O rito da legitimidade das mensagens sofre pressão da
diversidade dos meios e plataformas de comunicação. Os trâmites essenciais do
processo de construção e disseminação de mensagens exigem agora não apenas
habilidade para atuar em multimeios
em tempo hábil (imediato), mas fundamentalmente em desacelerar um pouco a avalanche
comunicacional e trabalhar a percepção sobre o que se quer dizer, a mensagem
construída, as partes envolvidas, os repertórios destas partes (para tentar
compreender a dinâmica de percepção), os desdobramentos de interpretação da
mensagem e relacionamento com o processo de comunicação; tudo isso de forma
perene e integrada à questão do tempo na contemporaneidade.
“A comunicação é a vítima desse progresso e é preciso
desacelerar e realizar autorreflexão sobre ela”, com sabedoria se posiciona
Dominique Wolton em entrevista à Comunicação Empresarial (Ed 95 - ABERJE 2015).
Dentre os aspectos pertinentes a essa autorreflexão, na busca pela famigerada
legitimidade, estão a linguagem, a percepção, o ritmo e os limites.
Após definir a mensagem e o público, é necessário refletir
sobre a linguagem a ser estabelecida na narrativa, seu formato, plataforma e
peculiaridades. Atentar ao ritmo de transmissão de mensagem e os limites de
desdobramento (esses praticamente inexistentes). A partir disso, deve-se
observar e até mesmo (resguardando a distância de observação do outro de
Clifford Gertz) interagir com a percepção do outro para assim aperfeiçoar o
processo de comunicação, redefinindo os ritmos da narrativa (incluindo a
linguagem), limites de reverberação do conteúdo e a legitimidade de suas
interpretações (atrelando vínculo com a fonte oficial do conteúdo).
O tempo inevitavelmente passa e isso não deve ser
angustiante, mas argumento e espaço ideal para transformações e
aperfeiçoamento, não em busca de perfeição, mas da perenidade do processo de
comunicação, possibilitando inquietude, questionamento, diálogo, consenso e a
liberdade de pensar e conviver. Neste sentido, o passar do tempo incita-nos a
trabalhar esse olhar; esse olhar a realidade, olhar os sentimentos, espaços,
pessoas e sentidos e assim narrar (em gestos e palavras) nossa experiência
enquanto organismo vivo em interação social.