quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Conteúdo Social - as narrativas pulsam


Uma matriz de conceitos rege organizações e até mesmo confunde gestores em uma promessa de êxito de fluxos complexos em busca de transparência, que aparentemente deveria ser o resultado de processo simples. Matriz de risco, sustentabilidade, responsabilidade social, engajamento profissional, territorialidade, compliance, stakeholders, brandend content e tantos outros.

Richard Edelman, referência em Relações Públicas, com graduação e MBA em Harvard, afirma que “Ganhar dinheiro apenas já não é o suficiente; é preciso também melhorar ativamente a sociedade. As organizações têm a obrigação de demonstrar altos padrões éticos e provar continuamente que não estão interligadas de forma indecorosa com líderes do governo”.

Percebe-se que os padrões éticos de uma corporação devem estar refletidos em suas narrativas não de forma engessada, mas de forma que os empregados da empresa absorvam e reproduzam o discurso da empresa se apropriando dele como seu. Brandend Content e as novas nuances midiáticas interferindo ou se adequando ao fluxo social contemporâneo. O modo como as pessoas se relacionam com a comunicação, na geração e absorção da informação e criação de sentidos exige novo modelamento. Em um ritmo frenético entre acessar e produzir conteúdo, o usuário não se permite a intervalos, dar pasto a vista em comerciais. Então o conteúdo de marca surge como possibilidade, mas não pode se estabelecer como no filme O Demolidor (1993 - Dir. Marco Brambilla) onde os jingles (em seu formato original) se tornaram produto cultural, suprimindo conteúdos.

Deste modo, o conteúdo passa a ser o novo subproduto das corporações. Uma espécie de venda casada que impulsiona o consumo, a venda e a absorção da mensagem. A partir de narrativas que remetem à raiz e história relevante para o público alvo, os conteúdos devem ser elaborados a partir da transparência, legitimidade, qualidade e irreverência, para que o indivíduo perceba que se trata de um conteúdo de marca, mas que aquela narrativa apresentada o proporciona uma reflexão ou um dado relevante para seu universo particular. Além de um produto, a moral da história. Por meio do conteúdo de marca a empresa espalha sua missão, vende seu produto e busca se integrar à sociedade de forma igualitária.

O conteúdo de marca amplifica as ideias além dos produtos. Essa narrativa trabalha sobre as premissas Desejo, Necessidade, Vontade; como no final da música dos Titãs “Comida” (1987 - composição de Arnaldo Antunes/Sérgio Brito/Marcelo Fromer).

O marketing então nesse cenário, assim como o jornalismo, se coloca no lugar das pessoas como uma delas, de forma verdadeira, fazendo a diferença na vida das pessoas a partir dessa ambientação. As narrativas são ambientadas, regionalizadas sem perder o link com o macro universo da sociedade. Semelhante foi feito no cinema com o livro de Ismail Kadaré que fala do Kanun, um código de lei de origem patriarcal que prega um loop eterno de vinganças e foi adaptada em Abril Despedaçado (2001 – Dir. Walter Salles) regionalizando a questão que aqui também se encontra. Essa dinâmica, quando aplicada por corporações, alavanca aceitação de conceitos, interfere em comportamentos sociais, dentre eles o consumo, favorecendo venda de determinados produtos.

O jornalismo assim permeia vertentes que podem representar uma nova ordem na organização da profissão e interferência na sociedade. O jornalismo também como instrumento para elaboração de um correto conteúdo de marca, que não se aprisiona na publicidade de convencer, mas no conteúdo de promover reflexão, interferência e poder de escolha; conviver. As narrativas pulsam, perpassam plataformas e linguagens e padrões sociais. Percebem a pessoa como indivíduo e sujeito social. Instigam e acalentam.

Pode-se afirmar então que essa narrativa conduz a interpretação do público, educando-o para relacionar o conteúdo não apenas a uma marca, mas a um padrão social que transcende paradigmas e valoriza ainda a cultura.

Para viabilizar o acesso frenético da geração contemporânea o streaming estabelece um novo modelo de consumo de dados. Milhões se entregam a este serviço como única ferramenta (Netflix 80 milhões de assinantes, Spotify 40 milhões, Apple Music 17 milhões). O streaming é o poder do instante. Vale mais o agora, o “enquanto eu acesso” do que o download. A apropriação do conteúdo muda. Não é preciso ter o arquivo, a informação, o produto, mas poder acessá-lo quando e como quiser. Assim percebe-se como se alastra o perfil colaborativo de mídia, criação e gestão de dados, e também de espaços (ex: escritórios Co-working).

O Youtube está para o mundo o que a Rede Globo foi para o Brasil durante décadas. Janela da realidade. No entanto, a grade livre do youtube é um ciclo que oscila, revoluciona e permite que cada um produza e consuma o que quiser, como quiser de onde estiver. Aparelhos filmam com qualidade, publicam e distribuem dados com rapidez. A produção barata impulsiona lucros.  Todavia, uma nova configuração de cobrança aponta nuances de um mercado jovem (internet) que reorganizou o modo de fazer negócios, de fazer política, de comunicar, de ser sociedade.


Narrativas palpáveis que entregam sentidos e promovam envolvimento. Assim, seja por streaming ou por conteúdo de marca, a comunicação segue atualizando formatos, plataformas e linguagens, alternando padrões e fluxos em busca de interligar seres humanos e mensagens.

Publicado também em minha página na http://obviousmag.org/rumos/

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