quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Narrativas de unhas sujas


Unhas sujas de quê? Do jornal virado ai lado, das palavras ditas como expiro involuntário? De esperança? Talvez, por narrativas que não tropecem na métrica, nem que seja refém dos mesmos esquadros. Que não abuse do jeito banksy de narrar e não consolide-se como o modo Cid de perpetuar. Seja worlf, seja basquiat. Seja o menino queimado na esquina cantando "eu sou terrível" enquanto bate em uma vazia lata de tinta. Seja sem referência, a reverência.  O grão de realidade que estaciona em nossos olhos já está muito além do que cabe nas páginas de jornais e internet (isso já percebemos); bem como ultrapassa o que pode produzir de narrativa cada indivíduo (isso ainda ignoramos).

Precisamos estar atentos a isso. A capacidade dos meios é limitada e ultrapassada, a capacidade de absorção nos empurra para o stress  ou segmentação. A capacidade de produzir narrativas, diante do fenômeno "tudo ao mesmo tempo agora" torna-se imensurável, porém natimorta.

 Se estagnada e atrofiada está a forma de fazer, registrar e absorver, o que há para se ter?

 Que do café da manhã sem café, até onde for o passo ou a imaginação; que pulse, mesmo no silêncio. A fé é algo vivo, nem doutrina, nem linha, nem desenho ou rascunho.
  


Na ponta das unhas

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

No ar

Um motorista da Folha registra o fato (policial agredindo manifestante) enquanto espera repórter. Cada vez mais evidente, o processo de registro e divulgação está nas mãos de todos. O comportamento na rede mundial, o consumo de vídeos, e as narrativas eletrônicas interferem decisivamente no que vai para os veículos formais, e até mesmo para as bancas. A grande massa de produtores de conteúdo quer não mais voz, mas ouvidos. São torcedores de distintos gritos no meio da multidão. Pensar e agir. Estar atento às janelas.

Uma pomba estraçalhou a vidraça com a cabeça. Transparência em demasia pode ser perigoso. O que fazer com tanta preposição sobre os lençóis? O humano saiu para ser noticiário, ser tinta na tela e nota na canção.  Escorro meu ódio enxurrada no ribeirão das suas ideias, cansadas. Te segurei com ódio e ternura, palavra. Verdade, seu nome pende em meus lábios. A ponta da língua como arma a desbravar a hipocrisia e incendiar a realidade com sonho, com verdade.

Desanuvia, lilás seda orgânica. Rego-te até saciar e esbanjar as gotas excedentes como lágrimas de um amante incompreendido pelo egoísmo que ruge ao derredor. O que parecia tão dentro se mostra tão Camus, oh estrangeiro. E tais lagrimas se cristalizam, como remelas tornam-se a trave nos olhos, o vitral de um sentimento que foi fustigado pelos cacos.

Míopes perdem-se quando o amor é um buraco no asfalto. Surge do descuido a longo prazo, toca-nos quando desavisados tentamos passar por ele.  Seco golpe aprisiona as escolhas na garganta. Bateu na janela o desespero, nem as grades seguraram o olhar. A libertação na paisagem que no fundo dos olhos encanta, sustenta e caminha junto. A pomba não mais respira, mas ainda há ar.

 Intermitências do clichê.