Ilustração: Ramon Bruin |
Não sei se nova é a narrativa, a linguagem jornalística, o
olhar, ou ainda assim o tempo. Antes o ideal era a câmera não tremer e as
frases serem bem concatenadas. Agora tentam vender realidade viva. Algo que
pulsa incontrolavelmente. Tanta espontaneidade que chega a parecer um
espetáculo de dança contemporânea. O imprevisível é parte do enredo, está no
script do espetáculo midiático.
A inquietação é premissa para a evolução. Nesse sentido, os
programas de TV têm buscado inovar na maneira de narrar e de fidelizar o
público. Seja por meio dos milhares de “cozinha com fulano” que tentam
sofisticar, naturalizar, ou tornar rústico o ato de preparar alimentos e se
relacionar com eles; ou nos programas de esporte que tentar levar adrenalina
aos pilotos de tablets e controles remotos, lembrando até da metalinguagem de
programas como A Liga e Profissão repórter. A linha entre o interessante,
eficaz e o cansativo é tênue. É preciso destreza para caminhar sobre ela.
Dentre as várias tentativas, algumas são bem interessantes
(mas não inovadoras). O Mundo segundo os Brasileiros, produção independente (produtora
holandesa/argentina - Eyeworks) disponível em canal no Youtube e transmitido
pela Rede Bandeirantes, há 5 temporadas (desde 2011) apresenta a narrativa pelo
viés de quem vive o espaço e transmite a própria impressão a respeito do lugar,
do tempo, da história, das referências.
Um texto praticamente documental estilo história oral, aquela
conversa informal de quem quer contar suas experiências em um novo território. Trata-se
se um formato sem protagonistas fixos; alterna-se os narradores, guiando com a
câmera, nos contando histórias oficiais e impressões de estrangeiros
andarilhos. Baseada no original argentino Clase turista: el mundo según los argentinos, a série é dinâmica e
perpassa desde os principais pontos turísticos a pontos pouco conhecidos do
globo.
Cidades invisíveis erguem-se à medida que significados são
repassados ao espectador. Forçando um pouco as vistas, dá para imaginar o Marco
Polo contemporâneo revelando as nuances das cidades, ou o estrangeiro de Camus
andando pelo mundo, contaminando-o e sendo contaminado por ele. E como
brasileiro é um povo espalhado pelo planeta, matéria-prima não falta ao
programa.
Iniciativas
assim precisam se alastrar pela TV aberta, mas essencialmente necessitam estar
alinhadas com o conteúdo multimídia, considerando o comportamento de consumo de
informação e a disponibilidade dos meios; expandindo assim a acessibilidade ao
conteúdo, novos campos para reflexão e seu desdobramento.Publicado também no Observatório da Imprensa
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed844_novas_()_narrativas_jornalisticas
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