sábado, 21 de janeiro de 2012

crack sem chuteira





A mídia reluz o dentuço rubro-negro, de salário atrasado, a receber homenagens de Evo Morales (que estatizou duas refinarias da Petrobras há alguns anos) e suas aventuras. Fala das peripécias do crack do topete, dos punhos famosos do coliseu moderno (UFC) e de modo quase institucional cobre um outro crack, que tem modificado cada vez mais o retrato da sociedade.

As crianças sonham em ir para Disneylândia, mas após a puberdade fundam Cracolândias, a nova franquia globalizada. Além da cobertura sobre o que é feito em São Paulo, é importante considerar o rastro da desgraça por todo o país.

Na Bahia é lançado plano de reinserção social dos dependentes, no Nordeste, segundo levantamento do jornal Diário do Nordeste, o crack é a droga mais comum entre jovens e adolescentes. Minas Gerais demora a adotar o Plano Nacional contra o crack. Programa lançado há mais de um mês disponibiliza R$ 4 bi para os Estados. O jornal O Tempo, no final da última semana (20/1) apresentou a versão oficial do Governo mineiro que prefere focar no momento nas ações estaduais de combate a essa droga que destrói famílias e transforma a paisagem urbana. As soluções estão baseadas no tratamento do assunto como caso de saúde e segurança pública.

No interior do estado, jornais produzem matérias que abordam as implicações sociais e particulares do uso e comercialização da droga; mas esse tipo de cobertura é raro. Geralmente, a imprensa pesa as abordagens sobre a demonização das iniciativas públicas, deficiente gestão ou manifestações de tinta, churrascos e interrupção de trânsito pela liberação de drogas ou legalização dos pontos de uso. Isso até tombar um na esquina. Quando o repórter é fonte ou, na pior das hipóteses, a pauta.

Faltam coberturas que aprofundem mais toda a rede social problemática que tem a violência e a degradação do homem como consequências de hábitos legalizados. O que me faz lembar os comentários de Jabor em 2002 sobre o antigo episódio do ônibus 174 (São nossos filhos com o demônio, nossos dejetos que criamos...)

Em suma, prostituímos a moral por momentos de gozo. Circulamos por aí com nossos desejos e ilusões. Estabelecemos um processo de esclerose moral onde são gerados resíduos sociais que pontuam esquinas, páginas de jornais e não mais cabem nas superlotadas cadeias ou instituições de recuperação. Efetividade é a recorrente utopia e filantropia o ópio que nos faz dormir a noite e fechar os olhos ao passar pelas calçados de entulhos humanos.

Me lembro que maior é Deus, pequeno sou eu, e das palavras de Leminski porque não consigo fazer melhor:

Ontens e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relógio?
Nada poderia ter sido feito,
a não ser o tempo em que foi lógico.
Ninguém nunca chegou atrasado.
Bençãos e desgraças
vem sempre no horário.
Tudo o mais é plágio.
Acaso é este encontro
entre tempo e espaço
mais do que um sonho que eu conto
ou mais um poema que faço?”



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