Manhattan connection,
apresentado pela Globo News, revela um Brasil anestesiado. Um país
de fim de expediente que sentado à mesa reflete sobre os
problemas do mundo e do país com bom humor descompromissado,
palavras ácidas e alguns argumentos pertinentes. Entre
episódios bem orquestrados pelos jornalistas, há sempre
o desagradável duelo de egos que subestima assuntos e prolonga
comentários sobre temas menos relevantes.
A conexão
proposta nem sempre consegue estabelecer uma identidade entre os
comentaristas e os locais de onde comentam. Leituras uniformes de um
recorte do cotidiano ( a partir de leituras de mídias) com
pequenas divergências.
Há algumas
semanas, a entrevista com Fernando Henrique Cardoso derrapava
justamente quando deixava de ser entrevista, conversa, para ser uma
troca de manifestação de egos. Na última semana,
apresentou uma mídia cansada, sem identidade, perdida em
comentários a conta gotas mais pautados pelo ego do que por
uma análise de um profissional experiente em imprensa (como
apresentam ser os apresentadores – e são, considerando o
currículo de cada um). Afora a conexão
de egos, é de certa forma satisfatório percorrer os
comentários, pois jogam assuntos no ventilador e narram o que
observam acontecer, em ritmo frenético, deixando a sensação
de que falta algo.
Domínio próprio
é estratégia para o bom narrador. O ego de um
jornalista não deve conduzir sua narrativa ou análise
do posicionamento midiático. A humildade, bom senso e estilo
devem contribuir para a convergência de ideias e a conexão
de olhares alhures.
Publicado também no Observatório da Imprensa http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed682_conexao_de_egos
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Que perfil encanta aos
olhos?
“Em geral, quando
escrevemos para uma publicação com a qual concordamos,
pecamos por comissão, mas quando escrevemos para uma
publicação de caráter contrário, pecamos
por omissão.” Eric A Blair
A imprensa muitas vezes
foge do desconforto, seja do repórter ou da fonte, mas o
processo de informação exige desconforto para revelar
dados além dos institucionalizados e das versões
treinadas diante de espelhos. O repórter não é
taquígrafo, como já disse Malin; todavia, às
vezes o jornalista parece um cardíaco com medo da próxima
emoção: a do fato revelado. Desta feita, sobra-nos
pautas exageradas como a cobertura do caso Eloá, que sem muita
novidade se repete noticiário por noticiário.
Até tu Minas
O Estado de Minas do
dia 15/2 apresentou mais uma de suas ousadias de estrutura gráfica
para tratar do cotidiano de forma fascinante, mas errou a mão.
Com a bajulação ao jogador Neymar, a imprensa constrói
um crack que não vicia, mas cansa. A capa do jornal trazia uma
arte estilizada como um cartaz de filme (O Artista) e no caderno de
esporte não economiza em mostrar o menino da vila como O Astro
– artista da bola. É um produto do futebol moderno onde o
talento cria mitos instantâneos e enaltece um potencial antes
dele consolidar resultados (Ao contrário da trajetória
de Messi). A mídia precisa ser mais cautelosa ao traçar
perfil de artistas, sua supervalorização tem sido
corresponsável pelo surgimento de grossas biografias de
celebridades com menos de 30 anos de idade.
Entretanto, alguns
perfis resgatam a veia perceptiva do narrador. Na edição
do dia 16/2, o mesmo Estado de Minas apresentou o perfil
de um pasteleiro(olha o link) que trabalha próximo ao
Hospital da Polícia Militar em Belo Horizonte. Uma história
de superação, simplicidade e determinação,
relatada de forma objetiva pelo repórter. Cidadania.
Se o futebol representa
o Brasil volátil, da incoerência, o perfil do seu Zé
apresenta o Brasil da persistência, que não se faz sob
holofotes. A imprensa deveria instigar mais narrativas assim.
Estampar um perfil que contribua para reflexão humana e
melhoria de caráter. Ler jornais deve ser mais do que apertar
F5, deve trazer de volta o prazeroso desconforto de pensar.
Publicado também no Observatório da Imprensa
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed682_que_perfil_encanta_os_olhos
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