terça-feira, 27 de março de 2012

Pautas Doces



Basta passar os olhos na seção Ano 1 Nº 1 da Revista Imprensa para perceber o quanto são criados novos veículos de comunicação; fenômeno interessante, já que as pessoas falam tanto no colapso dos impressos e maior utilização dos eletrônicos. Muitos desses veículos raramente ultrapassa a marca dos cinco anos de circulação. Porém, existem aqueles que conseguem amadurecer a linha editorial e se manter de forma saudável no cruel mercado editorial. São revistas e jornais que se desdobram para conseguir, sem uma grande editora, o fôlego financeiro e uma circulação satisfatória.

Em relação à representatividade das pautas, alguns veículos especializados acabam por contribuir na construção das edições da grande mídia; seja pelo assunto, linguagem ou abordagem dos fatos. Diante da iminente Rio +20, podemos observar que o mecanismo repetitivo e raso dos grandes veículos emerge. Os problemas, as limitações e as\soluções são tratadas apenas durante o calor da conferência (período próximo, durante e o imediato depois). Nesses períodos, a população é soterrada de debates e informações que pouco esclarecem. Todavia, há um consenso velado que tratar desses assuntos no cotidiano fica reservado às publicações especializadas de circulação limitada. Bons exemplos podem sem conferidos nas discussões levantadas pela Revista Ecológico (MG), Revista Imprensa e outros títulos.

As pautas de Vida Simples (revista lançada em 2002, filha da Editora Abril) infelizmente são tratadas pela grande mídia como jornalismo de entretenimento, coisa de segmento. Portanto, não se vê nos diários uma abordagem satisfatória e não propagandista das ações em prol de um mundo mais habitável, mais ameno ante tanta desgraça. A imprensa, em sua maioria, teima em reconstruir casas na areia, em um exercício só para ver o mar.

A consciência do novo cidadão é também formada pela mídia. É preciso equilibrar a peneira para que os fatos de desgraça não sejam maiores do que as iniciativas de esperança. A avalanche de informações pode moldar o imaginário do indivíduo em um processo de formar Orange Clockwork e seus dissidentes.

O atual modelo de comunicação de massa tem formado o cidadão apático e estressado ou apenas tem sido o espelho da realidade? Protestar vai além de subir em monumentos ou mostrar os peitos. Trabalhar a consciência é um desafio. Alterar padrões de comportamento implica estabelecer outros. De onde virão os parâmetros? Da mídia que se abstém de tratar no cotidiano temas como meio ambiente e responsabilidade social?

A cidade orgânica cresce. A verticalização é proporcional ao aumento da frota. A estrutura de esgoto, trânsito, fornecimento de água e energia não consegue acompanhar o referido crescimento. As pessoas precisam determinar os limites da própria satisfação e o nível de sociabilidade que é capaz de suportar. As pessoas não cedem; derrubam argumentos sustentáveis por práticas imediatas de conforto e satisfação. Alguém tem que ceder, mas quem? Todos em algum momento, em determinada intensidade. Enfim, entre a imprensa falar mais ou falar melhor, nos aproximamos de mais uma conferência (Rio +20) para debater a falência dos recursos perante nossa cadeia de consumo e de argumentos. Determinar políticas com resultados mais efetivos é um desafio; mas diante desse cenário, qual é a face da opinião pública? Esta entidade que é a maior interessada nos efeitos das decisões tomadas pelos chefes de estado e iniciativa privada. É possível traçar o perfil social a partir das páginas dos jornais?

Publicado também no Observatório da Imprensa
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed687_pautas_doces

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www.passocomunicacao.blogspot.com 

sábado, 3 de março de 2012

terminologia da prática



A comunicação (corporativa ou não) insistentemente está atrelada a conceitos que se tornaram palavra de ordem: engajamento, alinhamento, ações coordenadas e integradas. Entretanto, como os conceitos podem ser verificados nas ações postas no dia a dia?

Dentre a papelaria e as ideologias que não cabem nos bits, os comunicadores com síndrome de Pink e Cérebro despejam todos os dias as estrategias para pontuar o que é, ou não, interessante no cotidiano, e pintar o antigo de vanguarda; disparar interpretações alternativas para conceitos e fatos. O público sucumbe sempre, mesmo quando alega não o fazer. Trata-se de um automatismo sutil. O resultado está nos padrões de mobilização popular e de consumo. Cada vez mais nas mãos do que é eletrônico, vivemos com o pânico de ouvir a recorrente frase "o sistema caiu". Engraçado mas diante da queda do sistema da TAM (no dia 2/3) não vi nenhuma matéria dos grandes (ES EM FSP e etc) com um foco mais abrangente ( que vá além do jargão "quero ver como vai ser na copa"). Essa frase ("o sistema caiu") significa atraso, impotência, perdas e danos. No entanto, diante do colapso das ferramentas criadas para tornar o dia a dia mais ágil, constatamos a necessidade de nos reinventarmos; encontrar soluções para educar e manter o fluxo social.

Quem criará as soluções? Quem as divulgará? As cifras controlam as decisões sobre o que é ou não bom para a sociedade. A revolução industrial já não cabe nos livros de história, ela extrapola o que se pode controlar. Indústria da seca, indústria da miséria, indústria das emendas parlamentares, indústria dos votos comprados, indústria do consumo, das rodovias sem reforma, da violência, do sexo, das drogas, do futebol e da et cétera.

Do outro lado do balcão, os jornais têm ganhado atualmente muitos leitores em função de um kit básico da mídia: boas narrativas, distribuição otimizada, interatividade e preço de capa, além da grande oferta de tragédias (humanas e ambientais). A disponibilização em mídia eletrônica tem contribuído para manter leitores em uma nova plataforma de acesso a conteúdo, e também para fidelizar alguns olhos que passam pelas bancas em busca de identidade. Sustentar-se é preciso, agora e amanhã, mas do que nunca; novamente as cifras.

Assessores ou lobistas? Afora a discussão defendido há anos pela Aberje, e a luta pela regulamentação das profissões, é preciso refletir além de terminologias. Responsabilidade social é algo incrustado à filosofia de desenvolvimento. O modelo truculento e imediatista de progresso precisa ser substituído por ações colaborativas e posicionamento transparente ao agregar valor ao negócio (veículos de comunicação e empresas) sem ferir ainda mais a sociedade. Como se portam os assessores e lobistas diante de temas de utilidade pública? E os repórteres?

Acredito ser necessário Conhecer para crescer; Não basta criar estratégias de escritório, por trás das mesas e em frente a aparelhos ruidosos de ar condicionado. Os comunicadores precisam Personalizar o reconhecimento. Falar da massa considerando o grau de individualidade existente nela. Mobilizar pela sensibilização? Após conhecer como o público cria significado e utiliza a linguagem, interagir deixará de ser uma ferramenta de controle velada e passará a representar um processo de comunicação menos corrosivo.

As interrogações são as sementes de uma boa pauta e as reticências a garantia da continuidade. Façamos!

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o sabor da linguagem


Enquanto no escurinho há teatro e cinema, e à mesa (e aos olhos) repousam orgias gastronômicas, sem reservas, respira-se entremeio aos fluxos urbanos. Dentre As mais fortes, o bufão. Não o filho do demônio, mas o riso grotesco, as entranhas do homem expostas numa risada. O espelho que anda diante de nossas palavras reflete nossos pensamentos. Encenar a espontaneidade é respirar. O processo de formação de público, estimulado pelas campanhas de popularização do teatro e da dança colherão frutos a longo prazo. Todavia, a iniciativa deveria contaminar também as salas de cinemas, com estratégia de exibição de filmes "não comerciais" seja ficção, documentário, curta, média ou longa metragem.

Frustração é consequência de visão limitada [embebida em paixão], entendimento raso. Diante dos desafios, o talento traz a confiança, mas apenas a sabedoria a mantém. Apesar de tudo o que cansa no humano, os poros escondem mais do que pelos; o suspiro e as palavras muito mais do que significados.

A felicidade está em encontrar a plenitude da vida no gerúndio, no significante. Chocolates e olhares. A amargura o distingue, realça a ternura de seu sabor, delineia o espanto, o medo de se envolver; a vontade e a energia. Tudo em uma mordida silenciosa, seguida de uma intensa e vagarosa dança da língua. Amelie ou Angelique. Poulain ou Delange.

O som de degustar um chocolate. Caminhar na chuva emotivamente anônimo meia noite em paris; texas. Inocente, ingênuo e intenso, o amor se faz em um chocolate e impregna-nos ao se desfazer na língua.


Entre o que nos faz humanos e o que nos faz palavras, o picadeiro pós-moderno: a cidade
O circo é o palhaço. "O gato bebe leite, o rato come queijo. E você?"