segunda-feira, 1 de julho de 2013

asfalto e aeroplano




Abro a janela e percebo uma sociedade que já não quer o peso de grandiosos efeitos visuais, mas anseiam pela leveza, traços finos seja em projetos gráficos, paisagísticos, audiovisuais, ou design. Cansados estão de bula, mas reféns dos efeitos colaterais amplificados, insistem em aumentar cada vez mais a dose. Concessionárias. Veículos a combustão, veículos de comunicação. O turbilhão de opiniões e a frenética busca por estabelecer uma versão predominante, apelidada de verdade. Furada como um bom queijo com café.

Massageie. Ecoa nos quartos à noite, enquanto o travesseiro ainda é frio, o ar suavemente entra e sai. Inspire. Cravado nos olhos de quem persiste em brilhar uma crença, de que as palavras devem refletir a realidade de sonhos materializados e não apenas o abstrato. A fé que não está cunhada e carregada nos bolsos sustenta aqueles que se entregam à possibilidade de ser uma boa pessoa. Desafiador x possível.

Todo mundo é rei e vassalo de si. A história que me é contatada em preto e branco, quando fora realidade tinha mais cor e intensidade do que palavras de gracejo. Mas as lembranças envelhecidas estão incrustadas no DNA de cada um. O colar da culpa muda de pingente mas ornamenta os pescoços, marca os corpos.

Massageie. A dor passa quando o travesseiro esquenta, a tranquilidade pode ser percebida. Aeroplano. Estática folha branca deixada na gaveta por anos. O tempo coloriu o papel de abandono. O tom sépia não trazia nostalgia, apenas demonstrava o desperdício de um espaço outrora branco. Duas linhas. A inspiração de quem começou a escrever algo na folha tinha fôlego para apenas duas linhas. Não se sabia se o abandono era por causa do conteúdo das linhas, ou de sua motivação. Mas a pesada gaveta de madeira, praticamente emperrada, talvez fosse o alento ao esquecimento.

Aprendeu a andar quando tinha 11 meses. Desejou voar de modo mais intenso quando completou nove anos. Abandonou as bolas de papel, os barcos de papel, dedicou-se a elaborar aviões. Os rápidos, os planadores, os de longa distância, os de impacto, os que não voam. A falta o fez abrir gavetas. Em busca de papel, abriu o que via à frente. Uma gaveta não quis ceder. Insistente, pegou a folha sépia e se preparou para executar o mais eficiente aerodinâmico, pois o último sempre era o melhor. Mão, papel, Mão. A mão do pai ganha. Observava com ternura o filho em seu empreendimento quando, com teias e rusgas, lembrou das duas linhas e daquela folha de papel. Antes de deixar o filho continuar, releu aquele traço encardido, beijou o infante e soltou a folha.

“Eu não saberia nunca como ajeitar a minha alma a levar o meu corpo a possuir o seu” Fernando Pessoa. Em queda moral, muitos misturam o voo de Ícaro com a dança de Fausto e fica parado em uma encruzilhada entre querer ou não ser Jonh Malkovich. O discurso midiático assemelha-se ao râmster que corre incessantemente sobre o círculo na gaiola.

Rastejou até o alarme e o desativou.

Leminski-se às vezes,


O abrir a janela que trava com cimento

o trilho de tétano e as ácidas asas da borboleta

desanuviam-se no verso

porque o olho tem que piscar

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