sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

sopro

Assim como a brisa e o vento cortam sem ninguém ver; sangro e choro sem ninguém notar que meu sorriso é meu velório. Sucumbi ao labirinto do tempo diante de meus olhos, dentro de mim... e as linhas de Galeano embalam na noite meu sono:

"A ventania - Eduardo Galeano - Livro dos Abraços

Assovia o vento dentro de mim. Estou despido. Dono de nada, dono de ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas, sou minha cara contra o vento, a contravento, e sou o vento que bate em minha cara."


Não sabia que existia negra rosa; tampouco que devastasse meu sossego esse sentimento, que me tira o fôlego fazendo me arrepiar, me da paz na madrugada ao tirar meu sono para me ninar. Eu ali no canto, na nota chamada silêncio, observo você, vislumbro os sonhos enquanto saboreio nuances da realidade.

Controle, é o que impuseram a ela. Atrofiada, lançou suas esperanças de felicidade em um recomeço do mesmo, em outro lugar. A poda pode tanto matar quanto fortalecer a planta.


Desconhecia a diversidade e beleza encantadora e peculiar da natureza do mesmo modo que não sabia dos seus efeitos sobre meus sentimentos ao longo do tempo. A maturação intensificou minha ridicularidade e pieguice nos versos, nos gestos, no gozo. Sou prisioneiro da liberdade de amar. Mas...

Aprisionado na leveza de escrever palavras que nem lidas serão e imaginar o nascer de um sol que não virá, não de olhos abertos, ele disfarça significados  no silêncio, ao som da chuva... Na esperança de que a vida continue surpreendente, mudando sempre até que ele se envolva finalmente no amor angelical...

O que há de liberdade na vida além das incertezas? Fora do alcance das amarras do cotidiano, a liberdade do desejo, dos sentimentos e sonhos estão um passo atrás do olhar, do lado de dentro dos olhos, vislumbrando pela vitrine a realidade que quer transformar. Mas romper a membrana para sair pode significar perder a visão, ou mudar as cores das coisas. E quem diz que tudo deve ser da mesma maneira? e quem pode garantir que perder a visão é não enxergar? Apura-se os sentidos, eleva-se a outra dimensão o relacionamento com o que é real, o que é belo, o que nos faz gozar.