quinta-feira, 27 de novembro de 2014

desenho

Queria ser eu o albatroz? O pássaro pleno no voo, no ninho, na companhia eterna. O traço é o lapso, o fôlego o enigma. O brilho é alimento. O acalento do olhar aquece, o sorriso refresca. A palavra é o tormento, o sentimento a libertação. O tempo, o surto. Sem dúvidas, mas com obstáculos. As incertezas de mudar e de aceitar. Sem precipitações, sem a costumeira hipocrisia das pessoas. E se passaram anos, e ela não sabia se o que escorria era gesto, verso, lágrimas ou chuva. Banhados, persistentes. Entrelaçados. As escolhas tomadas na respiração correta. Anjo, amor especial.

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domingo, 23 de novembro de 2014

Coleiras da liberdade – mídias e modismos

Soluções que proporcionem segurança, facilidade, agilidade, comodidade: Recorrentes promessas das tecnologias, das mídias, das novas propostas de amor.

Aplicativos que já sugerem o que você intenciona digitar, corrige intuitivamente suas digitações emocionadamente erradas; aplicativos que sugerem legendas para fotos (a Google lançou um recentemente), que compreendem sua expressão de busca antes de você finalizá-la (ou mesmo que escreva errado) e que seleciona os anúncios que serão exibidos para seu perfil.  Unificação de dados na nuvem para serem acessados a qualquer tempo, em qualquer dispositivo e local. As funcionalidades são diversas. As soluções, caracterizadas pela transferência de responsabilidade e controle, vendem uma liberdade que nos aprisiona. Livres, não sabemos o que fazer e nos embrenhamos em um automatismo social que seria cruel, se não fosse tão poético.

Poético, pois nos estabelece como seres modernos, autônomos, livres para criar e vivenciar a vida sem as amarras operacionais de um indivíduo social. Entretanto evoca uma intensa vulnerabilidade. Quando observados com afinco, é possível perceber que o comportamento dos seres humanos apenas foi envelopado por novas mídias e modismos. A conversa, alinhamento e fofoca das praças públicas estão agora nos aplicativos de smartphones e em redes sociais digitais. Os crimes e perigos de becos, lugares ermos e escuros agora espreitam o cidadão digital.Os avisos de porta de geladeira e de agenda agora brilham nas telas de aparelhos que passaram a ser extensão do corpo. A possibilidade de criar e reverberar conteúdos nos fez emitir discursos muitas vezes sem a devida substância e conceito. A felicidade buscada, a mensagem e significado sonhado sofrem com o solavanco da corda esticada de uma coleira da liberdade, cravejada de mídias e modismos.

O que deveria nos dar liberdade para refletir, rever e aprimorar a narrativa que estabelecemos em vida, aparentemente nos confunde, atrofia a linguagem pelo excesso e castra o potencial que possuímos.

... o tanto que tenho, que ainda posso ser, vai além da ideia, do verso e no tempo... 😇💖🌟

Publicado também no Observatório da Imprensa - http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed826_coleiras_da_liberdade

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