quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

hiato



e você, pisava nos astros deformada;
perdida na certeza de suas interpretações;
parafraseava o vento
e tinha um cisco no olho
chamado realidade

[volto logo]
A industrialização do espírito humano, sua transformação em produto de prateleira (como diagnosticou Theodor Adorno sobre a sociedade capitalista), tem uma pausa quando as catástrofes levam municípios a decretarem emergência, o crack deixa de ser o bom jogador para ser a substância que destrói famílias e aumenta o índice de moradores de rua e as dificuldades já não mais podem ser jogadas debaixo do tapete, atrás de um filme, jogo ou programa de televisão. Neste momento, a imprensa mostra o despreparo em cobrir de forma específica e também abrangente determinados temas, espelhando assim a recorrente falta de infraestrutura do sistema público independentemente da ideologia vigente.
A exceção está em alguns veículos que, com habilidade, lidam com o espaço disponível nas páginas, os ruídos ideológicos da empresa, o potencial dos profissionais (imagem e texto) e as pautas de interesse público – o que deve estar no jornal porque as pessoas precisam ler o que elas querem ler. O jornalismo precisa formar, informar e dialogar com o público. O antigo conceito a respeito do reconhecimento e construção de identidade pela interação é fato que se renova. A era atual torna ainda mais evidente isso, com um novo indivíduo que consome e ajuda a construir as edições. Muitos são semelhantes a uma criança em carro desgovernado (possuem o olhar, têm ferramentas para registro audiovisual, produção de textos e disseminação de conteúdo; tudo na palma da mão, mas não possuem a técnica ou o bom senso e controle sobre o olhar e construir narrativas).
Mensagens criativas e imagens eficazes
O jornalismo econômico, público, literário ou científico acima de tudo deve manter-se jornalismo. As edições da madrugada, manhã, tarde e noite devem despertar e manter o interesse da massa e do indivíduo a respeito de assuntos básicos à manutenção da vida social e sua melhoria. Um problema está na superficialidade das matérias regionais e a generalização fria das matérias de agências de notícias. Entretanto, as páginas recebem inacessíveis F5 e as bancas estão ainda pelas esquinas. Há procura.
Dados divulgados pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC) mostram a relevância não apenas dos veículos do eixo São Paulo-Rio de Janeiro como fonte de informações na web, mas também os estaduais da Bahia, Pernambuco e Minas Gerais, dentre outros. Embora seja importante lembrar que as pesquisas do IVC analisam apenas os veículos filiados a ele.
A tiragem é importante, mas sem uma estratégia de distribuição torna-se uma pilha de antiguidades. Além de considerar a possibilidade do conteúdo em tablets e telefones e os antigos net e notebooks, é preciso se ater à qualidade do produto e seu alinhamento com a rentabilidade do veículo. “A gente não quer só notícia, a gente quer comida...”
A estratégia de regionalização antiga, com sucursais por todo o lado, hoje encontra colapsos em termos de custos. Em Minas Gerais, o Hoje em Dia, após várias modificações em sua estrutura, reduziu o número de colunistas regionais e também as sucursais. O Tempo, com boa tratativa de temas, versatilidade em alguns assuntos e interiorização de pautas, alinhada à distribuição, tem conseguido falar do estado e para o estado de um modo sóbrio. O Estado de Minas e sua grande estrutura, revela sua sobriedade em inovar, em títulos, matérias e na diagramação. Seja na edição de homenagem a Chico Buarque (primorosa, em novembro de 2011) ou nas recentes edições de cobertura das consequências das chuvas. Mensagens criativas, diretas e reflexivas, acompanhadas de imagens eficazes.
Distanciamento e envolvimento
Não precisa ser Tom Wolfe para fazer diferente, nem Van Dik para compreender como o ouvinte interpreta as narrativas; basta não fazer jornalismo superficial. O estranhamento para olhar e narrar o fato contempla distanciamento e envolvimento. O equilíbrio entremeio esse paradoxo resulta no texto que, após descartado, nem peixe embrulha mais.
“Toda fonte é uma moça bonita que foi amada por um deus, que disse não a um rio, que fugiu de um sátiro, nada é real, nada é apenas isso, tudo é transformação, todo traçado de constelação é o pedaço de um esboço de um drama terrestre, tudo vibra de tanto significar. [...] Fatos não se explicam com fatos, fatos se explicam com fábulas” (Paulo Leminski)

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