quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Sociedade Infográfica



“Considerando todas as manifestações humanas, o silêncio continua sendo a que, de maneira muito pura, melhor exprime a estrutura densa e compacta, sem ruído nem palavras, de nossa sabedoria” (Ézio F. Bazzo)



Um costume antigo visto por professores como desvio e considerado por estudantes como estratégia rasa de sucesso, tem sido verificado no padrão atual de consumo de informação. Embora o índice de leitura tenha aumentado na última década (média de 1,8 livro/ano para 4,7) e a venda de livros aparentemente tenha mantido crescimento, ainda é pouco. No banco da praça, dia nublado de brisa agradável, o tablet descarregado torna o livro uma opção, mas “tem poucas figuras. Palavras são cansativas”. Calçadas violentadas com cartazes, cavaletes, buracos e veículos possibilitam, a seu modo, que os pés alcancem a banca de jornal e revistas. “Esse jornal deve ser bom, tem mais fotão.” Os ouvidos não têm pálpebras; estão abertos o tempo todo. Se ao menos pudessem verter lágrima.

O cheiro do papel, a tinta que traceja a possibilidade, a sensação de ter algo importante, ou ao menos útil em mãos. A caça por figuras em livros, com a finalidade de abreviar a leitura e forjar um entendimento sobre a obra, evoluiu para a sede de infográficos na mídia (impressa ou eletrônica). Cabeças ávidas por informações com o mais intenso índice de mastigação. Escolhas pré-moldadas embaladas de liberdade, essa dádiva às vezes descartada no primeiro acesso.

A finalidade de simplificar informações e contextos complexos para o público tornou os infográficos atrativas ferramentas de discurso. Facilitam o entendimento e cativam o leitor; alguns até possibilitam certa interatividade. Há alguns que são essenciais para fixar o conteúdo ao espectador e instigar o pensamento crítico. Entretanto, o uso intenso desse artifício estabelece uma leva de leitores atrofiados, presos a interpretações rápidas; percepção rasa a partir de ilustrações que resumem e simplificam temas que, às vezes, para uma compreensão adequada, exigem horas de reflexão. Os traços carregam relevância que é amparada pelo texto. Esses traços não são o texto completo (ao contrário do que alguns cartunistas conseguem fazer ao representar o relevante em uma charge). Eles são um componente.

A rotina de trabalho nos impulsiona a terceirizar alguns aspectos e atividades da vida social em prol de manter o fluxo da modernidade. Alguma coisa nos é praticamente inevitável. Entretanto, pensar não é algo de que devemos abrir mão. Provocar o diálogo das versões dos fatos e analisar as informações disponíveis é premissa de uma interpretação inicial. Seja diante da urna, entre amigos, dentro de uniformes, diante das páginas ou entre lençóis, o pensamento não pode sucumbir diante de facilidades; o caráter não deve ficar em frangalhos na Era do Instante. Nem sempre a boca precisa ser aberta. Nesses casos os olhos devem estar abertos.

Na continuidade do dia, o desenho de um garoto de quase nove anos evoca a compreensão, aqui do lado. Apesar dos pesares, vale a pena!

Publicado também no:  Observatório da Imprensa e no Caderno DA, do jornal Diário do Aço

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