terça-feira, 26 de junho de 2012

Transparência opaca liberdade



Em seu modus operandi, a mídia surpreende como uma pastilha efervescente em um copo com água. Rumores sobre sobreposição de narradores e técnicas narrativas, obsolência de plataformas de comunicação e o surgimento de uma nova cultura de consumo. Tudo mais e do mesmo.

A recém lançada, e na imprensa divulgada, obra de Eli Pariser (O Filtro invisível: o que a internet está escondendo de você) atenta para uma sutil censura aos olhos da liberdade. Na mídia convencional, o filtro já existe constituído por visões de pauteiros profissionais e cifras mantenedoras. Na internet, o filtro é mecânico/ matemático, pautado por estratégias de estímulo ao consumo direto. Contra o ato passivo de ignorar manchetes surge a demanda por uma curiosidade e disposição para navegar na rede e confrontar narrativas. “Na bolha dos filtros, a situação é diferente. Nem chegamos a enxergar as coisas que não nos interessam” alerta Pariser. É preciso um novo leitor diante do colapso conceitual da dinâmica Tempo x necessidade + Capacidade Crítica. Apenas compreender que a vigente liberdade de expressão e transparência apresenta-se por uma superfície conceitual turva é que o indivíduo conseguirá vislumbrar uma direção sóbria para suas decisões como cidadão.

Além disso, é importante considerar a rentabilidade dos veículos. Como garantir investimento financeiro em mídia digital e como manter tantos títulos impressos; ainda mais agora com a crescente segmentação da mídia impressa? Consumidores são educados a mudar o perfil de consumo e a pagar pelo conteúdo digital. Todavia, todo processo de formação de público é moroso e com falhas.

Nesse ínterim, o processo de produção de conteúdo é permanente. Análises do pesquisador David Abrahamson apontam brechas entre a estrutura e continuidade das mídias digitais e das impressas. Perante o público, o jornalismo impresso se manterá como referência; a segmentação editorial deve garantir a profundidade das coberturas sem tornar o público uma célula alienada e isolada do corpo social. Ou seja, mesmo ao se especializar em um tema, o veículo deve relacionar o conteúdo com a multiplicidade social e contextualizar o indivíduo entremeio ao turbilhão de informações e demanda por decisões. Para vivenciar esse desafio, a tecnologia é paradoxalmente um aliado do jornalismo, pois instiga o profissional à melhoria e não à cômoda e boêmica posição soberana na sociedade. Embora muitos estejam aos tropeços inventando moda.

Enquanto as revistas mergulham na segmentação e distribuição otimizada, os impressos enxugam redações, atualizam projetos gráficos (Em Minas Gerais, o último foi o Hoje em Dia, que copiou formato do O Tempo e buscou leveza tipográfica e mais disponibilização de conteúdo) e se relacionam cada vez mais com o meio digital como plataforma complementar à impressa, vinculada. O sucesso não pode ser mensurado de imediato. A reação inicial do consumidor amadurece junto a persistência do veículo e a disponibilidade de informações.

Nesse momento, iniciamos o ciclo de intensificação das pautas políticas, com os óbvios candidatos corruptos panfletando uma imagem turva de confiança. O clichê nos é fatal. Há pão e há circo. A zona boêmia é então transferida para as prefeituras e câmaras, e o cidadão exala o ópio da indignação, topless, cartazes e votos equivocados nas urnas.

O Processo de comunicação (emissor – mensagem – receptor) se renova sobre o mesmo mito: padrões estéticos de produção e de consumo. O jornalismo precisa se posicionar como um circuito aberto. Deve induzir reflexão e às vezes conduzir, mas não entregar pronto, pois é falho ao se enxergar como premissa da opinião pública e detentor da versão oficial dos fatos. Fatos tais que são cada vez menos exatos, em virtude da avalanche de interpretações que agora podem ser postadas e transportadas por diversas mídias; em casa, nos bolsos, ruas, painéis, fachadas, escritórios e até mesmo naquela antiga conversa de esquina, beira da calçada ou mesa de bar, ao gosto do bom gosto.

A liberdade social é manifestada então na mídia sob uma película opaca, chamada transparência, fabricada na cabeça de Assessores de Comunicação, Redatores desavisados, e também pela população da esperteza e repetição. A viabilidade de qualquer mídia está em sua representatividade e relevância. Para encontrar o que vale a pena consumir, o leitor deve driblar os filtros programados e confrontar narrativas, regurgitar informação e transformar o que absorveu em algo produtivo para o que vem depois.

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