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quinta-feira, 13 de abril de 2023

Desacelerei


Percebi que o compasso outro era numa frase sem estrutura comum. Então desacelerarei. E já o fiz de fato. Os pés descalços. O rock reverberando pela madruga de estrelas lindas e planetas tão próximos em sua absurda distância. Tudo brilha. Meus pensamentos, os sentimentos. As rimas sem beleza, mas profundas de tanto eu que emanam a ser tão comuns. Entender pra quê se ninguém mais saber ler?

Coexisto na insignificância das entrelinhas. Conceitos incrustados no silêncio. Um feito inigualável, o grito no brilho do olhar. Se memória, futuro ou desespero, ninguém sabe.

No sopro de uma noite sem estardalhaços ao redor, respiro sem peso, mas com o distanciamento de um suspiro.

"Pouco a pouco fica evidente o distanciamento dos astros disfarçado do aumento do universo, ou a colisão de corpos como consequência da gravidade e órbita. O que há de fato é um canibalismo de argumentos, soterrando olhares de fuligens da expectativa."

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Equipe x controle



Mensurar as transformações que acontecem na equipe é o desafiador indicador do gestor. Identificar como cada um, em seu sistema de repertório e relevância, contribui na realização das atividades, no compartilhar conhecimentos, reter mensagem e diretrizes da gestão e integrar-se ao planejamento estratégico. Compreender as pessoas e identificar pontos de equilíbrio para poder exercer persuasão em prol do clima organizacional, e não manipulação cruel de emoções, saberes e fazeres. Diversos gestores se perdem no fio desta navalha. Conhecer o outro exige também conhecer um pouco mais de si mesmo, para assim conseguir identificar o que é você e o que é o outro; os limites, as especificidades, o que é automatismo, mimetismo e o que é peculiar, quase exclusivo da personalidade. É exaustivo o processo, mas costuma ser mais eficiente do que adotar algorítimos. Eficiente no sentido de evolução humana e nem sempre em indicadores corporativos de desempenho. A famigerada trilha por conhecer a si mesmo. Evitada de maneira sagaz por quem sente prazer em julgar, manipular e culpar o outro. Caminhar por essa trilha nos lembra atributos da personalidade que muitas vezes evitamos, ou que nem mais reconhecemos ter; pro bem ou para o mal. Entretanto, trata-se de um processo fundamental para o desenvolvimento, para ter dias mais leves, para ajudar o outro e juntos, em equipe, fazer um bom trabalho. 

Engajar uma equipe tem de ser um processo naturalizado de persuasão transparente, com fluxo e objetivos definidos e tudo tratado de forma aberta junto aos envolvidos. Esqueça a ideia tradicional de controle e pense na efetividade do que é uma verdadeira equipe. Não significa o caos, ou plena anarquia, mas um ambiente em que ao invés de controle, há liderança. Não um conceito pedestal de mercado; mas a postura bem definida de cada indivíduo, com suas potencialidades, fragilidades, pontos de melhoria. 

Neste novo cenário, delegar torna-se compartilhar responsabilidades, tendo cada um o instante e a intensidade da entrega e a titularidade sobre o resultado do processo. Ao invés de problemas e punições, obstáculos e soluções. Assim, percebe-se maturação não apenas da narrativa corporativa, mas elementarmente da cultura organizacional. Independentemente do montante do faturamento da empresa, o modo como ela internamente estrutura e viabiliza sua equipe compõe sua marca e a mensagem que fica para o multifacetado stakeholder.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

fusos



O desafio na comunicação corporativa perpassa o relacionamento da Tecnologia e o conflito de gerações. Sendo que um fator determinante deste cenário é a necessidade de lideranças participativas, que saibam administrar as diferentes gerações e conduzi-las a vivência das novas tecnologias.

Futuro da comunicação ou comunicação no futuro. O “agora, já passou”. O foco das ações de comunicação já não está nas plataformas (intensificada após a efervescência tecnológica), mas sim no conteúdo; esse faz a diferença e interfere na malha social. Todavia, é importante conceber, formatar e disseminar de forma assertiva o conteúdo, revendo os resultados esperados, não basta buscar audiência por audiência. O volume não mais sobrepõe à qualidade de absorção da mensagem e manifestação da interferência.

O público procura se envolver com marcas e narrativas que corroboram com seus valores e propósitos. No entanto, vivenciamos valores volúveis e propósitos líquidos. O cidadão tem se estruturado assim e ainda impõe uma demanda por fidelização que extrapola os padrões estabelecidos pelas marcas, forçando-as a uma metamorfose incessante.

Um breve olhar sobre a paisagem e percebemos que as espécies são movidas pela busca. Players de mercado, ou influencers, então estudam o perfil destas buscas e oferecem alternativas de desejo que não são o objeto inicial da busca, mas são colocadas como o foco principal, transformando assim a busca, induzindo o mercado. Trata-se do aprofundam, então do agenda setting. Além de pautar as reflexões, interferir nas buscas e objeto de desejo.

A comunicação então deve estimular a convicção e não a repetição de mensagens e narrativas, mas sua multiplicação por absorção da mensagem e convicção do conteúdo. Neste processo, o lobby (que luta para ser devidamente regularizado) é uma estratégia de defesa transparente de temas chave na sociedade, assumindo um lado. Entretanto, o lobby tem sido depreciado em função dos maus lobistas. 

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) define o lobby como a comunicação oral ou escrita com uma autoridade pública para influenciar decisões políticas, administrativas e principalmente legislativas. Ampliando sua atuação na sociedade, o lobby é realizado pelas Relações Públicas, a partir da disseminação de narrativas setoriais.

Clientes então não podem ser vistos apenas como consumidores, mas sim cidadãos que se relacionam com mensagens e não com produtos ou objeto de resultados.


Pássaro verso
Pouso transcende
Voo ascende
Horizonte que dobra
O que ao vento passa
Beija a flor
Pássaro cor



quinta-feira, 16 de março de 2017

Estado Poder e Bem-estar


Antes de olhar o Estado e suas configurações, olhar o indivíduo. Pensar o querer geral e ser racional (lembrando Immanuel Kant) e também perceber a relação dos seres com os espaços a partir do interesse e suas vertentes diversas. Os indivíduos com objetivos específicos, interesses pessoais se tornam seres sociais. Os seres sociais buscam estabelecer um ordenamento embasado no interesse coletivo. Todavia, o interesse coletivo é por muitas vezes uma roupagem aceitável do Interesse Dominante. Ou seja, um indivíduo articula seu interesse pessoal de forma a viabilizá-lo como o interesse de um ser social com potencial de se transformar em interesse coletivo. Por persuasão, submissão ou identificação para alcançar fins pessoais, outros seres sociais tornam-se adeptos do interesse proposto tornando-o Coletivo. Quando analisado em profundidade, este interesse nada mais é do que o interesse dominante não de um grupo, mas de um ser com poder articulador às vezes imperceptível em sua ação, mas evidente em suas consequências.

O aspecto moral dos modelos de socialização do poder e modelamento econômico deve ser considerado para redefinir a Ordem Social de forma a fortalecer o Estado Contemporâneo, conforme aborda Keynes, baseado em liberdade (livre mercado) com maior participação do Estado (moderador). Essa base liberal onde acesso e oferta são instrumentos de moderação do Estado merece atenção para compreender os desdobramentos na contemporaneidade. Keynes defendia processos abertos, passíveis de manutenção (ex: capitalismo) onde a liquidez é uma instância de consumo, entre o presente e futuro.

As demandas sociais pertinentes são então vistas como questões periféricas. Atributos como o Pleno Emprego se instala como elemento fundamental para o bem-estar social. Assim, os mecanismos de controle do planejamento político evocaram dos players maior conhecimento e domínio de mercado e finanças (Uma vez que o estado na era do Welfare não controlava efetivamente as práticas econômicas privadas, nem sob o aspecto de produção), e compreender modelo de negócio (produção / demanda / mercado / consumo). Neste cenário, com a premissa de exercer o referido controle e participação, o Estado busca promover melhor distribuição e organização dos recursos e promover melhorias na remuneração em busca do Bem-estar social. Lembra muito o projeto de Renda Mínima do ex-senador da república Eduardo Suplicy (Renda de Cidadania: A Saída É Pela Porta). Realidade ou utopia? Mecanismo de alienação ou acesso social a recursos?
Reformas sociais então transitam entre assistencialismo e distanciamento social sob um viés de redistribuição igualitário de recursos e riquezas, com nuances de concessão de poder, nem que seja de consumo.

As configurações do poder esbarram em aspectos recorrentes da organização social, em função de muitas vezes serem especificidades do ser humano. A estabilidade (via plano emprego) tornou-se, na contemporaneidade, o "ouro de tolo" da população, manejada agora por uma nova configuração política. Configuração na qual a esquerda, ou nova esquerda como se refere o autor (Deborah Farah) surge com um viés mais articulador do que extremista, fugindo de um capitalismo radical e de um socialismo burocrático por demasia. A demanda pujante por um novo Estado reflete o nascimento de uma nova sociedade, com outro poder de posicionamento de suas demandas e modo de exercer pressão. Há então uma demanda significativa por mais agilidade na dispersão e homogeneização social das narrativas de poder e controle; fato que pressionou mudança em plataformas e narrativas de comunicação e repasse de informações. A massa exerce pressão sobre o Estado em busca de respectivos direitos.

O Estado então, decisório da política, precisa de uma licença social. É necessário que a população (concordando ou não) aceite e valide o processo político para que a diretriz do estado seja executada e permaneça vigente. Os conflitos sociais que antes perpassavam o choque entre classes (Burguesia e Operariado) agora se instala em individualidades e seus valores (gênero, sexo, profissão, e etc.) e não em ideologias de massa. Portanto, entidades representativas, tais como Sindicatos, perdem poder de mobilização e interferência, fato que leva o Estado a formar redes de colaboração com a iniciativa privada, essa que se tornou parceira mais presente nas políticas públicas. A voz da sociedade, sua participação, é compreendida então pelo Estado como algo fundamental para a construção da democracia, porém arbitrariedade (exercida pelo Estado ou órgão regulador) é o que regula e viabiliza processos democráticos.

Como já disse em outro texto, a globalização estimulou a integração de padrões territoriais de modo a possibilitar o diálogo de “tribos”, de suas demandas, anseios e oportunidades de saciá-las além fronteiras; considerando demandas e anseios nos aspectos culturais, econômicos, intelectuais, de subsistência e desenvolvimento.

Neste ínterim, a arte e suas diversas concepções, tornou-se instrumento essencial de manutenção dos padrões sociais; tanto para reafirmar quanto para romper paradigmas e sobrepor dogmas. Desta forma, a noção de identidade de um ator social depende de suas singularidades enquanto indivíduo e de sua interação na paisagem social, perpassando pelas influências em “si” dos produtos culturais que consome, acessa ou até mesmo reproduz. Isto pode ser observado nas dinâmicas de apropriação e ocupação territorial e interações consequentes, definindo regras e limites, espaço público e privado. Portanto, percebe-se cada vez mais que identidades culturais volúveis e segmentadas tomam lugar de destaque social ante as identidades culturais tradicionais, fato que evoca mudança na maneira de transmitir a história a gerações futuras.


Outro viés da Globalização é a mudança do mercado e seu controle. Pois agora a demanda não dita as regras, mas os fluxos de sobrevivência e competitividade também interferem no processo, uma vez que geram fluxos que vão além de demandas existentes, criando outras "necessidades" que até então a sociedade não imaginava e o Estado nem concebe uma forma de gerir, moderar ou participar. Esse novo cenário propicia mudanças nas relações de trabalho e dispersão de produção e produtos, com certa flexibilização que reorganiza o consumo. A nova organização econômica passa então empodeirar o sujeito enquanto consumidor de inovações, gerador de novas demandas. Estabelece-se assim nova ruptura no modelamento estrutural do Estado, que vê suas premissas escorrerem junto à chuva da vanguarda.

Publicado também em minha página no Obvious - http://obviousmag.org/rumos/

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Individuus


 

 
A organização social contemporânea impele ao indivíduo um comportamento de egocentrismo. Para coexistir o ator social com esse perfil precisa de público e referência, para então impor suas singularidades, legitimando-as como objeto de consenso ou bem-estar social. Importante considerar a etimologia; do latim medieval individuus (indivisível), que é formado de in + dividuus. O vocábulo dividuus vem de dividere (dividir). O processo de formação de indivíduos compreende interferências da sociedade, ou seja, depende das relações sociais e culturais (variando o grau de intensidade), formando assim a identidade do ator social.

A construção da realidade social passa pelo interesse. Interesse constituído pelas vontades, necessidades individuais, e pelo consenso coletivo subsequente. O sujeito está cada vez mais centralizado como ator social individualizado, interferindo na Rede Social para apenas atender seus objetivos, isso até mesmo quando demonstra nuances de altruísmo. Este aspecto fica latente quando consideramos a leitura que Adorno faz do indivíduo em sociedade, enquanto sujeito, onde por mais que submete-se a fluxos impostos por uma liderança social, ele executa suas escolhas tendo como motivado os próprios interesses, as respectivas singularidades.

A cultura de massa impõe um padrão cultural e um modus operandi da sociedade concebida como um corpo, mas não consegue controlar totalmente os membros deste corpo, sendo os indivíduos os referidos membros. Fato que aponta uma fragilidade e uma força em toda organização social: um membro pode atrofiar o corpo social e corromper a ordem imposta, mas para ser eficaz ele precisa de aliados, formando assim um novo grupo, que precisará de regras gerais consensuais, estabelecendo então um paradoxo, onde para atingir interesse de suas singularidades, o ator social precisa tornar coletivo algo que é individual. O epicentro do conflito neste caso não é o interesse, tampouco o individualismo, mas o controle. O que antes era exercido pela força física, agora materializa-se nas entrelinhas de narrativas midiáticas e na ressignificação dos padrões.

Cada sociedade/grupo social possui seus padrões de saciedade e felicidade. O que outrora foi medido pela saúde, dentes, capacidade física, passou a ser por meio da posse de bens materiais ou mecanismos de poder (Mercado / Autoridade / Mídia / etc.). Assim, a construção da realidade social ultrapassa os aspectos da singularidade do sujeito, pois está ligada à interação dessas singularidades com a paisagem formada por oportunidades e demandas.

A globalização estimulou a integração de padrões territoriais de modo a possibilitar o diálogo de “tribos”, de suas demandas, anseios e oportunidades de saciá-las além fronteiras; considerando demandas e anseios nos aspectos culturais, econômicos, intelectuais, de subsistência e desenvolvimento.

Neste ínterim, a arte e suas diversas concepções, tornou-se instrumento essencial de manutenção dos padrões sociais; tanto para reafirmar quanto para romper paradigmas e sobrepor dogmas. Desta forma, a noção de identidade de um ator social depende de suas singularidades enquanto indivíduo e de sua interação na paisagem social, perpassando pelas influências em “si” dos produtos culturais que consome, acessa ou até mesmo reproduz. Isto pode ser observado nas dinâmicas de apropriação e ocupação territorial e interações consequentes, definindo regras e limites, espaço público e privado. Portanto, percebe-se cada vez mais que identidades culturais volúveis e segmentadas tomam lugar de destaque social ante as identidades culturais tradicionais, fato que evoca mudança na maneira de transmitir a história a gerações futuras.

Faz-se então relevante analisar o “Agenda-Setting” e suas reverberações na organização social, pois assim renovam-se identidades culturais volúveis e respectivos relacionamentos descartáveis. Teoria formulada por Maxwell McCombs e Donald Shaw, o Agenda-setting consiste na hipótese de que a opinião pública considera mais importante em seus assuntos diários os temas que são veiculados com maior destaque na imprensa; sendo que as notícias veiculadas e o foco das narrativas são determinados conforme singularidades de quem detém o controle dos veículos de comunicação ou até mesmo a setores de uma sociedade.

Indivíduos ditos pós-modernos apresentam-se em constante movimento em busca da identidade própria, seguindo tendências, outros repetem a receita dos padrões culturais vigentes e há ainda os de vanguarda, que se constituem solidamente, sendo ainda flexíveis evolutivamente e não volúveis apenas pela efervescência da mudança.
 

Felinos




Cultivava a diferença. Era o que sentia em suas veias. Era o que fluía em seus gestos. Não conseguia deixar de contaminar as pessoas com a leveza de olhar a vida. Eram rosas diferentes. Eram sabores diferentes. Eram pessoas exóticas pela peculiaridade de serem únicas. Ele não conseguia ser impessoal. Envolvia-se por completo, com intensidade, muitas vezes sem a devida sanidade, mas a pujança de um sentimento sem amarras, sem lógica, sem falsidades. Assim ele conseguia as marcas, pintura rupestre na derme, o tempo que passa revelando momentos de gozo e de dor.

O ritmo da caminhada. Impossível definir se é o prenúncio da fuga, da caça, ou de uma jornada compartilhada. O que há no olhar dos felinos? Hipnotizantes, sóbrios, poderiam eles nos falar sobre as consequências da vida? Explicar os desdobramentos das escolhas? O olhar de um cão compartilha do mesmo espaço tempo, troca emoções e percepções do presente, o dos felinos parecem vir de um tempo onde sabem o que somos, para onde iremos, e o que sentimos. Há felinos de olhos azuis, castanhos, verdes, que brilham, que ferem e afagam. Sempre instigam.

Certo como a luz do sol a passar pela fresta da cortina e se instalar sobre a mesa. O sentimento não era de dúvida. Tocou a mão dela e apertou por uns instantes, de modo intenso, com carinho, com desejo. Ela respondeu ao toque, não importava o significado, tampouco o porvir, valia mais o momento que experimentavam ali. Ela o olhava no escuro, entremeio flashs de postes, com um brilho nos olhos. Ele a olhava com ternura, segurando-se para não unir os poros, os lábios, os destinos.

Os ponteiros e o fatídico "mas" interrompeu aquele encontro, sem selo, sem ponto. Deja vu. Assim como cada qual vivencia diversos desses momentos em particular universo, eles tiveram novamente o seu momento. Complicado. As leis da física não consideram o poder da vontade e a interferência do pensamento. A memória construiu-se então de uma série de momentos que pela sutileza delineiam um sentimento que enobrece o olhar, o suspiro, a libido. O tempo apura este sentimento cada vez mais. Complexo.

Quando o exótico atrai pela diferença, pela inquietude que gera. Como um filme de Almodóvar integra ao nosso olhar um tom de estranhamento aos padrões sociais. Assim, os dias se renovam nesta orgânica festa que gira em torno da estrela.

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sexta-feira, 21 de outubro de 2016

polegares em riste



Geração dos polegares frenéticos. A dor de polegar tem incomodado mais do que a de cotovelo. Pescoços baixos fazem reverência a uma privacidade que brilha intermitentemente nas telinhas às mãos. A ergonomia é o novo desafio da saúde ocupacional, pode-se dizer que em determinados cenários sobrepõe até as famigeradas receitas de uma alimentação saudável. Todavia, esse recorte do comportamento social é a reverberação da mudança do processo de comunicação. As plataformas de produção e consumo de conteúdo, com suas multiplicidades de funções, acessibilidade e formatos, interferiu na postura moral e corporal dos indivíduos. Mudou a postura do corpo e a postura dos indivíduos na sociedade, uma vez que foram empoderados no processo de comunicação, podem postar, compartilhar e até mesmo interferir em pautas e respectivos desdobramentos. A responsabilidade social já não é apenas um jargão corporativo, mas a premissa para interagir socialmente  seja como indivíduo ou como representante de um grupo ou empresa. Aqui não se limita a concepção de responsabilidade social a ações de filantropia, mas de desenvolvimento integrado justo, e responsabilização pelos respectivos atos em sociedade.

Nova Ordem Mundial. Aplicativos a mil. Mensagens trocadas, arquivos que vazam de propósito, ou por incidentes, acordos firmados, registros apagados, rastros polemizados no judiciário, manifestações de bites, amores por código binário, traições por caracteres, transformação social digital, baterias viciadas, pessoas libertas de paradigmas, a rede que se renova e expande imitando o movimento do universo, com colisões, explosões e novos mundos; a beleza orgânica da vida na matriz do tempo.
Roger Bolton (referência em Relações Públicas do setor industrial nos Estados Unidos) disse que a contemporaneidade nos encurralou em uma máxima conhecida desde os tempos de academia: Temos que melhores naquilo que já éramos bons. A geração millennials alastra-se na contemporaneidade (jovens, empreendedores, irreverentes, desvinculados a padrões tradicionais, mas comprometidos com problemas de ordem global, com a efetiva sustentabilidade, de produtos e processos, inclusive de relacionamentos interpessoal e institucional.

Neste sentido, é preciso agir de forma simultânea às mudanças. Fazer a leitura da paisagem, considerar seus recortes e a interdependência e desdobramentos de tais recortes. É compreender como as pessoas se comportam nas Redes Sociais Digitais, nas Redes Sociais Orgânicas (Grupos sociais - escola, religião, lazer, cultura, esporte), a maneira que produzem e consomem mensagens, observar como concebem e percebem os espaços que ocupam, os produtos e etc. Simultaneamente, deve-se entender o respectivo lugar (do comunicador) e função na paisagem e ser volúvel (sem ser leviano)no ambiente, lançando mão de atitudes de vanguarda para interferir e também do mimetismo para aceitação e reconhecimento.

Além de estabelecer um novo modus operandi na comunicação, as novas mídias (se utilizadas de forma equilibrada) expandem as fronteiras da evolução humana e flexibilizam distâncias físicas e intelectuais para estabelecer aquilo que entendemos como um mundo melhor agora.

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segunda-feira, 30 de maio de 2016

Bias tão nossas


 

Tantas são elas, que controlam nosso corpo, delineiam no horizonte o alcance de nossos braços, o ritmo dos passos e a ousadia dos olhares. Fazem morada no indivíduo a ponto de se confundir com a identidade de quem as possui, ou por elas são possuídos. Entrelaçados a elas buscamos aprimorar o reflexo do espelho sem nos ferir gravemente com os cacos. Bias, tão nossas. Bias nada fofas que dão medo "Medo que dá medo do medo que dá".

As ruas e noticiários têm sido pautados pelas nossas fobias. Lampejos de virtudes, de harmonização social até incitam certo frescor no olhar, mas, no entanto, nossas fobias nos pautam. Seria bom se fosse para refletirmos sobre como vivenciar e transpor as intempéries das fobias; mas o que vemos é o registro das consequências de medos maturados em seres despreparados. Pessoas queimadas, corpos mutilados, redes sociais congestionadas, diálogos violentados, matriz energética estagnada, ciclistas, motociclistas, pedestres e motoristas em vias de guerra, guerra urbana, umbigos gritam em palanques, cidadania encarcerada, relacionamentos dilacerados por um utópico e cruel bem comum, que não vem.

Percebemos a fobia como a expressiva materialização da angústia de um medo; vemos o empoderamento de uma castração psicológica que porventura pode estar em segundo plano na mente do indivíduo, mas que é base para as atitudes quase que automáticas; com consequências que transformam não apenas a identidade e caráter de seu possuidor, mas que reverberam no ambiente e em seu respectivo equilíbrio.

As atitudes provindas delas são recorrentemente um instinto de autopreservação que muitas vezes gera agressão ao próximo. Esse medo de que sua identidade e seus valores percam espaço na organização social, de forma a ter supostamente corrompidas suas virtudes, diminuídas suas articulações políticas e sociais, faz com que o indivíduo rejeite a diferença, obstrua o caminho da diversidade, e levante o estandarte de uma moderna inquisição, onde a intolerância grita e pune contra o outro, contra o plural. Mas a existência do diferente não pressupõe que seja soterrado ou exterminado o outro, na verdade se trata de uma flexibilização de perspectivas. Há espaço e tempo para todos.

"Tienen miedo del amor y no saber amar / Tienen miedo de la sombra y miedo de la luz / Tienen miedo de pedir y miedo de callar / Miedo que da miedo del miedo que da (Miedo - Lenine - composição: Pedro Guerra/Lenine/Robney Assis)"

Dalgalarrondo (2006 - apud Mira y López 1964) apresenta o medo como uma alteração dos aspectos emocionais que desencadeia em escalas até a sua inativação, tomando determinada proporção até que o indivíduo alcance estabilidade. Essa leitura concebe seis fases de acordo com a intensidade e abrangência: 1. Prudência; 2. Cautela; 3. Alarme; 4. Ansiedade; 5. Pânico (medo intenso); 6. Terror (medo intensíssimo). Sendo assim, as fobias podem ser encaradas como medos exorbitantes, descomunais, desproporcionais, atrofiadores. O contato com o objeto de fobia estabelece crise, com profunda inquietação e ansiedade por parte de quem possui a fobia. Neste instante de pânico não há lugar para a razão e sobriedade, mas apenas o raciocínio lógico de se livrar do objeto da fobia, seja impondo distância, fugindo, ou agredindo, tentando extirpar da existência. Neste sentido, é possível estabelecer uma relação preliminar: Fobia – Julgamento (da situação) – Punição (do objeto que causa fobia). Essa punição é materializada na intolerância.

A matéria de capa da Revista Puc Minas (Intolerância – Profunda reflexão sobre atitudes hostis e desrespeitosas que têm marcado o mundo contemporâneo. Ed 13 – 2016) apresenta de maneira contundente como “nossas bias” têm interferido na sociedade por meio de uma intolerância enraizada, que abrange aspectos religiosos, políticos, sexuais e raciais. Intolerância essa verificada em gestos, em vocabulários, conceitos visuais, e ordenamento social, estabelecendo-se como fator cultural. No contra-fluxo das atrocidades humanas está o processo de renúncia e denúncia. Denúncia por meio de multiplataformas (oficiais ou não) e renúncia (por meio de movimentos de contracultura) a um padrão de comportamento que só nos distancia do famigerado mundo melhor.

O que seu medo te impulsiona? No que ele te castra? Como ele torneia sua personalidade? Medo ou fobia de insetos, de situações, de ambientes, de sensações, de cheiros, materiais, de sons e até mesmo de sabores. Uma breve pesquisa na internet e você encontra listas de fobias (cada um que até impressiona existir). Contudo, assustador é observar e presenciar como os desdobramentos do medo da diferença, o medo de não controlar e sim ser parte integrante de um grupo social, traçam a realidade. Desdobramentos que podemos resumir em fobia de pessoas. Homofobia, Heterofobia, Transfobia, Politicofobia e polifobias possíveis. Bias traiçoeiras, desde o modo como se instalam na sociedade, até a estratégia de disseminação e ideais para contaminação de novos adeptos. Que as fobias recorrentemente trabalhadas no agenda setting possam nos provocar a uma efetiva melhoria, a partir de pensamentos consonantes para aceitação do plural, contribuindo para uma evolução continuada do modo de perceber a vida e se integrar à paisagem, relacionando uns com os outros sem se perder em utopias, mais ainda assim permitindo sonhos que libertem-nos das bias e elas de nós.

 
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quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Busca por um doodle


O conflito de gerações é um eterno ciclo que apenas aumenta (tal qual o universo), recebendo de tempos em tempos novos ingredientes junto às gerações que passam a integrar este ciclo. O comportamento social se renova do mesmo, mas em plataformas diferentes. Se bem ou mal, o que importa são os desdobramentos possíveis das narrativas estabelecidas.


Gerações intercalam argumentos no diálogo multifacetado na definição de relevâncias. A representatividade de um indivíduo ou acontecimento anteriormente era notória pelo seu registro em enciclopedias, placas e monumentos. Entretanto, desde o enraizamento do Google na rotina de todos os usuários da Internet (quantas vezes acessa o site por dia ou usa um dos serviços da empresa?), os doodles passaram a marcar datas, acontecimentos e indivíduos; lembrando as pessoas o que aprenderam de relance, ou ensinando e instigando buscas àqueles que desconhecem o homenageado do dia. Esta é uma maneira sutil de direcionar o comportamento de buscas e interferir no agenda setting  (Mccombs e Shaw e a teoria do Agendamento) ou um exercício de resgatar ao cotidiano a história da humanidade, os fatos representativos e até os mais os mais pitorescos? Mais do que a resposta, vale o que acontece quando surge um novo doodle. Comentários e conversas em redes sociais digitais, bem como matérias na imprensa (Geral e de nicho). Surgem lembranças e novos conhecimentos sobre algo do passado ou do presente, e quem sabe o vislumbre de um futuro; sempre com bom humor, criatividade e até mesmo inovação ao retratar em uma imagem o assunto escolhido.

Afora esta estratégia, que também fortalece a imagem da empresa, surge na mente de usuários da web, mesmo que de forma quase imperceptível, um novo indicador de representatividade: se já foi um doodle da Google, é importante; merece uma busca. Se antes, seres humanos, buscavam a confirmação de sua existência no outro que estava ao seu lado, com a famigerada globalização ele passou a buscar esta afirmação de existência e utilidade social não apenas na aldeia local e global, mas sim junto a um sistema da web. Se o Smartphone tornou-se a extensão do corpo e vida dos indivíduos (para trabalhar, movimentar finanças, para lazer e etc. Estar sem seu aparelho, ou sem sinal é entrar em estado de aflição e vulnerabilidade), o ranking do Google e do Youtube passaram a ser o indicador de relevância da contemporaneidade. Não é raro pessoas "darem um Google" no próprio nome para ver o que surge, o quão representativo é seu perfil. Se antes alguns queriam ser dignos de serem lembrados em livros, estar com sua marca em uma calçada, seu busto em praças, nomes de ruas, dentre outras formas; agora intuitivamente, os indivíduos querem sua representatividade atestada por um mecanismo de busca (não a biblioteca, onde a representatividade das buscas tem mais resultado acadêmico), com resultados diversos, bem linkados e elencados; e quem sabe atingir o topo: virar um doodle da Google.

A busca é iminente. Entre as respostas, utilidade e futilidade. Versos de porta de banheiro público já perpetuavam ditos populares. tudo o que sobre desce, se cuspir pra cima... Neste ínterim, vale pensar, o que você tem produzido, ou disponibilizado na nuvem, considerando que após um tempo condensando, pode cair irremediavelmente sobre sua cabeças e de outros?

Publicado também na minha página no Obvious  http://obviousmag.org/rumos/



terça-feira, 29 de dezembro de 2015

relance do espelho

Gerações se sobrepõem atrás de um perfil de satisfação e relacionamento eficaz entre poder e prazer. Aspectos seculares do ser humano repetem-se simulando evolução, confundindo pluralidade com vanguarda, travestindo o mesmo com nova roupagem e apresentando-o  como novo.

A sagacidade como busca dar conta de tudo (fluxo de informações e evoluções sociais e tecnológicas) fez com que a geração atual tropeçasse em situações simples, expondo assim sua fraqueza em lidar com a dor, frustração, e improvisação diante das adversidades. Por isso, resiliência se tornou ainda mais um diferencial na escala evolutiva da humanidade. De problemas domésticos, indisponibilidade de eletrônicos, até mesmo tarefas como cuidar da cria desde o nascimento tornaram-se entraves de uma geração de super-heróis e mulheres revolucionárias, de mercado. Falta equilíbrio, maturidade e menos preconceito. A desestabilização emocional dos homens (em eterna puberdade) e das mulheres (sem saber o que fazer ao sair da caverna) é tão evidente e patológica que tem sido tratada como algo comum na timeline da contemporaneidade.

Não sabem lidar com uma bomba de caixa d'água estragada, dias sem internet, momentos sem eletricidade, cuidar da roupa, da casa, da alimentação, cuidar de crianças, lidar com perfis profissionais divergentes,  administrar as finanças e a lista se expande a cada dia. A geração prefere delegar as atividades básicas operacionais e assim exercer seu poder de se entregar ao prazer de nada ter que fazer. Neste ínterim, escolhe a virtuose que lhe apraz, sem se preocupar com a "paisagem" mas apenas no seu momento de gozo nela. Entretanto, têm habilidade em terceirizar. Sabem pagar por serviços (inclusive de escolha) e produtos, para assim se preocuparem apenas com o foco de sua relação de interesse, poder e gozo.

O indivíduo precisa desaprender o que pensa ser e aprender a conviver em sociedade. Fala-se tanto em estabelecer limites, restringir acessos, bater ou não bater. Ninguém nos ensina a "ser social". (Não se trata de aprender a enquadrar uma selfie). O ser humano aprende a ser político na prática, absorvendo do meio a moral e determinando seus próprios valores. Com parâmetros intuitivos, ou referenciados via agenda setting, o indivíduo navega sem leme. As corporações e instituições professam conceitos emblemáticos (ética, compliance, segurança, qualidade de vida, responsabilidade social, sustentabilidade, investimento social privado, e etc.) que são os mesmos de outros tempos, mas agora com outra roupagem. A falta de atitude transformadora infelizmente também; alimentando assim a crítica, textos em perspectivas, as reflexões, bem como a demanda por mudanças. Neste cenário a resiliência brilha nos olhos de quem a tem.

Os produtos culturais encontrados transitam em reboots, remontagens, refilmagens e pouco de um olhar diferenciado que instiga o espectador, a plateia, a se re-ver como personagem com voz (nem que seja narrativa) e potencial de interferência na paisagem que por muito tempo apenas contempla, se torna (e se coloca como) vítima e algoz.

... publicado também em: http://obviousmag.org/rumos/2015/12/relance-do-espelho.html

sábado, 28 de novembro de 2015

Esse olhar


 

 

O rito da legitimidade das mensagens sofre pressão da diversidade dos meios e plataformas de comunicação. Os trâmites essenciais do processo de construção e disseminação de mensagens exigem agora não apenas habilidade para atuar em multimeios em tempo hábil (imediato), mas fundamentalmente em desacelerar um pouco a avalanche comunicacional e trabalhar a percepção sobre o que se quer dizer, a mensagem construída, as partes envolvidas, os repertórios destas partes (para tentar compreender a dinâmica de percepção), os desdobramentos de interpretação da mensagem e relacionamento com o processo de comunicação; tudo isso de forma perene e integrada à questão do tempo na contemporaneidade.

“A comunicação é a vítima desse progresso e é preciso desacelerar e realizar autorreflexão sobre ela”, com sabedoria se posiciona Dominique Wolton em entrevista à Comunicação Empresarial (Ed 95 - ABERJE 2015). Dentre os aspectos pertinentes a essa autorreflexão, na busca pela famigerada legitimidade, estão a linguagem, a percepção, o ritmo e os limites.

Após definir a mensagem e o público, é necessário refletir sobre a linguagem a ser estabelecida na narrativa, seu formato, plataforma e peculiaridades. Atentar ao ritmo de transmissão de mensagem e os limites de desdobramento (esses praticamente inexistentes). A partir disso, deve-se observar e até mesmo (resguardando a distância de observação do outro de Clifford Gertz) interagir com a percepção do outro para assim aperfeiçoar o processo de comunicação, redefinindo os ritmos da narrativa (incluindo a linguagem), limites de reverberação do conteúdo e a legitimidade de suas interpretações (atrelando vínculo com a fonte oficial do conteúdo).

O tempo inevitavelmente passa e isso não deve ser angustiante, mas argumento e espaço ideal para transformações e aperfeiçoamento, não em busca de perfeição, mas da perenidade do processo de comunicação, possibilitando inquietude, questionamento, diálogo, consenso e a liberdade de pensar e conviver. Neste sentido, o passar do tempo incita-nos a trabalhar esse olhar; esse olhar a realidade, olhar os sentimentos, espaços, pessoas e sentidos e assim narrar (em gestos e palavras) nossa experiência enquanto organismo vivo em interação social.

 


Esse seu olhar trincado, esse órgão fustigado pelo que pensa ser realidade. Suas palavras cheias de significados e escassas de sentidos tornam todo jardim um labirinto, onde os pés se ocupam com espinhos e a mente se liberta com os pássaros.







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terça-feira, 27 de outubro de 2015

espaços sentidos



A intensidade dos fluxos contemporâneos evoca reflexão. Metal, plástico, palavras e concreto armado sobre cabeças, sob pés. Recursos humanos e naturais na luta por um futuro aprazível. Cidades atrofiadas, campos mal utilizados. A sociedade tropeça em sua essência na busca por uma sustentável leveza de ser.

Pensar o querer geral e ser racional de Immanuel Kant e também perceber a relação dos seres com os espaços a partir do interesse e suas vertentes diversas. Os indivíduos com objetivos específicos, interesses pessoais se tornam seres sociais. Os seres sociais buscam estabelecer um ordenamento embasado no interesse coletivo. Todavia, o interesse coletivo é por muitas vezes uma roupagem aceitável do Interesse Dominante. Ou seja, um indivíduo articula seu interesse pessoal de forma a viabilizá-lo como o interesse de um ser social com potencial de se transformar em interesse coletivo. Por persuasão, submissão ou identificação para alcançar fins pessoais, outros seres sociais tornam-se adeptos do interesse proposto tornando-o Coletivo. Quando analisado em profundidade, este interesse nada mais é do que o interesse dominante não de um grupo, mas de um ser com poder articulador às vezes imperceptível em sua ação, mas evidente em suas consequências.

O significado de um espaço vai além de sua finalidade. O que um espaço representa para o grupo social e para um indivíduo diz menos sobre a estrutura e mais sobre quem com ele se relaciona. Inspiramos e expiramos sentimentos e sentidos, atribuindo significado às pessoas e espaços com os quais nos relacionamos com o passar do tempo. Neste sentido, quando passamos novamente por um local, é como se passássemos os olhos em um hipertexto construído essencialmente com partes de nós. Os links (de nossas experiências, mecânicas, orgânicas, superficiais ou não com aquele lugar) despertam novos olhares ou antigas sensações. Para isso, o tempo é quem determina o grau de envolvimento no momento da releitura dos espaços. Tempo de exposição, tempo de disponibilidade, tempo da lembrança e da memória. E a maneira como acessamos esses links interfere na dinâmica constituição do nosso caráter e na determinação das escolhas do presente.

A partir deste olhar, podemos conceber os espaços também como organismos vivos, erguidos e sustentados na multiplicidade de ser. A relação com ele vai além da simplicidade de definir se é público ou privado. Na dimensão de nosso relacionamento com ele, ora concebemos o espaço como privado (nossas percepções, sentidos, interesses e significados) e como público (finalidade operacional, interesse coletivo ou estrutural do local). Um local carrega em si apenas sua matéria estrutural ou também guarda os significados que os indivíduos a ele atribuem? Os significados estão em nós e são disseminados pela linguagem que utilizamos para representar os espaços? Refletir sobre esses aspectos pode contribuir para uma madura percepção dos indivíduos quanto à organização social, bem como a construção, uso e ocupação dos espaços. Trata-se de um vislumbre de um horizonte onde existam comportamentos além de La Belle Verte (filme de Coline Serreau - 1996). Talvez dessa forma, a famigerada sustentabilidade possa deixar de ser discurso e se consolidar como um retrato da vanguarda. Esta última materializada a partir de um novo olhar sobre organização espacial e suas possibilidades diante da demanda humana por subsistir e evoluir.

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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Conflitos Corporativos



As estratégias e as diretrizes para identificar, conhecer e tratar os conflitos sociais que afetam o ambiente corporativo são várias, no entanto, enquanto empresas e instituições buscam por receitas para padronizar ações de tratativas (na maioria das vezes alicerçadas no viés jurídico), os conflitos passam constantemente por mutação não em sua essência, mas na forma de se hospedar e interferir no cotidiano.

Neste sentido, na busca por resguardar o patrimônio, não vale mais aquela máxima do "abafar o caso", extirpar com ações agressivas o assunto e sua reverberação na tentativa de silenciar e não tratar o conflito em suas causas.
A premissa básica para a gestão de conflitos é ter técnicas definidas para Identificar, lidar e minimizar a situação. Neste sentido, é fundamental considerar os aspectos de Intensidade / Características / Contexto; Metodologia, Mensuração e monitoramento (de aspectos e impactos).

É fundamental compreender o universo do conflito. Seguindo uma visão de paisagem, é necessário observar o todo e os detalhes, interrelacionando-os, compondo assim a paisagem. Dentre os aspectos relevantes estão:

- Identidade Cultural dos envolvidos

- Vocação Socioeconômica da região e dos envolvidos

- Perfil de financiamento das ações e grupos de conflito

- Interesse da iniciativa privada (geral e local)

- Interesse / tendência do Poder Público (Estado / Município)

- Perfil político da sociedade civil (comportamento)

- Demanda legítima da sociedade (quais são)

- Apetite a risco dos atores envolvidos no conflito (Ações Admitidas e Custo das ações)

Quando os conflitos entre comunidades e instituições estiverem amparados em uma demanda social legítima, as soluções efetivas deverão contemplar o envolvimento da Instituição com os problemas  estruturais da sociedade e para isso é fundamental estabelecer diretriz específica para o assunto.

No manejo do apetite a risco das instituições é necessário lucidez na execução dos planos de ação. Quando acontecer, a internalização de custos ambientais e sociais deve seguir um planejamento estratégico que não comprometa a rentabilidade do empreendimento, por mais que interfira no Plano de Negócios da instituição.

A diversidade cultural que compõe cada indivíduo é premissa para a oscilação entre harmonia e conflito em diversas esferas. Trata-se de uma dinâmica que começa em si (o indivíduo consigo) e expande à medida que ele se sociabiliza. Na interação entre sociedade civil organizada e iniciativa privada, a dinâmica (harmonia x conflito) é potencializada pelos interesses e necessidades de todos os envolvidos. Desta forma, mesmo que tenha impacto pontual, restrito e localizado, um conflito nunca deverá ser abordado de forma simplista. Mesmo que ele possa ser resolvido por ações simples, é necessário compreender e se integrar à complexidade que o envolve e os possíveis desdobramentos.
 
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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

traço

O caminho do traço revela nuances de uma face que há muito tempo o espelho não via. Espasmos de sentimentos silenciados sobressaem sobre as flores sob os raios solares. O jardim é o texto, as pegadas o rastro de uma escrita de amor e cumplicidade.
 
Sua face rompe a brisa com uma interrogação. Seu silêncio deixa escapar as reticências... Sublime silhueta do desespero. Sua presença é o agravo das impossibilidades, mas é bela de uma forma limpa, distante. Admirável é sua face rompendo o ar, perfumando meios olhos, dissipando o perfume da solidão. O desdém se estabelece como propulsor de atitudes de conquista ou de estrangulamento. Você balbucia o precipício sem perceber que apenas repete o eco, luz de uma estrela morta. Assim a narrativa, como um rio, muda seu curso.

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O laço é a rima
o traço corrompe o branco e com o risco purifica a vista,
 delineia meus sonhos no silêncio.
O desfecho no texto que não lido se foi,
sobraram rosas e perfume.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

migalhas em rugas


Quanto tempo é necessário para decompor-se no ambiente o papel? O plástico, vidro e o metal? Quanto tempo é preciso para que o corpo se definhe; que o ser humano se dissipe no ambiente? Uma ideia; uma escolha.

Perpassamos nossos sonhos e frustrações entremeio à realidade do cotidiano em busca daquela sensação de frescor. Frescor de um sorriso, de um sabor, de um acontecimento ou momento em que as pressões humanas são aliviadas. O que pensamos possuir e o que pensamos descartar transformam-se ou se decompõem.  Três a seis meses (Papel), 200 a 450 anos (Plástico), 100 a 500 anos (Metal), 4.000 anos (Vidro), uma ideia, uma palavra, um olhar (nós).

A ordem e a descrição das responsabilidades de cada ser social têm enfrentado recorrentes turbulências. Quem administra e quem é o provedor, como são tomadas as decisões, quem rema e quem controla o barco. Quem cuida do público e do privado. Quem pilota a aeronave e quem mantém a harmonia entre tripulantes e passageiros. Quem escolhe o cardápio, quem prepara, paga a conta e lava a louça. Afora exceções, a sobrecarga de funções sobre um dos seres ou a irregular e intuitiva divisão de afazeres, junto do ritmo urbano imposto como "padrão automático de conduta" tem resultado em seres humanos à beira de um colapso nervoso e social. Muitos, estão a uma escolha de descartar-se da ordem social vigente e se dispor no ambiente, para se decompor ou para experimentar de uma suposta nova realidade.

Neste ínterim emergem modelos alternativos, as modas das academias, dos guetos intelectuais e esportivos, dos orgânicos, dos entorpecentes, da passividade, do vandalismo, do crime e castigo.  Culpar o contexto e o repertório do indivíduo é clichê. É um clichê falar em clichês. Refletir sobre como são estruturadas as escolhas é um desafio. É inegável o poder de interferência do estímulo do ambiente (provindo do famigerado contexto). No entanto, como este estímulo é recebido pelo indivíduo e como o leva a tomar decisão? Acredito que nas rugas de cada um há migalhas da essência, do elixir que estrutura as escolhas e registra no olhar, no corpo e na alma as consequências.

Quando olhamos para pessoas entregues às drogas, à violência, às modas, à utopia do corpo perfeito e da mente brilhante; percebemos o exagero de teorias, receitas, referências, sorrisos e lágrimas. Ao fundo, muitas vezes a angústia da saciedade.

A angústia da saciedade. Transmutada em necessidade de ser feliz. Manifestada como busca em realizar sonhos. Materializada em capacitação profissional, viagens, religião, relacionamentos, posses, poder, enriquecimento e reconhecimento. Para alguns ainda, a aceitação é o estandarte.

A autoafirmação da identidade, saber e sentir que existe e tem importância; considerando que o reconhecimento passa pelo o outro; pela convivência social e até mesmo com a natureza. Todavia, incomoda a sensação do algo a mais. A paz abstrata e tão real que poderia não nos saciar, mas abrandar a angústia é única para cada um, mesmo que seja a mesma (ou semelhante) para muitos. Sem respostas definitivas, às vezes o prumo e o rumo está em refletir sobre as escolhas, seus efeitos e desdobramentos; sem tornar-se prisioneiro da reflexão; pois o tempo não para, não passa, ele é.
Veja também: http://obviousmag.org/rumos/

terça-feira, 31 de março de 2015

Novas (?) Narrativas Jornalísticas


Ilustração: Ramon Bruin
Não sei se nova é a narrativa, a linguagem jornalística, o olhar, ou ainda assim o tempo. Antes o ideal era a câmera não tremer e as frases serem bem concatenadas. Agora tentam vender realidade viva. Algo que pulsa incontrolavelmente. Tanta espontaneidade que chega a parecer um espetáculo de dança contemporânea. O imprevisível é parte do enredo, está no script do espetáculo midiático.
A inquietação é premissa para a evolução. Nesse sentido, os programas de TV têm buscado inovar na maneira de narrar e de fidelizar o público. Seja por meio dos milhares de “cozinha com fulano” que tentam sofisticar, naturalizar, ou tornar rústico o ato de preparar alimentos e se relacionar com eles; ou nos programas de esporte que tentar levar adrenalina aos pilotos de tablets e controles remotos, lembrando até da metalinguagem de programas como A Liga e Profissão repórter. A linha entre o interessante, eficaz e o cansativo é tênue. É preciso destreza para caminhar sobre ela.
Dentre as várias tentativas, algumas são bem interessantes (mas não inovadoras). O Mundo segundo os Brasileiros, produção independente (produtora holandesa/argentina - Eyeworks) disponível em canal no Youtube e transmitido pela Rede Bandeirantes, há 5 temporadas (desde 2011) apresenta a narrativa pelo viés de quem vive o espaço e transmite a própria impressão a respeito do lugar, do tempo, da história, das referências.

Um texto praticamente documental estilo história oral, aquela conversa informal de quem quer contar suas experiências em um novo território. Trata-se se um formato sem protagonistas fixos; alterna-se os narradores, guiando com a câmera, nos contando histórias oficiais e impressões de estrangeiros andarilhos. Baseada no original argentino Clase turista: el mundo  según los argentinos, a série é dinâmica e perpassa desde os principais pontos turísticos a pontos pouco conhecidos do globo.
Cidades invisíveis erguem-se à medida que significados são repassados ao espectador. Forçando um pouco as vistas, dá para imaginar o Marco Polo contemporâneo revelando as nuances das cidades, ou o estrangeiro de Camus andando pelo mundo, contaminando-o e sendo contaminado por ele. E como brasileiro é um povo espalhado pelo planeta, matéria-prima não falta ao programa.
Iniciativas assim precisam se alastrar pela TV aberta, mas essencialmente necessitam estar alinhadas com o conteúdo multimídia, considerando o comportamento de consumo de informação e a disponibilidade dos meios; expandindo assim a acessibilidade ao conteúdo, novos campos para reflexão e seu desdobramento.

Publicado também no Observatório da Imprensa
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed844_novas_()_narrativas_jornalisticas

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Santos mortos - Poetas da Dor - parte 2


As narrativas às vezes são a membrana superficial...

Seja sol ou madrugada, janela aberta. O vento varre da minha face as ilusões. Fecho os olhos e consigo ver além do que penso ser. Percebo como os outros constroem seu repertório de experiências e códigos e os empregam em vida. Sinto as agulhas das emoções alheias penetrarem meu sossego.

Tanto buscamos descobrir o novo e catalogá-lo a fim de concebermos conceitos, interpretações e alcançar a certeza, para assim partir para outra descoberta ou simplesmente controlar as coisas catalogadas, ser superior. Dominar o que se ama, o que se conhece. Isto é percebido em todas as dimensões do comportamento humano; na sua relação com a natureza, com a sociedade, sentimentos e tudo o mais.

O processo de santificação (ao contrário do Bíblico) depende fundamentalmente da morte e não da vida. Ao morrer, o indivíduo comum passa a ser lembrado, admirado e considerado pelos fatos benéficos relevantes, tendo as mazelas de conduta e caráter amenizadas, quase apagadas da memória. Porque isso não é feito em vida? Valorizar as pessoas pelos acertos, focar o julgamento nas qualidades ao invés de em vida julgá-lo pelos erros, e em morte reconhecer seu valor de semideus? Quem morre é lembrado pela parte dele que construímos em nosso imaginário, a partir da convivência com a pessoa, ou com a narrativa que alguém criou sobre a pessoa em questão. Afora exceções, quem morre é lembrado como bom e os vivos têm seus defeitos realçados. Tropeços.

As narrativas então estabelecidas tratam os indivíduos vivos como seres os quais os erros e desvios sobressaem às qualidades. E assim, uma sociedade de sonhos hipócritas é consolidada. A trajetória do indivíduo, travestido de ser social, é analisada sobre vários aspectos. A sociedade, evitando o processo de autoconhecimento proposto pela máxima no Oráculo de Delfos, subjuga o próximo e disseca seu caráter com o objetivo de condenar ou absolver o cidadão. Como parâmetro de análise, utiliza padrões morais e de excelência que estabeleceu a partir dos respectivos anseios. Padrões consolidados junto ao grupo de afinidade, composto de pessoas que comungam dos ideais e um ou outro de ideia divergente, para garantir contraponto.

Para sobreviver a essa dinâmica social o indivíduo pode ignorá-la e conviver; pode subverter os parâmetros, interferindo neles, quebrando paradigmas construindo outros; ou pode sucumbir às manipulações sociais.

Ignorar é o que a maioria faz. Ignora e convive, pois o indivíduo naturalmente percebe que enquanto ser social ele também julga e opera os próprios padrões. O cinismo rege a história de vida de tantas pessoas. Assumem personagens, acreditam intensamente no rótulo que carregam, e ainda tentam impor uma realidade e modo de pensar a quem por perto estiver. E assim o terreno  está preparado para frustrações. (Que surgem também de tantos outros lugares).

Subverter os parâmetros, a partir da interferência e sobreposição de paradigmas é feito com a utilização das ferramentas culturais; as artes em suas diversas dimensões (artes plásticas, artes cênicas, literatura e etc), bem como pelos pilares históricos (manifestações populares e articulação de grupos que atravancam o sistema corrente estabelecendo outro padrão comportamental).

A operacionalização das ferramentas culturais nem sempre têm como finalidade alterar os parâmetros supracitados. Em sua maioria, as intervenções almejam reforçar preceitos, divertir, arrecadar recursos financeiros ou materiais, e até mesmo ser afago ao ego dos autores e mecenas. Entre mecenas e mercenários, o caleidoscópio: Mensagem / público / narrativas criadas / artistas e indivíduos / o ardor / as amarras da liberdade.

A intensidade de R. Wagner, com sua superioridade e pureza pernósticas; a força de Tchaikovsky, e as nuances de sua contradição; é recorrente a tentativa de representar o elixir do que torna humana a carne e sofrível a alma, passível de amor e ruína. Interessados em nossas mazelas, mergulhamos para compreendê-la e não para alterar o surgimento de novas e a continuidade das antigas. O final do ato não encerra a obra, e o estrondo repentino não sucumbe a sutileza do compasso. E o amor?

Seja em Arthur S. ou em 1 João 4, o amor é a ideia original. Felicidade possivelmente incompatível, pois nele também há dor. Aspirações, paixões, vontade e representação. Sob o óculo de A. Schopenhauer percebemos como o ser humano busca a sobrevivência como qualquer outro organismo vivo: guiado pela vontade [mesmo sem compreender sua origem] lembrado pela representação [não em plenitude] de seu desejo. A felicidade é o fiel oscilante de uma balança que de um lado tem o amor (ideia original, desejo natural) e do outro lado tem a vontade (a energia e os atos que a representam).

Após observar certas nuances do indivíduo (que pode muitas vezes ser caracterizado como o estrangeiro de Camus), inclusive enquanto ser social e organismo vivo, percebe-se que o fator determinante da santidade está atrelado aos atos em vida e não em morte (embora a morte santifique seus atos). Sendo os atos em vida constituídos de movimentos naturais, escolhas orgânicas por sobrevivência / evolução / continuidade; e não apenas por caridade. 

Toda relação é por interesse, ok Kant. este interesse ultrapassa a dimensão social, orgânica e material, atingindo também uma dimensão poética, emocional e espiritual. O interesse não é maquiavélico por completo, tampouco altruísta por demasia. Independentemente da existência de seres exemplares (santos) a sociedade os estabelece ou reconhece para saciar a necessidade de conforto, de calmaria, de fugir do estresse cotidiano (composto pelo fluxo, contrafluxo e colisão de indivíduos em busca de "realização" em todas as vertentes / desejo), vislumbrando o admirável.

Entremeio à busca por saciar o desejo pela ideia original e os desejos básicos; afora a busca por salvação e santificação bíblica, por reconhecimento e conforto/aconchego, o indivíduo tenta ultrapassar as interrogações da vida e não se alienar nas reticências, pois a vida do indivíduo está sempre sobre dois pontos:


Quando respiro e quando não,
O amor me alcança.
Rumos seguem, mesmo em silêncio. 
Dobrei o horizonte sob os joelhos e ponderei; 
rumos seguem, mesmo introspectivo. 



quarta-feira, 24 de setembro de 2014

e soul...

O que há dentro que não consegue materializar-se. O labirinto jardim que acalma, excita, esconde ou sufoca. Não é grande, menos ainda espinhoso. Extenso e intenso se revela. Não é uma metáfora, ou projeção. É por onde caminho de mãos  dadas! Sem entradas ou saídas, o instante do caminho. Se eterno retorno ou ida, se estadia no Hilbert Hotel, nunca saber-se-á. A percepção é o instrumento condutor do ser humano pela vida. Para a alterar ou consolidar, é preciso operar com maestria os mecanismos de comunicação.

Quando mal feito, o efeito é passageiro; quando feito para o mal, a situação fica quase irremediável. Além dos diversos canais de comunicação criados pelo homem, há um determinante para a manutenção do relacionamento social: o corpo. Saber usá-lo não como um objeto, ou arma, mas como um canal genuíno de comunicação, amplifica a eficácia da mensagem, interferindo efetivamente na percepção; consequentemente, conduzindo o ser humano como um rio para o mar. A vida; esta narrativa que transcende fórmulas e regras nos apresenta uma névoa de desafios; e nós seguimos. Ultrapassar os desafios, absorver as curvas do caminho perfazendo-as como se fossem extensão do corpo. Prospectar diante de impossibilidades e por fim, vivenciar o gozo de desaguar no mar.

... o próximo verso é sabor;
o sabor é futuro
e o futuro a ideia...

sábado, 21 de janeiro de 2012

crack sem chuteira





A mídia reluz o dentuço rubro-negro, de salário atrasado, a receber homenagens de Evo Morales (que estatizou duas refinarias da Petrobras há alguns anos) e suas aventuras. Fala das peripécias do crack do topete, dos punhos famosos do coliseu moderno (UFC) e de modo quase institucional cobre um outro crack, que tem modificado cada vez mais o retrato da sociedade.

As crianças sonham em ir para Disneylândia, mas após a puberdade fundam Cracolândias, a nova franquia globalizada. Além da cobertura sobre o que é feito em São Paulo, é importante considerar o rastro da desgraça por todo o país.

Na Bahia é lançado plano de reinserção social dos dependentes, no Nordeste, segundo levantamento do jornal Diário do Nordeste, o crack é a droga mais comum entre jovens e adolescentes. Minas Gerais demora a adotar o Plano Nacional contra o crack. Programa lançado há mais de um mês disponibiliza R$ 4 bi para os Estados. O jornal O Tempo, no final da última semana (20/1) apresentou a versão oficial do Governo mineiro que prefere focar no momento nas ações estaduais de combate a essa droga que destrói famílias e transforma a paisagem urbana. As soluções estão baseadas no tratamento do assunto como caso de saúde e segurança pública.

No interior do estado, jornais produzem matérias que abordam as implicações sociais e particulares do uso e comercialização da droga; mas esse tipo de cobertura é raro. Geralmente, a imprensa pesa as abordagens sobre a demonização das iniciativas públicas, deficiente gestão ou manifestações de tinta, churrascos e interrupção de trânsito pela liberação de drogas ou legalização dos pontos de uso. Isso até tombar um na esquina. Quando o repórter é fonte ou, na pior das hipóteses, a pauta.

Faltam coberturas que aprofundem mais toda a rede social problemática que tem a violência e a degradação do homem como consequências de hábitos legalizados. O que me faz lembar os comentários de Jabor em 2002 sobre o antigo episódio do ônibus 174 (São nossos filhos com o demônio, nossos dejetos que criamos...)

Em suma, prostituímos a moral por momentos de gozo. Circulamos por aí com nossos desejos e ilusões. Estabelecemos um processo de esclerose moral onde são gerados resíduos sociais que pontuam esquinas, páginas de jornais e não mais cabem nas superlotadas cadeias ou instituições de recuperação. Efetividade é a recorrente utopia e filantropia o ópio que nos faz dormir a noite e fechar os olhos ao passar pelas calçados de entulhos humanos.

Me lembro que maior é Deus, pequeno sou eu, e das palavras de Leminski porque não consigo fazer melhor:

Ontens e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relógio?
Nada poderia ter sido feito,
a não ser o tempo em que foi lógico.
Ninguém nunca chegou atrasado.
Bençãos e desgraças
vem sempre no horário.
Tudo o mais é plágio.
Acaso é este encontro
entre tempo e espaço
mais do que um sonho que eu conto
ou mais um poema que faço?”



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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

tomate cereja





tomate cereja e o balanço da comunicação, 
são meus pés estes fora do chão


Com poeira nos olhos tateio os discursos e reconstruo as narrativas que fazem chorar as flores. Ego: epicentro humano formado pelo repertório planejado, o espontâneo e o utópico. E assim o indivíduo se coloca a dançar com a Glória de Horace MacCoy. A fumaça da Uspequistão contamina. Um cinegrafista aponta sua arma e recebe o beijo da realidade: cai morto no noticiário. A ordem social (e o processo de comunicação) precisa de ações imediatas e ações de planejamento. Ocupação de espaço, factual, posicionamento, choque; e também a interferência sociocultural com resultados efetivos a longo prazo. É preciso pólvora e flor; há tempo para todas as coisas debaixo do sol, conforme escreveu um poeta antigo.


Conteúdo midiático é semelhante a comida; há diversidade de sabores e consumidores. Para produzir pensa-se nos estímulos, no efeito que se quer causar (do incômodo ao gozo - ou do gozo pelo irreverente). Para isso, é necessário conhecer a língua do outro; o potencial de percepção, os parâmetros de sensibilidade. Caminhar entre as papilas, compreender como funciona os sistemas de relevância do indivíduo-alvo e assim, estabelecer o fluxo de mensagens (esquecer a formicação de tentar ter controle sobre o processo e assumir o respectivo grau de interferência). Abandonar a vaidade e o desejo vão. 


Precisamos integrar as plataformas de comunicação, desde a conversa em roda, revitalizar a praça e potencializar o código binário, os 140 caracteres, links e tags. Hugs and kisses. A compreensão a respeito dos sistemas de controle permitidos em um processo de interação é fundamental para manter o fluxo social. Visualizar e sentir as fronteiras das narrativas.


A valorização da cultura regional e sua utilização para transformação social depende do modo como as mensagens são construídas e disseminadas. Devemos transitar entre as mídias de forma que cada migalha de conteúdo disperso construa um significado, e contribua para a evolução humana, possibilitando descanso ao corpo, recheio aos estômagos e vazão aos intestinos e mentes.
















Onde estão as (os) truganinis da comunicação? Lacrados em teorias, livros, poemas soltos, xícaras de café? Incomunicáveis; seus pensamentos estão soterrados nas rotinas cada vez mais sucateadas das redações e das assessorias plastificadas? Não acredito que estão obsoletos, talvez inacessíveis, ou se guardando para quando o carnaval chegar. "Em gaveta não se guarda coisa alguma".


A realidade cravada entre os dentes explode com seu sabor tomate cereja. Torpor. 


sob gotículas colhe tomates. o dorso nu recebe o beijo.
os lábios provam do espinho. sob o orvalho cheira as rosas.
a alvura do algodão, a maciez da terra molhada.
o toque divino sob o cheio luar
tranquilidade







passo, fatum e fado
Instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; guiar-te-ei com os meus olhos. Salmos 32:8