terça-feira, 8 de abril de 2014

Notas ao vento




Em tempos de crises recorrentes a nota é o novo porta-voz das empresas e personalidades. Este fato, secular, revelaria a insegurança da fonte ante o repórter, que muitas vezes suprime informações ou edita posicionamento com interpretação equivocada ou a fuga da fonte de um questionamento específico, a respeito de algo que ela não quer falar sobre o assunto?

A opacidade das fontes oficiais deve ser revista. O índice de transparência necessário para evoluir a relação fonte e imprensa é o mais próximo possível da pureza. O mito da objetividade. Esse guia recorrente na construção de narrativas. Se a instituição não quer falar, não significa que ela não deva. Algumas diretrizes devem ser cumpridas para garantir a fluência do processo democrático de acesso à informação.

A eficiência das notas está em organizar o argumento da fonte, de modo a evitar respostas emocionais, frases equivocadas, informações desnecessárias. No entanto, elas não estabelecem um diálogo com a imprensa e sociedade, pois não permitem questionamentos. A nota é uma fala oficial, unilateral, de posicionamento a um questionamento chave. Esta ferramenta de comunicação é necessária, pois dribla com elegância os repórteres mal intencionados e é um ponto de partida para os jornalistas bons de faro.

O paradeiro da ética na construção das narrativas é algo a se pensar, debruçar antes de disseminar os discursos, consolidar cenários. Cenários que podem ou não estar em harmonia com a paisagem social (re) construída continuamente.  Estabelecer uma narrativa diplomática não significa mentir. Corromper não deve ser uma possibilidade. Assumir a responsabilidade em argumentar diante da expectativa social e especulação dos opositores é inevitável.

Biblicamente já registrado; existe um tempo para todas as coisas. Em paráfrase, há tempo para release, tempo para entrevista, tempo para nota, tempo para coletiva e tempo para o silêncio. A habilidade para compreender e determinar estes momentos é o que torna o profissional um diferencial de mercado, e enriquece o processo de comunicação. Trata-se de um frágil terreno; caminhar por ele exige conhecimento técnico e percepção do fluxo social de construção de significante.

Também publicado no observatório da Imprensa: 
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Insista. Basta. Na expressão da dor, no reflexo de sangue que perdura como purpurina no caráter do indivíduo. Sim, basta. No que a palavra torpe se transforma ao estar no poema, no que as cartas de amor envelhecidas se tornam na gaveta. As cifras de um canção economicamente calculada. Sociedade. O colapso e o trato considerando o tempo um aliado. Inexistente. Casta. A personalidade pura é então entregue ao que é profano, ao que é marginal. O poeta dilacerado fica resignado à poeira e lágrimas. As páginas sobrepõem as sensações, pensamentos e sentimentos. O mundo não gira, nós piramos. A sanidade arrancada na pétala de uma flor.

"Ele nos auxilia em todas as nossas aflições para podermos ajudar os que têm as mesmas aflições que nós temos. E nós damos aos outros a mesma ajuda que recebemos de Deus." (2 Coríntios 1:4 NTLH).

terça-feira, 1 de abril de 2014

Dois pontos





A exclusão é premissa da organização das pessoas em sociedade. Aspectos como "fatores socioambientais", "comportamento por prazer" e "comportamento por sobrevivência" são estruturais. Quando um grupo se reúne e estabelece critérios de convivência, tem por objetivo excluir "algo" para assim garantir a permanência e manutenção dos valores dominantes dos proponentes da ordem social ou dos possuidores articulados dos recursos básicos que viabilizam a vida em sociedade.

Compreender este processo é perceber quão complexo é o sistema e quão sutis são as ações que podem causar mudanças. O estandarte da educação, saúde e segurança funciona como uma vitrine ambulante que resume as linhas de atuação. Embora seja secular o conhecimento, a exibição e o repasse deste estandarte por todos os segmentos sociais, as demandas estão petrificadas. Ações desconexas brilham como faíscas de possibilidades (ex: trabalhos como os da Associação do Semi-Árido, produtores de alimentos orgânicos, grupos culturais, câmaras mirins de vereadores, Jovens Inventores, etc), mas não penetram no cerne da organização social, menos ainda causam as mudanças esperadas. A evolução da consciência crítica existe, no entanto, o sistema de relevância dos meios de comunicação interfere incisivamente no índice de reconhecimento de um indivíduo ou causa.

A organização social não possui um cerne? As ações incipientes precisam de maturação para se embrenhar no consciente coletivo, consolidar um automatismo sustentável e se estabelecer como aspecto de "comportamento por prazer, ou comportamento por sobrevivência"?

O exercício contínuo das ações dos indivíduos estabelece as intocáveis tradições. A família poder ser analisada como uma célula social. Refletir sobre o processo de construção dos valores é fundamental para realizar qualquer reforma (política, social, religiosa, agrária, moral). Se pensar que a sociedade não é um bloco fechado, mas permeável, entendo-a como uma narrativa, restrinjo-a em um texto. Todavia, não há um cerne, uma palavra "pedra fundamental", um código fonte para mudar o todo por reação em cadeia. Acredito que neste contexto, o cerne está no canto de uma frase, especificamente nos dois pontos.