
Atrofiado, em estado vegetativo, o corpo social apaixonado olha nos olhos dela e clama por um fim. Linda, Ela sobe e coloca seu gineceu sobre a face dele, sufoca intensamente o corpo. Mas naquele orgástico fim, o engano: era apenas um novo começo.



"não vos canseis de fazer o bem."

2 Tessalonicenses 3:13

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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Antes ou depois das chuvas


O espectador é a ruína da plena beleza
ele rompe a espontaneidade
o suor da felicidade resvala por todo o ambiente
esta sua boca é uma ideia.

O teu gesto um poema.



O mundo não acabará em 2012, ele finda todo o dia e nem mais é preciso abrir as páginas dos jornais. Na incessante luta entre pautas leves e assuntos pesados na imprensa, abrir a janela e arriscar um olhar à paisagem tornou-se um desafio fascinante. Não, essa não é uma narrativa sobre a brilhante obra de Manchevski e as possibilidades de percepção criadas. Isso é outra coisa.

Com mérito, a cobertura intensa do período de chuvas exige dos jornalistas a costumeira inovação no olhar e precisão na construção das narrativas sempre diante de um tema cíclico. Todos os anos, além de apresentar a falha infraestrutura, as consequências evidentes da negligência e da água que desaba do céu, os veículos apontam soluções, distribuem versões e incentivam à solidariedade.

A Defesa Civil de Minas Gerais divulgou que 228 cidades no Estado foram afetadas pelas chuvas, atingindo mais de 3 milhões de pessoas, sendo 52.700 desalojadas e 4.000 desabrigadas. De acordo com o órgão, 166 municípios estão em estado de emergência em virtude das chuvas. A cobertura do Estado de Minas, O Tempo e Hoje em Dia tem procurado equilíbrio ao falar de recursos x estragos. Além de sinalizar o descaso governamental, os indícios de corrupção e a sucateada infraestrutura é preciso mostrar o compromisso de poucos, tanto nos governos, quanto na esfera popular.

Os jornais (mais os estaduais do que os regionais) dimensionaram até que bem os impactos na saúde (contaminação, doenças e mortes – o sistema está preparado?), alimentação (acesso e produção de alimentos, impactos no mercado do agronegócio), segurança e logística (quando e como retornar às residências), estradas (os buracos tapados com promessas) e etc. Dados do jornal Estado de Minas revelam que a União deixou de investir 58% dos recursos autorizados para obras de prevenção contra estragos provocados por enchentes. Em Minas Gerais, foram pagos apenas 47 do previsto.

Entretanto, falta ainda um questionamento sério a respeito do paradoxo entre planejamento e execução. Afora os blogs (que alastraram-se pelos sites dos veículos de imprensa como alternativa de posicionamento, narrativa e inquietação), é preciso estar presente nas matérias. Victor Hugo já disse uma vez que a imprensa “é o dedo indicador”, sinaliza, cutuca, gera movimento à cena. Parafraseando Balzac, assim como o homem sucumbe à mulher, a massa sucumbe à imprensa, mesmo ao ignorá-la. O modelo vigente de administração pública apresenta-se baseado em uma desarmônica dança entre interesse público, interesse da iniciativa privada e interesse particular.

Diante do imediatismo de se fechar o texto, maior deve ser a intensidade do olhar e incômodo do jornalista, pois ações efetivas para a melhoria da qualidade de vida, muitas vezes são consequência do ruído gerado por um texto. Reflexão e refração de Imagem (seja particular, pública ou organizacional) é o que determina as ações neste mundo que se acaba imerso no iminente recomeço.

O Haiti é aqui? As crises, atrocidades e conflitos estão globalizados; mas e as soluções?

"Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados." Millôr Fernandes

"O jornal é uma tenda na qual se vendem ao público as palavras da cor que se deseja." Honoré de Balzac


Artigo publicado também no Observatório da Imprensa
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed677_antes_ou_depois_das_chuvas

www.passocomunicacao.blogspot.com



Sou a citação no meio da sua frase.
Sou o plágio no seu suor
a impossibilidade que esvai com seu cheiro
sou seus sentidos dominados por elas
a madrugada, a espera, a manhã


terça-feira, 20 de dezembro de 2011

La Traviata Corporativa






Em descomunal jogo de interesses, a dança entre o que se fala e o que se faz lacra as esperanças de Violetta "Duplessis" (o povo) em um peito social tuberculoso; e o arrependimento não altera o presente, nem o passado.

Afora o fim anunciado, as relações de trabalho clamam por inovações que de maneira responsável estabilizem os parâmetros de satisfação e desenvolvimento. Ante os abalos do mercado, é evidente a necessidade de mudança. O modelo de gestão de pessoas deve estar fundamentado em diálogo transparente, remuneração adequada, ambiente de trabalho agradável (infraestrutura e relacionamento), capacitação (e atualização), inovação e resultados. Praticar o que se diz em discurso é a única solução; transformar as palavras das mensagens corporativas em ações efetivas para proporcionar viabilidade econômica ao empreendimento aliada à satisfação dos empregados.

Reconhecimento: o que todos buscam desde a saída do ventre. Desde a primeira olhada no espelho, ou nos olhos de outro (primeira infância). Poucos consideram que para reconhecer algo, é preciso visualizar seus limites, para então compreender seu sistema, sua dinâmica de ação e não seu repertório, ou sua essência. Todos buscam completar-se (a satisfação). O egoísmo fale empresas, relacionamentos e narrativas; deturpa a fé. A humildade é a força dos sábios. O desejo por reconhecimento cria novas tecnologias, seduz, escreve no presente a história do futuro. 

Desta feita, o sonho surge como um produto de convencimento, não apenas no ambiente de trabalho, mas fundamentalmente no campo pessoal. Na vida corporativa, o gestor que souber conhecer e lidar com os sonhos (profissionais e pessoais) dos empregados terá à sua disposição uma excelente ferramenta de gestão. A gestão entre o estímulo de sonhos, alinhamento de desejos e administração de anseios básicos. Como transformar isso em mensagem e disseminá-la além das reuniões fechadas, indicações, festas corporativas, encontros ao redor da garrafa de café e diante do espelho nos banheiros coletivos? Campanhas?

Comunicação física (material) versus comunicação digital. A escolha entre as duas, ou a integração de ambas considera aspectos como o objetivo da ação, os custos, a natureza de acessos às ferramentas, linguagem, poder de indução, periodicidade, o ritmo, a distribuição. Identidade.

A avalanche de informações e versões, juntamente com o estímulo profissional (desafios + remuneração) deve também ceder espaço para manifestações negativas (embora responsáveis) e positivas (não propagandísticas) por parte dos empregados. Maturidade e Transparência.

Atualmente, as pessoas se informam da mesma maneira que consomem produtos. Isto preocupa, em uma sociedade onde o poder aquisitivo aumentou boa parte em função da disponibilização de crédito e estímulo ao consumo (estratégias da política econômica). Ou seja, o alto índice de consumo (de informação e produtos) não significa a existência de uma base a suportar tal comportamento.

O Notícia em Foco da Rádio CBN dia19/12 , com a participação de Dimenstein, foi categórico: O fazer jornalismo, o fazer comunicação, sofreu interferências (boas e ruins) da tecnologia. A mídia precisa passar o que é imediato de forma simples; todavia, precisa formar público para reflexões profundas a respeito do que é imediato e como isso se relaciona com o futuro e presente de todos.

No ambiente corporativo, não existem mais ilhas. Cada empregado é um formador de opinião estratégico, com poder de influência amplificado pelas novas tecnologias. Até os nômades no deserto fazem música e ecoam no mundo inteiro (Tinariwen), quiçá os plugados funcionários com dedos que comandam telas, telefones que pagam contas, postam fotos, vídeos e recebem informações via internet. O trombone se transformou, cabe a boca de todos aos ouvidos de muitos. Scream Poetry (sim, eu gosto de subir nos telhados).



Estatísticas norteiam uma bússola viciada. Estudos apontam e pesquisas especulam. Versões e interpretações do tamanho do entendimento do freguês, e não a seu gosto. O que será que será? Oscilações da taxa de emprego, cantatas sociais. As enchentes que declaram ocupações desordenadas, o colapso da urbanização, o desrespeito aos recursos naturais. Infraestrutura é mito. O ditador é exposto morto, entre flores e lágrimas pintadas de vermelho. His name is Robert Paulson. Peneira informacional à parede, todos se transformam em garimpeiros na serra pelada da comunicação. O ciclo segue. O alforge nunca está cheio, muito menos vazio. Chuva de borboletas, flores voam ao vento. Deus está de braços abertos.


teu pescoço, torre de marfim
caule da sedução, textura do aconchego,
guarda o néctar,
caminho para teus lábios;


não estás nas palavras
vais além dos gestos,
não há solidão que não se estirpe em teus braços
onde a pureza é plena
e meu sussurro se envolve com o suspiro de felicidade



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Saiu no Observatório da Imprensa
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed674_la_traviata_corporativa