quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Conexão de egos



Manhattan connection, apresentado pela Globo News, revela um Brasil anestesiado. Um país de fim de expediente que sentado à mesa reflete sobre os problemas do mundo e do país com bom humor descompromissado, palavras ácidas e alguns argumentos pertinentes. Entre episódios bem orquestrados pelos jornalistas, há sempre o desagradável duelo de egos que subestima assuntos e prolonga comentários sobre temas menos relevantes.

A conexão proposta nem sempre consegue estabelecer uma identidade entre os comentaristas e os locais de onde comentam. Leituras uniformes de um recorte do cotidiano ( a partir de leituras de mídias) com pequenas divergências.

Há algumas semanas, a entrevista com Fernando Henrique Cardoso derrapava justamente quando deixava de ser entrevista, conversa, para ser uma troca de manifestação de egos. Na última semana, apresentou uma mídia cansada, sem identidade, perdida em comentários a conta gotas mais pautados pelo ego do que por uma análise de um profissional experiente em imprensa (como apresentam ser os apresentadores – e são, considerando o currículo de cada um). Afora a conexão de egos, é de certa forma satisfatório percorrer os comentários, pois jogam assuntos no ventilador e narram o que observam acontecer, em ritmo frenético, deixando a sensação de que falta algo.

Domínio próprio é estratégia para o bom narrador. O ego de um jornalista não deve conduzir sua narrativa ou análise do posicionamento midiático. A humildade, bom senso e estilo devem contribuir para a convergência de ideias e a conexão de olhares alhures.


Publicado também no Observatório da Imprensa  http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed682_conexao_de_egos
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Que perfil encanta aos olhos?

“Em geral, quando escrevemos para uma publicação com a qual concordamos, pecamos por comissão, mas quando escrevemos para uma publicação de caráter contrário, pecamos por omissão.” Eric A Blair

A imprensa muitas vezes foge do desconforto, seja do repórter ou da fonte, mas o processo de informação exige desconforto para revelar dados além dos institucionalizados e das versões treinadas diante de espelhos. O repórter não é taquígrafo, como já disse Malin; todavia, às vezes o jornalista parece um cardíaco com medo da próxima emoção: a do fato revelado. Desta feita, sobra-nos pautas exageradas como a cobertura do caso Eloá, que sem muita novidade se repete noticiário por noticiário.

Até tu Minas
O Estado de Minas do dia 15/2 apresentou mais uma de suas ousadias de estrutura gráfica para tratar do cotidiano de forma fascinante, mas errou a mão. Com a bajulação ao jogador Neymar, a imprensa constrói um crack que não vicia, mas cansa. A capa do jornal trazia uma arte estilizada como um cartaz de filme (O Artista) e no caderno de esporte não economiza em mostrar o menino da vila como O Astro – artista da bola. É um produto do futebol moderno onde o talento cria mitos instantâneos e enaltece um potencial antes dele consolidar resultados (Ao contrário da trajetória de Messi). A mídia precisa ser mais cautelosa ao traçar perfil de artistas, sua supervalorização tem sido corresponsável pelo surgimento de grossas biografias de celebridades com menos de 30 anos de idade.

Entretanto, alguns perfis resgatam a veia perceptiva do narrador. Na edição do dia 16/2, o mesmo Estado de Minas apresentou o perfil de um pasteleiro(olha o link) que trabalha próximo ao Hospital da Polícia Militar em Belo Horizonte. Uma história de superação, simplicidade e determinação, relatada de forma objetiva pelo repórter. Cidadania.

Se o futebol representa o Brasil volátil, da incoerência, o perfil do seu Zé apresenta o Brasil da persistência, que não se faz sob holofotes. A imprensa deveria instigar mais narrativas assim. Estampar um perfil que contribua para reflexão humana e melhoria de caráter. Ler jornais deve ser mais do que apertar F5, deve trazer de volta o prazeroso desconforto de pensar.
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sábado, 11 de fevereiro de 2012

errata




Tostoi e Blair ébrios do conceito de felicidade e busca humana. O deflagrar da essência humana não está mais sobre o fôlego divino, mas no paradoxo entre seduzir, conquistar e destruir. Constata-se isso na política internacional, na concorrência no mercado regional, ou entre as alianças, namoros e programas de entretenimento.

Comportamentos selam o valor do indivíduo. A intrepidez, ganância e arrogância fazem do ser social cobiçado e temido. A sincera humildade e sensibilidade o torna resto entre os dentes. Há lei dos mais fortes.

Fidelidade em plenitude inexiste; até os mais profundos resquícios do que foi humano. A vaidade exortada é o significado da sociedade contemporânea. Todavia, às vezes é ela (vaidade) mecanismo de defesa, estratégia natural de sobrevivência pela sedução e reconhecimento, ocasionando benefícios para o outro ou para o grupo social: solidariedade.

Em um rápido olhar ao redor, o retrato: As referências, os grupos de relacionamento; as riquezas. Os sentimentos esmigalhados, a justiça esmagada, a misericórdia, a esperança. Açougue e suor, sob o sol o dia resvala as ilusões de homens sobre as fúteis mulheres limpas, sujas de papel moeda e controle de emoções. O álcool, nesse cenário, é a porta para o beco que desemboca em outra porta: para outras drogas. A degradação da vida aumenta sem medida. As páginas de jornais já não conseguem acompanhar e apenas resumem a violência sem fronteiras, credo ou classe. Todavia, há narradores que conseguem tornar o jornal uma bula para lidar com a realidade.

Confiante no elixir da humanidade, arrisco: Haverá errata.

Lampejos do que a mão não alcança, do que os lábios não podem tocar. A liberdade das interpretações determina a intensidade dos conflitos. Encontrar o próprio ritmo dentre os passos e ombros na rua. Encontrar o seu ritmo dentre as gotas de chuva. Saber cumprir sua função como átomo neste universo.

As lágrimas confundem-se com a chuva;
e o suor não saía daquele corpo cansado.

Essa palavra que não tiro do seu raciocínio
esse teu jeito de causar-me rima e suspiro

Não é o céu, muito menos seus olhos;
o brilho é a estática da ilusão;
a esperança nos invade e conduz-nos
a uma paz sem alma, sem corpos,
sem palavras.


Quantas voltas guardam o caminho de ida?

passocomunicacao.blogspot.com