terça-feira, 17 de abril de 2012

Valor às marcas


O desejo de ser referência para a opinião pública está mais atrelado a uma busca por lucro e controle de mercado do que prestação de serviço à vida. Diante das mudanças bruscas das últimas décadas, o poder e valor das marcas já não pode ser trabalhado como um anúncio, uma placa, um nome gritado aos quatro cantos do esférico mundo.

A regionalização das narrativas, em linguagens e temas tem sido a estratégia padrão para integrar os consumidores e fidelizar o novo cidadão digital. O modelo de construção das marcas ultrapassa os espaços publicitários, e alastra-se pelo espaço editorial, pelo espaço físico das cidades e pela manifestação cultural. É necessário conhecer a natureza do resultado a que se propõe obter. O valor a ser construído depende dos parâmetros que constituem a cultura da organização.

Seja a partir das sucursais (muitas em extinção); seja os grandes meios de comunicação com uma gestão integrada de afiliados (Globo com 29 grupos de comunicação e 122 emissoras – sendo 117 afiliadas); seja nas empresas com um corporativismo velado sob a tutela dos conceitos-produtos: Responsabilidade social, Qualidade de Vida e Sustentabilidade. Todas as frentes de comunicação anseiam tocar o público, controlá-lo, saciar as vontades que os próprios meios criam. Mas como se posicionar diante dessa massa?

Os gestores, com raiz no modelo antigo de administração, são resistentes a assumirem a transparência como virtude. Eles a consideram um risco, uma ameaça à saúde do negócio. Dessa forma, cerceiam a liberdade dos profissionais de comunicação (dentro ou fora das redações) como um indivíduo pensante. São poucas as empresas e áreas de comunicação que sustentam uma postura transparente e sóbria na construção de discursos, práticas e relacionamentos. A marca (seja de uma indústria ou de um veículo de comunicação) deve ir além do símbolo, precisa representar um valor, um caráter perceptível nas práticas.

A integração de serviços e a livre escolha são estandartes do mundo contemporâneo. O indivíduo precisa sentir liberdade para consumir informação e o acesso deve ser resultado de uma fórmula cruel, onde a instantaneidade deve estar disponível em multiplataformas a um custo baixo [ o que muitas vezes desconsidera o valor de produção e do produto].

TV, jornal, rádio, tudo na palma da mão. O smartphone dita o ritmo de vida moderno. O rádio foi então revitalizado pelo twitter, os jornais pelo facebook e a TV pelos portais de convergência de conteúdo. A maneira como a Rádio CBN e a Itatiaia utilizam o twitter para alinhar e expandir a programação, provocar interatividade e prestação de serviços tem dado fôlego ao fazer jornalismo. O mesmo acontece com as fanpages dos jornais. As notícias provocam diálogo direto com os leitores e aponta caminhos possíveis para aprofundar nos temas veiculados. Muitos têm aprendido a trabalhar tendo a interferência do público como instrumento do processo narrativo.

O turbilhão do padrão de absorção das novas gerações é um dos desafios do atual modelo de consolidação de marcas por meio de ações de comunicação. A cultura de timeline impera. F5 é o piercing na língua da juventude. Engajar todos na cadeia de produção e absorção de conteúdo é algo inevitável.

Engajar o empregado/consumidor é dar poder a ele. Isso é um paradoxo da gestão atrofiada que não percebe os benefícios do equilíbrio entre autonomia e arbitrariedade. Para que as organizações, midiáticas ou não, obtenham representatividade perante o público é preciso trabalhar à sombra da confiança e não hesitar para mantê-la intacta. A ruptura da confiança reinicia todo o processo de sedução do outro, trincando as marcas. Enfim, o processo de comunicação está cada vez mais vulnerável, pois embora tenha suas premissas básicas (tal qual leis da física) sua instabilidade despertou como um vulcão acordado. No desconforto procura-se por referência. É fundamental refletirmos a respeito de qual valor há nas marcas que espalhamos ao vento, para não sermos fustigados pelo que sair do vulcão que criamos.

Publicado também o Observatório da Imprensa  http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed690_o_valor_das_marcas

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