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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Plataformas

 




É fundamental conhecer o território, os hábitos de deslocamento e perfil de absorção de mensagem do seu público; e assim utilizar a diversidade das plataformas disponíveis para reverberar a narrativa e potencializar a mensagem, desdobrando os conceitos pelas peças e ações de comunicação.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

sol


Tempo e distância. Oito minutos e meio. O compasso do atraso. Com quantos sonhos pode se viver? Cada dia um sonho a menos. Qual o mínimo antes de sucumbir? O brilho emitido, o brilho exigido. A luz que é possível, o calor que consegue atravessar a colossal frieza. O sentido que a palavra suporta. O sentimento que o olhar sustenta. O corpo que se desfaz ao vento. 

O gás acabou. Então a água foi para o micro-ondas. O carro precisava abastecer. Pouco dinheiro na conta. Choveu, então as roupas foram para a secadora. Controle nenhum sobre a essencialidade do corpo. Desconhecimento  sobre os automatismos que mantêm a vida. Tudo se ajeita. A hora certa é a hora que se chega. Estamos sempre no tempo. Nem antes, tampouco depois. Estamos no tempo e não na nossa expectativa (menos ainda dos outros) de se estar no tempo (seja momento ou horário). Uma conversa olho no olho não se sustenta há muito tempo. Já experimentou? Manter o olhar nos olhos de alguém enquanto conversa? É o mútuo mergulho, enquanto as palavras se derramam. Sustentar o olhar é manter o equilíbrio ao atravessar a corda bamba, sem rede de proteção.

Cachorro late. Dias nublados são tão calados. Será o mesmo silêncio de um dia em que neva? Diferenças. A gota precipita, mas a chuva não vem. Sorrisos rasgados forram a paisagem de mais um ciclo do mais do mesmo. A cobrança movimenta a sociedade, mas o desequilíbrio entre o que se cobra e o que se entrega deixa os indivíduos à beira do colapso. Pessoas que não se reconhecem mais ao espelho.

Em mim os sentimentos do mundo fizeram passagem. Assim como fizeram com tantos outros. Provei da sensação de ter o potencial, ter as respostas e os resultados, de tudo o que me foi extraordinário e miserável. Soube como foi a sensação de estar no ápice e também de ver degradar ao espelho minha face, meu corpo, meus sonhos. Entendi que tudo o que conquistei e sou grato.

Poeira. Beira à poesia quando brinca com as palavras vazias e se instala sobre as superfícies. Todas as superfícies. Muda então a cor, o cheiro e a textura dos ambientes. Muda o significado e o ritmo de vida. A poeira só vira sujeira quando muda-se o olhar, ou quando se passa a mão sobre a superfície. O que é poeira em um objeto vira sujeira nas mãos.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Leitores anônimos



Já lidei com essa complexidade de jardins. Já me feri nos espinhos, senti a textura do chão, das pétalas, das folhas secas, dos ciclos. Embora nunca dependa apenas de uma das partes. Precisam ser dois. Falhei em muitas escolhas e fui refém das consequências das escolhas de outras pessoas. Embora enganoso seja o coração, bem nítido e pujante é o sentimento. O beija-flor visita jardins que não plantou, desconhece as flores que polinizou com seus voos, canta no silêncio; tem de se ouvir com a alma, esse enigma de três sílabas.  Seu torpor noturno é o refrigério entre os dias. 

Faço todos os dias um café que não tomo. Pelas ruas, pessoas se jogam de prédios todos os dias. Pessoas se afogam no espelho a todo momento. Envolvo meu pescoço em perfumes políticos dos quais me lavo com urgência. Outrossim, delicio-me ao mergulhar em perfumes da impossibilidade, de um tempo que não existe fora da minha cabeça tola. Aromas e odores. Deixo traços espalhados onde quer que repouse a rima. Leitores anônimos encontram dando pasto ao olhar pela internet, pelas ruas, ou capturados por algoritmos que vistoriam palavras chaves em um campo minado, e muitas vezes mimado, de significados.

Essa dependência química que um ser humano tem pelo outro. Essa necessidade de validação da existência, das ideias, das virtudes. Essa ânsia por absolvição, que seja feita pelo outro. Esta busca insana por algo que não está ali. Cansei. Release-me. 

O contraponto; a ternura, o descobrimento do que é novidade. O  encantamento do que nos faz bem.  Tomo café que não fiz e delicio-me com a falta de açúcar, mas muito afeto. Os bilhetes de carinho, os olhares e abraços. Enamoro-me pelas risadas que não dou, pelas palavras que não falo, pelos sentimentos que sinto. Admiro e amo a avenida 15 de maio, pela qual nunca pude passar, tampouco morar; um refúgio peculiar, moderno, angelical, instiga e acolhe; transcende a sensação inicial de deja vu. Encontrei fora do compasso meu destino naquela ponte estilo DNA de concreto em uma noite sem gravidade. Mas tudo me escapole no rodar da Terra. Será que Deus perdoa o beija-flor? Ou é ele que conduz seus voos? Indo quem sabe além de Hanff Doel. Tudo me escapole na limitação do que sou.

Leio os livros que não escrevi ao som das canções que apenas sei balbuciar. Entre o que não esqueço e o que sempre lembro, fica a sensação verdadeira da possibilidade. 

Todo dia 15 de dezembro um deles passa mal. As circunstâncias ao redor passam de calmaria à trepidação. Alternam-se até dissipar o dia. Talvez seja porque nesse dia abre o portal que os faria ter outra história. Talvez este tenha sido o último ano, ou não. Acontece que o momento é tão sublime.. um clichê de cinema… pouco te vi, mas sempre te amei! As pessoas não falam mais de amor, pois muitos o pararam de sentir.

A mesma sutileza de um voal branco ao vento. Como um véu dançando ao vento. Ela perpassa meus momentos mais íntimos. A trilha de gravidade, a trilha interstellar, a tosse na sala de cinema, as mãos que se esbarraram na pizzaria, as conversas, as mensagens anuais, o silêncio das fotos na timeline

"... você sempre o mais sensível e me passando mensagens marcantes e inesquecíveis pra mim: sempre lembro com carinho especial! "

Então o vento, a empurrar os ponteiros, me lança. A sutileza de um voal branco ao vento varre meu olhar. Não tenho lugar no coração, tampouco na memória... dos leitores anônimos.


sexta-feira, 7 de julho de 2023

houve





Houve perda. Dor. Ruptura; perda. Dor. Deixou de ser quem realmente era em virtude do ambiente o maltratar tanto a ponto de empoeirar seu sorriso, silenciar seus assobios e suspiros, rasgar seu rosto com rugas e marcas de expressão. 

Então uma reconfiguração. Ele trabalhava na fábrica de calculadoras. Calculadora de realidade outra, as contas eram outras para o mesmo resultado. Cansado. Pesquisou bastante para se distrair. Tentou de tudo, de erros a acertos. Tristeza e culpa. Sentiu que era necessário e possível respirar de outra maneira. Alterou programação e redefiniu os rumos, fez uma calculadora diferente.  

Para se obter 2, não tinha como somar um mais um. Mas retirar um de três, ou dois de quatro e assim por diante. Alguns resultados apenas pela subtração. As operações parecem simples, como o bater asas da borboleta. Escutava de longe o cantar do colibri, corria para vê-lo no bebedouro de néctar. Pensou que alguma esperança pudesse ter ali significado naquele ato natural do voo, equilíbrio e ritmo. Voltou para a fábrica, a fazer mais calculadoras.

As pessoas continuam sem entender o que digo. Não porque falo eloquente ou sou melhor que outrem. Mas por alguma razão, não entendem. Escolhem se espremer na tela vendo redes sociais ou se acorrentar a boletos circunstanciais. Ignoram o óbvio e vivem dele. Abandonam o sobrenatural. Então palavras se tornam apenas letras bem colocadas. Estão ligados ao poder, valor, riqueza. Estão firmados nos dogmas do que entendem ser as regras de plena convivência. O corpo perece. A mente pertence ao corpo. 

Já dispunha de uma caixa de calculadoras alteradas. Era então momento de espalhá-las pela sociedade. Para se obter 3 era necessário somar um mais um; mas dependia da idade dos números. Pois às vezes era preciso somar mais ou dividir, ou subtrair. 

Queremos a bonança. Momentos bons. As coisas boas. As sensações agradáveis, as palavras e sabores que fazem bem. Queremos a felicidade, tanto em instantes agitados quanto na calmaria. Nada há de errado nisso. Mas a busca está firmada em ações controversas.

A narrativa plastificada das redes sociais não atende, as mídias tradicionais estacionaram, o convívio social emperrou como a agulha que não avança no vinil. Outrossim, quando o beija-flor perpassa o pergolado em busca de néctar, ele deixa poesia, ele entrega esperança, ele catapulta sutilmente o espírito e o olhar de quem reaprendeu a ver.

A vida. O que lembramos. O que lembramos da vida. A cada dia, nas tomadas de decisões, buscamos o quê? Que necessidade de legado, de lembrança gerada a partir de valor? Ajudar os outros... ajudar a quê? A ter as necessidades básicas de subsistência física, moral, social, espiritual e emocional? e depois? Como evitar ou compreender o rosto que ao espelho te questiona. O que lembramos? O que há de se esquecer?

Os rumos estão sufocantes. O embate certo e errado, bem e mal estacionou no óbvio ao desconsiderar a complexidade que há dentro do indivíduo. As caixas com as novas calculadoras foram distribuídas, juntamente com os novos dicionários. A paisagem começou a mudar, ou continuou a mudança gradativa, até que, ao longo prazo, esteja reconfigurada com o diferente. Nem melhor, nem pior, diferente. "As narrativas se aprimoram" disse ele observando o vento varrer e apertando o sinal de igualdade.

terça-feira, 13 de junho de 2023

o lugar errante


Doces distrações e leves enganos na dança com o tempo, em dias soturnos ou ensolaradas manhãs. Entre os sim's e os nãos; entre as expectativas e os pensamentos cotidianos, individuais. Somos. De trás para frente e dentro somos. Repetição do que sempre foi, no entanto, traídos ou protegidos pelas lacunas da memória.

O reflexo no espelho me passa uma mensagem do que já fui, não sou mais e me tornei. Como as cidades que se desfazem e refazem na esperança de revitalizar alguma essência que seja.

O lugar errante. Dentro de nós ou onde os pés pisam descalços no pensamento. A consciência como ponteiro do relógio. Não para a percepção do tempo. O que me tornei? Do que observei e fiz toda a vida. O que sou em mim e no outro? A fé acalma e guia, mas o pensamento, a consciência é o ponteiro sem volta.

Sempre emblemático, ele voltou. 

Plantei flores, coloquei néctar no recipiente. Ele que antes, sem eu ter nada a oferecer, apareceu aqui, me olhou e partiu, agora voltou sem se espantar comigo, chegou perto. A visita do beija-flor sempre me foi especial. Sempre. Desde a infância, ainda mais agora.

Dias desleais. O trovador firmou além de sua existência. Fico pensando no que pode significar e no que  faz a diferença. Futilidades e sutilezas. Gente ferindo gente por poder. Imagem e reputação. Renovam esses ciclos covardes, enquanto boas almas se vão; no cansaço de lutar mais, na ingenuidade da frustração, na loucura, desespero e entrega. 

Assombrado por argumentos, caminho de mãos dadas com o silêncio. Consigo ainda ver estrelas no céu. Mesmo que sejam cristais; ainda brilham.

Sempre há o que varrer. Sempre há o que lavar. O que olhar, pensar e sentir. Não se para, mesmo parado. Isso é parte da magia sutil da vida. Perceber seu momento no instante. Perceba seu momento no instante. Seu lugar é tamanho no mundo, no agora.

Em um espontâneo encontro, subi para o gramado para tomar sol. Lá estava o beija-flor, bebendo seu néctar, sem se assustar com minha presença. Minhas ideias, meus sentimentos, então em harmonia, estavam no lugar certo. Meu corpo, meu compasso, não sei na época certa, se existe isso de época certa, mas no meu errante lugar, onde coexisto.


segunda-feira, 5 de junho de 2023

contornos


Se o fiel da balança falasse, abalaria o que se entende por equilíbrio.

E o que há de ser tudo isso? Qual a dimensão do quando? O que faz aqui a me esgueirar; tempo? O que espera do meu suspiro nessa madrugada molhada? Não consegue ouvir minha dor entre a ausência dos trovões? Não há desculpa que nos alcance. Tampouco torpor que acalme os corações. Onde a palavra não chega, minhas silenciosas lágrimas quebram clichês e alimentam a esperança, que dentro, quieta, se preserva.

O esquecimento. Arma mais mortal que a palavra. Trancafiado no esquecimento, o sentimento grita sem ser ouvido. Se debate, sem ao menos se ferir. Nada sente no esquecimento; esse nevoeiro sem fim. Lembrar aquece, liberta. Se repete para envolver. Desejar encontrar e se envolver com o que se deseja. Um passeio desavisado pelas cidades de Marco Polo. Tudo elementarmente igual. Ciclo da paz, guerra, amor e dor. Igual, trocando elementos estéticos e emocionais e do tempo.

O canto da sereia, cúmulo das expectativas e frustrações. A frustração sistêmica cria uma cultura da falta institucionalizada. Assim, os utópicos discursos de liberdade nem sabem o que deveras desejam. As cidades do óbvio. Braços em ruas que conectam ao centro das perdidas emoções. Timelines soterradas, mentes travadas, operando na lentidão imaginando-se em pleno vigor. Sucumbem.

Escravos do on-line, os indivíduos perderam os limites do mimetismo da sobrevivência e convivência. Os pilares da sociedade possuem fissuras onde cresceu uma cadeia de ramos de argumentos que complicaram os conceitos, a compreensão e a esperança. Contornos. Ruas, situações, citações, corpos perecíveis; contornos.

Entre as letras e pontuações, sou o que silenciado se faz presente. Que some na história ao não contá-la, mas fazê-la. Sou a memória que meus filhos esquecem. Sou o gesto natural deles, involuntário, mas tão característico que os define únicos; meus.

E um dia, meus rastros serão texto quando em uma caminhada os decifrará em braile, nas minhas tortas linhas e traços; nas rugas de meu corpo, no simbolismo das pintas e tatuagens.

sexta-feira, 2 de junho de 2023

impressões


Entre o formatado e o espontâneo.  As pessoas aos poucos voltam-se para viver sem intermediários. Sem extremismos e xenofobia, mas equilíbrio entre o on e off. Abandona-se as redes sociais e as telas das máquinas para ver a paisagem que as telas representam, que as lentes capturam. No pergolado, o beija-flor vem conversar. Paira, pisca, versa e vai. Assim me tem tanta paz, aquietando as aflições de outrora.

Enquanto tudo for cercado de tanta tensão, as emoções, o dia a dia, nunca será leve como buscamos. A paz que acreditamos existir e que buscamos sentir possui em seu percurso entraves que nos fazem insistentemente vivenciar o "conheça a ti mesmo" e também o outro. O que esperamos da vida, além dos discursos reflexivos e emocionais, motivacionais? O que percebemos dos ciclos que se repetem por gerações, os padrões familiares e a muitas vezes imperceptível lembrança comportamental? Alternamos nosso silêncio entre a inocência e denso desespero.

Ocupamos tanto espaço nas nuvens que não temos a dimensão da chuva que irá cair.

Um casal de idosos, braços dados. O caminho feito passo a passo. De vinte em vinte centímetros, a realidade do tempo é diferente, o vivenciar a vida e o território também. As percepções não são mais aquelas da juventude acelerada, das experimentações, da euforia, dos sonhos de um amanhã de surpresas. Agora, para aquele casal, as distâncias eram outras.

Era uma árvore de esquina. Parecia uma variação de hibiscos, mas não sei. Cor vívida, laranja com rajadas vermelhas. Fiquei ali admirando sem grandes elucubrações. Um beija-flor médio passava de flor em flor. Pausava o voo no ar, pousava nos galhos com delicadeza. Borboletas de tamanhos e cores diversas, em ritmo diverso ao vento perpassando as flores entre os versos dos colibris. Um beija-flor menor chega sem pressa de partir. Aquela esquina me acalmou.


quarta-feira, 17 de maio de 2023

ritmos


Esse tempo. Essa beirada. Pergunte às pessoas, não todas assim estão, mas muitas se identificam. Ansiedade. Taquicardia, suor em excesso, inquietude, peito apertado, euforia e tristeza. A sociedade se modernizou em busca de paz, de conforto, de uma sobrevivência com mais dignidade, enfrentando problemas de saúde que vinham das limitações do corpo diante das condições de vida de gerações passadas. Então, o dilema eram as doenças físicas. As respiratórias, cardiovasculares, motores e etc. Com o passar do tempo, o modal mudou. A depressão reinava silenciosamente famílias, escritórios, indústrias, escolas. E agora, nem tempo para se deprimir o indivíduo tem. A ansiedade o colocou em estado de urgência frenética, envelhecendo-o anos em segundos, tencionando sua saúde mental de tal forma que a paz, esse Santo Graal, fica entre a névoa dos dias diante dos olhos. Sem leituras de grandes textos, sem canções de repetidos refrãos, sem conversas longas. Apenas pílulas. Pílulas.

Muitas vezes ao canto na história. Ainda permaneço à medida que pereço, com ternura. Colocaram-me como o vilão de traumas circunstanciais; exigem o tempo todo uma ação submissa, transferem responsabilidade para meus ombros, pois assim não é necessário cada qual pensar em sua participação na história. Transitam a superfície dos argumentos e fatos como se fosse o sólido chão; no entanto, trata-se da tensão superficial que a qualquer momento poder ser rompida, afogando-os no ego. Risadas rasgam narrativas rompendo a tranquilidade dos pássaros. Goteiras martelam pensamentos e o tempo dança, dentro e fora. Gira o multifacetado prisma da realidade e os indivíduos cada qual sobressai em respectiva história de vida como protagonista de seus dramas, algoz e herói, vítima e carrasco. Não há no firmamento indivíduo de um rótulo, ou papel social, apenas. Transitam entre as emoções e o tempo, os personagens. Personagens desejados, outrora temidos e até mesmo evitados, perseguidos, negados. Personas estandarte de campanhas de comunicação, alvos de discursos políticos, de homilias e sermões religiosos. Rasas quando olhadas de perto no espelho.

Água sobre rochas, água entre areias. Mares e cachoeiras. Corpo é carne, ossos, nervos, fluidos e conexões. A imagem/sensação que se faz deles é que são objeto de desejo, produto. Dinheiro, poder, assim tudo o é; imagem e representação. Afora a subsistência, é o que movimenta a sociedade. Imagem e representação.


segunda-feira, 15 de maio de 2023

Ritual


Tratam o corpo mas não o caráter. Entristecido entendo que quanto menos me envolver com as minúcias das ruminações sociais, mais me aproximo da paz. O passear do tempo pelas coisas; paisagens e sabores nos conduzem por uma experiência mais verdadeira. Dieta de palavras e pensamentos poderia ser uma recorrente prática. 

As pessoas se entregam a rituais alimentares, rituais espirituais e financeiros. Comedores de hóstia, de pão vinho e oferendas. Exibidores de etiquetas, defensores de brasões falidos, empoeirados, tradicionais. Carregam o estandarte de um corpo e mente que não possuem. Tudo para criar imagem e não fundamento. Olhando bem, se percebe a falência de virtudes publicitárias de uma sociedade de fachada. Passaram a torcer para os bandidos porque os mocinhos se revelaram ao longo dos séculos como corruptos malfeitores, então o paradoxo do anti-herói. O alimentador de beija-flor balança espalhando néctar no chão.

Olhares vazios e tristes, em crianças. Espanta ver que os pais não percebem. E se percebem, procuram culpados e não solução. Palavras vazias e pontiagudas de adultos. Entristece perceber que não conseguem mais compreender a imagem do espelho. Condenam o próprio reflexo como se fosse o outro.  Farto dos noticiários e do além muros da vizinhança. O quanto a morte tem de interrupção para quem não morreu? O quanto ela faz quem fica refletir sobre a importância de títulos, placas e comportamentos, de intrigas pequenas, de emoções pueris?

Cada vez que as nuvens descem em chuva é como se me devolvessem tantos olhares lançados ao céu, às estrelas, ao luar e aos pássaros que plainam nas correntes quentes do ar em dias de pleno sol de um azul profundo. Cada gota encontra um poro para entrar e irrigar minhas emoções de paz para vivenciar a tristeza e romper o instante com o que me é possível de esperança. Então deixa chover. Porém, quando não se pondera, essa chuva lava alma e espalha lixo e angústias, derruba pontes e muros, casas, ruas, paixões pueris que se tornam um mar de lama.

Seja a folha que cai, ou o brilho que do sol, entre cortinas, aquece minha face; a paz. Os pés descalços na grama, as palavras bem guardadas. Sigo.

quarta-feira, 3 de maio de 2023

asas de borboleta



Faceado com o tempo espero transcorrer sem más lembranças. Que o esquecimento absorva o que não merece memória. Agraciado pela sobreposição de conteúdos, posso seguir sem a lupa social aquecendo minha cabeça. A teoria do agendamento se move como o mar na força das marés. Ultimamente, com a multiplicidade dos meios, do perfil dos engajamentos, produção e consumo de conteúdo, a perenidade tornou-se conceito descartável e o legal tem prazo de validade. Modernidade confundiu-se com ser volúvel a qualquer custo e em todas as situações. 

Pelo dorso nu descem borboletas e ramos de calêndulas perfumadas. Mãos firmes, lábios entreabertos e a mente sem fronteiras. Agente do caos, o bater das asas da borboleta é só um instante do seu voo. Sua trajetória, seu encantamento de cores ao vento, sua linha no ar desafiando a rima e o olhar. O sol pela janela afaga com calor os rostos que despertaram bem cedo. Dez batidas por segundo em um voo nada errático. Trinta graus celsos para voar. A temperatura do ambiente influencia em sua capacidade de voar. 

Me é interessante a maneira como o pensamento vem, borboleta no meu cérebro emocional e vai. Leva um pouco do que sinto, deixa um pouco do que lembro. Parte com algo que não tem mais encaixe, mais sentido, ainda assim nada se abala. Compreendo melhor o ritmo das coisas sem delas ter de falar. Sinto.  Somos o óbvio do diferente que queríamos nos tornar.

Dez batidas por segundo em um voo nada errático. E o que se passa no coração de quem vê? E como se transporta o olhar de quem está preso em uma lógica de vida tão limitante e aprisionada? Que narrativa natural liberta de verdade, com a paz de viver bem? Independentemente de onde e como se está. O grito que você não escuta, ainda é grito e lágrimas são lágrimas, por mais que o poema não revele.


quinta-feira, 13 de abril de 2023

Desacelerei


Percebi que o compasso outro era numa frase sem estrutura comum. Então desacelerarei. E já o fiz de fato. Os pés descalços. O rock reverberando pela madruga de estrelas lindas e planetas tão próximos em sua absurda distância. Tudo brilha. Meus pensamentos, os sentimentos. As rimas sem beleza, mas profundas de tanto eu que emanam a ser tão comuns. Entender pra quê se ninguém mais saber ler?

Coexisto na insignificância das entrelinhas. Conceitos incrustados no silêncio. Um feito inigualável, o grito no brilho do olhar. Se memória, futuro ou desespero, ninguém sabe.

No sopro de uma noite sem estardalhaços ao redor, respiro sem peso, mas com o distanciamento de um suspiro.

"Pouco a pouco fica evidente o distanciamento dos astros disfarçado do aumento do universo, ou a colisão de corpos como consequência da gravidade e órbita. O que há de fato é um canibalismo de argumentos, soterrando olhares de fuligens da expectativa."

quarta-feira, 5 de abril de 2023

velho


O corpo envelhece lentamente. Gota a gota. A pele muda, o semblante dribla os cosméticos e bisturis. A memória marca o tempo, o raciocínio e toda a sua estrutura sucumbe ao que se torna realidade. Conceitos tais como limite e obsoleto pontuam a jornada. Como se preparar efetivamente para viver o envelhecimento? A pele se desfaz no toque e o vento carrega a poeira do que um dia fomos. Como compreender que a carne sobre os ossos perece, que as ideias que um dia foram vanguarda tornaram-se o novo paradigma a evocar ruptura?

Inevitável escrever o que não cabe no meu silêncio. Tão comum agora me é o gesto de repetir. Velho. Nem sempre cansado, ou estarrecido com a vida. Muitas vezes admirado com a beleza dos olhares, das risadas, do bater das asas dos pássaros e das borboletas. Espaços em branco, não vazios. Recortes em cores e preto e branco. Os momentos são tão peculiarmente intensos e porventura tênues que não se pode em um relato abranger sua totalidade, apenas nuances. E são elas os retalhos da grande realidade.

O conforto não está no luxo, embora muitos tenham experiências nesse sentido. O conforto muito mais é um estado de espírito que depende do indivíduo. Claro, a mensagem, os meios, o contexto, podem fazer com que ele conceba o conforto como algo dependente da matéria. No entanto, quando se concebe individualmente o que é estar em conforto, percebe-se que é tal como respirar. Um instante que se alcança sem tem raciocínio lógico para o fazer. 

A rede balança e range. O vento passeia pelos galhos. Os pássaros entre o cantar e o bater das asas. O corpo se alimenta, proteína, açúcar, destilados, fermentados. A mente se exercita em contemplar, absorver e se integrar. Enquanto muitos preferem a confusão e a angústia do caos; perpasso pela espontaneidade sem cabresto da vida.

Corredores intensos os dos hospitais, das clínicas. Corpos ligados a mangueiras, equipo eterno sem perder o fio. Tudo se esvaindo a conta gotas. O corpo sucumbindo ao tempo, às mudanças das dunas, ao passar pelo sol, todos os dias, mesmo sem o ver. Casas caladas de emoções trancadas em corpos frustrados por causa da limitação imposta pelo efeito tempo, acaso e comportamento. Desfile de porta-retratos. Cuidar do presente como se fosse o futuro, pensando no passado que será construído. Dia a dia.

Unhas sujas de um dia sem lastro. Sem peso nos ruídos. Sem dor. Era apenas o deixar o corpo seguir.
Tantas histórias, tantas memórias. As pessoas não sabem onde colocar e que volume dar.

sábado, 25 de março de 2023

nada normal



Quais os parâmetros da ingratidão? Tantas vezes, a apatia, ou o silêncio são tidos como ingratidão, sendo assim o estopim para um posicionamento e uma comunicação agressiva por parte do outro interlocutor. Por outro lado, os comentários ingratos, muitas vezes "pelas costas" do objeto da mensagem passam "batido" pelo crivo do bom senso, sob a bandeira de crítica construtiva. A comunicação interpessoal evoca uma maturidade salutar na interpretação da mensagem, do contexto, do que se conhece do repertório dos interlocutores e também o que se supõe como referencial dos mesmos. Comunicar é simples. A complexidade está ao redor da mensagem. 

Neste ínterim, tornar harmônico os ambientes de convivência das pessoas estabelece-se como uma tarefa cada vez mais utópica. A diversidade cultural do indivíduo, somado ao seu poder de influência imediata nos discursos e interpretações de mensagens (verdadeiras ou falsas, completas ou fragmentadas) dificultam as narrativas corporativas e desafiam as técnicas de gestão de pessoas. Então, novos conceitos comportamentais estabelecem o famigerado novo normal.

Novo abandono de emprego é a velha prática de "morcegar" (coitado do morcego). Impressionante as pessoas que perdem a oportunidade de somar no emprego ou no trabalho culpando quem está ao redor. Nem sempre os empecilhos estão no ambiente de trabalho e condições oferecidas pela empresa. Muitas vezes está no modo como o indivíduo vivencia os dias. Assim, este tipo de perfil contamina não apenas o ambiente profissional, mas fundamentalmente o pessoal.

Nada normal. A relva dedilhada, os cabelos cheirados de filhos antes de abençoá-los, o frescor da brisa que toca a face sem avisos, roubando quase um beijo, um flerte com o tempo. A gratidão por detalhes de um dia que aparenta ser comum. A apoteose do silêncio de ruídos naturais. Poros lacrados. Corpo pujante. 

sexta-feira, 24 de março de 2023

saber e sentir


Narrativas de uniformes transitam pelas telas, corredores e balcões. Comercializa-se interpretação, ação e reação. Tais narrativas estimulam uma demanda que não precisamos aumentando a probabilidade de sofrermos uma dor que não precisaríamos sentir.

Essas linguagens e códigos delineando o que entendemos ser realidade. Perdidos, encontramos aconchego no silêncio de um dia bom. As pessoas buscam pelo que tem sentido gritando argumentos absolutos, em uma configuração social falida.

Meu filho sorrindo ao dormir, sonhando com algo que o diverte e traz paz. É o mesmo que o desabrochar de uma flor, o cantar de um pássaro, o movimentar do vento no bambuzal. Beleza natural. Assim os raios de sol me encontraram pela manhã. As nuvens transitam sem compromisso com os formatos criados, os contrastes da paisagem. As páginas permitiram livre trânsito às palavras, e as letras se libertaram no processo de entrar pelos olhos e voltar para o papel. Respirar ficou mais fácil, quando o peso de certas narrativas ficou acorrentado nos argumentos atrofiados de quem nem em uma nota só samba. Entre o saber e o sentir; ir além.

Penso como a vida nos traz algumas nuances do porvir além dessa camada de rotinas. Nuances do que verdadeiramente importa. Mas quando vislumbramos isso, as rotinas nos puxam, nos prendem e nos conduzem. Vivencio narrativas que se entregam a ser tempestade de areia conceitual, diante dos curiosos olhares que sabem que existe uma algo mais.  No entanto, o peito treme. A respiração não aceita se encaixar no compasso natural. O corpo me avisa que irá sucumbir, pois a mente quer partir. O beija-flor me olha silenciosamente. Ele sabe.

sábado, 18 de março de 2023

lado outro



representação cultural é fantástica no modo como ao mesmo tempo informa, forma e conduz. São encantamentos, direcionados pelo desejo artístico e pelos fundamentos mercadológicos. 

Cores, sons, traços e movimentos. Combinações diversas escondem discursos e intenções à medida que retêm o olhar e geram até mesmo interpretações que divergem do cabresto. Ainda assim, para o organismo social se manter vivo, é elementar dar voz às manifestação culturais, mas sem a ingenuidade do "tudo pode".

Na parede, o ponteiro dos segundos se recusa a subir, tampouco descer. Na eterna tentativa, quase no nove, impede os demais de avançar das dez para as duas. Se tarde ou manhã já não importa. Entendo que sou o que acontece fora desse humano radar; o tempo medido. A flor de papaia que se esconde.

Qual o mérito que se espera alcançar? Luxo? Conforto? Audiência? Influência? É importante refletir sem necessidade de prestar contas aos outros. Uma reflexão sincera, com quem realmente interessa;  a pessoa que estará na cova ou na fornalha com você. Qual o legado e o propósito? Um busto na praça? Uma placa de rua, de auditório? Uma foto na estante? Uma memória? A lembrança embebida de qual sentimento? Dó, compaixão? Saudade? Orgulho? Vergonha? É importante não esquecer do peso das atitudes, dos significados, dos exemplos. É importante não se tornar escravo da reflexão. Equilibrar-se é um processo contínuo e não um porto seguro.

As narrativas em trama tecem uma realidade para cada par de olhos. Furos e remendos são por vezes desapercebidos. O que acontece no instante em que os olhos estão fechados ao piscar? Um paralelo universo sem olhares.

Um beija-flor sempre me visita nos momentos mais aleatórios da vida. Sempre é uma visita, pois seu voo não é igual, sua estadia perto de mim soa quase proposital. Ele me olha. Pousa. Voa.

sábado, 11 de março de 2023

estatísticas do absurdo



Infográficos no cardápio dão conta do quanto a sociedade adoece. A essência do ser humano espalhada em números que constatam contrastes, violências e esperança. Argumentos erguidos sobre recortes de planilhas. Assim, criam-se bases sólidas de narrativas que extraviam o pensamento individual e as atitudes coletivas. Estatísticas do absurdo amparam decisões para o bem e para o mal. Cada um estabelece o recorte dos dados que favoreça seu padrão de escolha e interpretação. 

As timelines estão abarrotadas então de versões da realidade que buscam soterrar o diferente, por meio da velha prática de desacreditar o outro. O que antes era apenas tática corporativa ou de política, instala-se cada vez mais nos lares. As pessoas estão gastando energia equivocadamente. Buscando resultado e respostas em locais errados, da maneira errada. Nesse nuvem de equívocos são gerados os fundamentos de uma nova geração. Assim, passa-se o tempo e estabelece-se como verdade fundamental. Paradigmas escorrem dessa forma em uma ampulheta interminável, que se reinicia continuamente.

Em tudo o que fui bom, as pessoas tencionaram até eu errar, por estresse extremo (e limitação),  e poderem atestar minha limitação e insuficiência. Com a suposta admiração, parceria e até mesmo dependência, mataram minhas virtudes quando confiei a elas um espaço que não deveria em minha vida. Quantos não foram os que deram com uma mão e me esbofetearam com a outra, para se exibir ao me ajudar, mas me rebaixar, mesmo eu não querendo me elevar sobre ninguém, mas pelo contrário. Sempre quis apenas viver meus dias em paz.

Uma criança aprendendo sobre os números nem imagina como eles não apenas estão presentes, como são ferramentas de manipular o que não se mede, e não se enumera. Se enamora; a vida. 

sábado, 24 de dezembro de 2022

Natureza morta

Palavras estagnadas, não conseguiram se formar e sair pelas cordas, tampouco alcançar a garganta. Menos ainda estabelecer-se em frase e assim quem sabe talvez fazer sentido aos ouvidos sem pálpebras que por perto poderiam estar no momento. Confiar nas coincidências e na providência é algo que beira a insanidade; um padrão de comportamento contrário ao padrão da maioria.

As narrativas das mais diversas plataformas de mídia transitam não mais por um fluxo bilateral de mensagens. Ele agora (há muito tempo) considera os fluxos semelhantes aos neurais, com suas grandes, pequenas e múltiplas redes de conexões. Um número alto e intenso de emissores, mensagens e receptores, com um tempo de processamento (assimilação e retenção da mensagem) menor do que em gerações passadas. Desta forma, as doenças emocionais tais como a ansiedade, passam a ser recorrentes e permanentes. Como fazer uma comunicação que não piore o cenário? Consciente de que não tem o poder de alterá-lo por completo, mas de ser a alternativa em um contexto tão avassalador e impessoal? Na comunicação pessoal é o desafio para se manter as relações familiares. Na comunicação corporativa, é a árdua ação de proteger uma marca, conduzi-la ao amadurecimento, e reverberar seu posicionamento e sua missão de forma efetiva e não apenas de fachada.

A impessoalidade não é mais de mensagens robotizadas, mas de narrativas sistêmicas programadas, de  uma espontaneidade forjada, veiculada em stories, grupos de WhatsApp, nos cartões de natal e aniversário ainda existentes, tudo velado como se fosse orgânico. Baterias sempre carregadas e olhares ávidos por ter sempre sinal. Verdades e pós-verdades incrustadas no comportamento cotidiano e então tudo passa a ser tido como natural.

E esse novo natural que se instaura na sociedade e confunde os referenciais, propicia ao conflito, à sobreposição e uma suposta evolução pela aniquilação do divergente e não a partir de um possível consenso e coexistência. Veladas de paz, as narrativas tornam-se ácidas, mesmo que silenciosamente, aumentando a fissura entre as famílias, grupos sociais e as bases culturais. Neste cenário, mais do que ter os sentidos apurados, saber utilizar a interrogação e as reticências para a ser um requisito de sobrevivência.

Havia uma árvore na floresta. Se comunicou com as demais pelas raízes, alertando a chegada de uma nova praga. No entanto, não tinha como correr. Centenária, com suas raízes espalhadas por todo o solo, ela sentiu o vento, absorveu dele um pouco de Co2, percebeu o percorrer dos últimos raios solares pelas suas ranhuras, folhas e galhos, sentiu o golpe, sucumbiu. Na queda, seus frutos foram longe. Foram também no bucho de pássaros. Suas flores forraram o solo de sua putrefação. Durante alguns anos, a sua memória era percebida pelo buraco na paisagem e pela maneira com que cada organismo se aproveitou do que dela restara. No entanto, não há canção que perdure, por mais que repita, o tempo. sempre ele, ou a percepção que temos dele. Pujante, a natureza morta abusa da paleta de cores e argumentos.


sábado, 1 de outubro de 2022

Nem sempre ganhar é melhor

O gozo da realização, a euforia do reconhecimento, o acesso liberado a regalias que só quem ganha alcança. O sabor do mérito, o perfume do legado que fica no ar. Os ensinamentos a serem repassados, a marca deixada na história, a paz do dever cumprido. Atributos apenas da vida dos vencedores? Ninguém ganha sempre e em tudo. Poder, riquezas vêm e vão, mas as pessoas, quando se perde, nunca mais; já diria o corvo. Nunca mais. Perde-se pessoas com a morte do corpo, perde-se todos os dias com a morte da essência, corpos vivos enchendo as multidões de indivíduos com ansiedade, nervosismo, espasmos de estresse, depressão, problemas com o peso, intrigas pessoais profundas de coisas tão corriqueiras. Um colapso do modelo social. Ou sua retroalimentação, para reiniciar ciclos.

O cenário então se configura com o excesso de narrativas que buscam consenso, aceitação e conciliação. Todavia, por estratégias diversas. Narrativas que causam inquietação e questionamento para reflexão; narrativas que causam confusão (essas geram insegurança e estimulam o desejo natural por se assegurar em um referencial); narrativas que geram apatia controlada (pasteurizando o pensamento individual, uma lobotomia social); narrativas de reação (instigando "escolhas", fruto da persuasão); narrativas de alienação pelo entretenimento; e tantas outras, cada qual com seu movimento padrão pelo tabuleiro da realidade. Se antes o planejamento da estruturação de uma narrativa podia demorar muitos copos de cafés, atualmente (há muito tempo) é preciso ser mais dinâmico no intervalo entre planejar e executar.

Paira entremeio a sociedade de maneira mais intensa o FOMO (Fear of missing out) e as narrativas corporativas só intensificam esse processo. O tempo; recorrente prisão e liberdade. Ser real como proposta do novo (2020) "bereal"?
Limitar o tempo de exposição das mensagens e às mensagens pode ser uma ação para não sobrecarregar "a nuvem" e sofrer com a chuva de multiplicidade e também de confusão. Não se trata de ganhar ou perder.


O que precisa e deve ser comunicado e que precisa e deve ser contemplado? E o que se deseja? Conhecer-se a ti mesmo é o exercício recorrente tão necessário e eficaz, que talvez seja uma recomendação latente para a saúde social dos indivíduos. 

Na elaboração das narrativas corporativas, todos devem fazer com mais cuidado, responsabilidade e agilidade; e claro, usar os cafés como prazer e não para contar do tempo que passa rsrsrs; seize the day, e aproveite a vida; "a poderosa peça continua e você pode contribuir com um verso".

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

artesanal


Fica um sabor de desilusão toda vez que os noticiários nos alcançam. Sempre que as frases estruturadas como ondas do mar arrebentam sobre nossas expectativas de um dia diferente.

Driblando tantos termos e analogias e tentando compreender os relacionamentos conduzidos via a comunicação corporativa. Rede Orgânica (viva) ou robotizada, industrializada? A contemporaneidade trouxe valor agregado ao artesanal. Desde as bebidas, doces e mídias sociais. O artesanal (orgânico) é mais pessoal, mais vivo e próximo no relacionamento. Assim, ganhou mais relevância. Visualmente, um perfil de rede social industrializado pode ser mais agradável ao olhar, sendo padronizado, com harmonia de cores e demais elementos. No entanto, não inspira ou instiga ao envolvimento, engajamento e à retenção da mensagem, tampouco integração com a narrativa.

Em tempos de tudo digital, padrão e robotizado via algoritmos, as pessoas sentem a necessidade de um relacionamento (e atendimentos) mais humanizados. O processo industrial, afora as incontáveis e fundamentais vantagens, traz também distanciamento e impessoalidade. O que em alguns setores, acaba sendo mais um obstáculo do que facilidade para exercer a atividade fim. Intercalar artes elaboradas, como fotos e vídeos (secos), tem uma conversa mais direta, sem rodeios e ter um conteúdo menos frio contribui para deixar o perfil mais próximo do usuário. Claro, é necessário ter alta performance na resposta a "direct" e posicionamento a respeito de comentários. A avaliação deve ser rápida, séria e as ações transparentes. Não se trata de se apoiar em invenções, e aqui não se propõe uma receita. É preciso compreender a missão, valores, princípios da organização e da sociedade. Além disso, também considerar a finalidade do relacionamento com os diversos públicos. Sem receita miojo. A solução está muito mais na dedicação e na sinceridade de fazer e trabalhar a comunicação. 


quarta-feira, 3 de agosto de 2022

pertencimento

Fala-se muito em jargões das profissões e os que marcam a sociedade. As narrativas corporativas buscam aumentar a retenção de mensagem, absorção e incorporação de cultura organizacional e multiplicação de mensagem. Para isso, brindes, palestras, metas, mimos, desafios, desafetos e cobranças. Após a cortina de fumaça e do uso de todos os aparatos de tecnologia, de treinamento e desenvolvimento, o que é orgânico ainda inspira mais veracidade.

Dar voz aos sujeitos ao invés do modelo títere de interação. Em uma campanha interna de comunicação, ao utilizar os funcionários para serem porta-voz e rosto da mensagem, a empresa potencializa na equipe o aspecto do pertencimento, desdobrando em contribuição nos demais atributos corporativos supracitados.

Mas isso não é novidade. Muitos já fazem, até mesmo para otimizar custos. O diferente é simples. No bastidor, na construção da mensagem, ouvir não apenas o interlocutor, mas o mensageiro. Diversos roteiros de cinema se tornaram primorosos quando os atores puderam contribuir. É preciso estar preparado para um processo de integração. Sair um pouco dos muros conceituais, das vaidades de crachás, da prisão dos ponteiros. Permita-se a duas atitudes simples: Observar e Dialogar.

Com o devido amadurecimento, o diálogo de pré-produção e produção enriquece não apenas a mensagem mas todo o processo. Sugestões simples de posicionamento de câmera, alteração de uma fala, entonação, postura corporal, olhar, vocabulário, figurino, passando até mesmo pelo briefing de como o público-alvo absorve determinado conteúdo. Ouvir e dar vazão aos ruídos do processo de comunicação, participar com os demais atores da ação de comunicação, são atitudes e escolhas que interferem positivamente e efetivamente. Pertencer é estar vivo, se envolver.