quarta-feira, 20 de julho de 2016

Beija-flor

 
 
O clichê flor e beija-flor, a rima que atravessa poemas, fábulas e fotografias. Canções e emoções estruturadas no gesto natural de retirar da flor o néctar, deixar nela pouco de si (saliva) e prosseguir em um livre voo de precisão. A harmonia das asas no ritmo dos pensamentos; o tempo que transcorre as dimensões de um observador, de um semelhante, de si mesmo refletido no espelho d'água.
 
Suas aparições quase que sincronizadas. Seus olhares quase coincidências, evidências de uma harmonia que precede nossa percepção, nossa intenção e sentimento. A flor, com a textura de suas pétalas, os contornos de seus órgãos, a intensidade de seu perfume, a composição de seu encanto. O vento mensageiro indica a localização, o beija-flor encontra, reencontra e leva na sua liberdade o que o alimenta; o que o faz ser especialmente único; para ela, para si.

Seu voo tem pausas como as mais belas canções. Seu canto encanta pela sutileza. A presença dele em um jardim traz paz e admiriação. Se borboletas são flores com asas, o beija-flor se faz um poema em movimento, no jardim do secreto imaginário de cada um.

Semelhante a tantos; às vezes sinto falta de um tempo. Um tempo em que a brisa fazia mais efeito do que sentido. Muitos se sentem como Léolo, ou seu irmão. Assim é a vida tal como o tempo; ora imponente, ora sutil. Hora que passa, séculos que se sobrepõem, minutos sorrateiros, segundos que não cabem o sentimento que implode no peito.

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