terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Negócios sociais e a atrofia do querer



Observando as atuais parcerias entre iniciativas privadas e entidades sociais percebe-se a tendência na criação de estruturas de Negócios Sociais (que difere de uma organização sem fins lucrativos pois deve buscar lucro moderado para expandir o alcance da empresa, melhorar o produto ou serviço sem tornar-se essencialmente comercial, tampouco desmembrar-se da missão social). Atividades tradicionais de arte ou subsistência cultural são então formatadas em um modelo básico de negócio para gerar trabalho e renda.

No entanto, a perenidade destes novos negócios sociais, forjados sob a tutela de associações, é comprometida uma vez que não foram devidamente trabalhados os aspectos de interesse e engajamento dos participantes. Pois para a iniciativa privada, no exercício de sua responsabilidade social, é mais interessante a criação de um negócio social, pois os conceitos agregam valor às marcas que o impulsionam, todavia, os integrantes contemplados de tais parcerias (a comunidade) querem que o negócio social transforme a vida deles de forma a mudar de maneira expressiva a condição de vida. Desejam ainda que o negócio social se torne um negócio comercial lucrativo, em pouco tempo. Assim, aos poucos, a constatação do paradoxo em que se encontram se desenlaça no abandono dos integrantes da iniciativa ou na retração do negócio social, tornando-o dependente de uma iniciativa privada ou pública como mantenedora.

O indivíduo oscila então entre os negócios sociais e a atrofia do querer. Os sonhos individuais devem então respeitar a peneira que iguala o poder social chamando-o de vocação cultural da comunidade e anseio social. Neste sentido, a iniciativa privada o afoga em uma série de treinamentos motivacionais e visitas a outros negócios sociais, para sensibilizar o indivíduo a ceder aos interesses, ou missão social do negócio. O foco da iniciativa privada é a uniformização social pelo negócio controlado conceitualmente e independente financeiramente sem tornar-se comercial por essência. O equilíbrio nestas relações talvez possa ser vislumbrado a partir de uma correta leitura do ambiente e respectivos interesses das partes envolvidas. Neste cenário proposto, a iniciativa privada deve se destituir do papel de déspota, o poder público e a comunidade do de vítima. A construção do diálogo necessário passa por um processo de atrofia do querer individual, para remodelar o que a parte dominante determina ser interesse coletivo. A reflexão sobre os interesses se faz necessária; antes do imediatismo da iniciativa privada em fazer parcerias (e mitigar conflitos sociais), das comunidades em ganhar dinheiro (mudar de vida) e do poder público de obter recursos e imagens (manutenção política).

Antes de firmar uma parceria, conhecer o espaço e seus personagens. Conflitar interesses e construir um objetivo consensual, estabelecendo então a missão social do novo negócio. O passo seguinte então é formatar o negócio e potencializá-lo no mercado. Após o suporte inicial, propiciar então a sustentabilidade financeira, econômica, operacional, ambiental e social do negócio. Estabelecendo a margem de lucro moderado como meta. Lucro este que prevê a remuneração de mercado para os participantes e investimento na expansão de mercado e melhoria de produto, sem ferir a missão.

Só então se inicia a execução do planejamento de divulgação do Negócio Social como fruto de sucesso da parceria entre a iniciativa privada e a comunidade. O que vemos hoje é o contrário; empresas afoitas a fechar parcerias com o foco em controlar um conflito social por meio da exacerbada divulgação de uma atuação local ou parceria firmada, sem considerar a verdadeira demanda e o modo efetivo de atender. A questão não é divulgar mais, mas sim fazer melhor as parcerias sociais. Quando as empresas e instituições (públicas e privadas) compreenderem isso, o cenário mudará significativamente e a divulgação ganhará mais forma pois o conteúdo é algo sólido e não filantropia mascarada de vanguarda social.

este assunto renderá mais por aqui...



Nenhum comentário:

Postar um comentário