A
mídia reluz o dentuço rubro-negro, de salário
atrasado, a receber homenagens de Evo Morales (que estatizou duas
refinarias da Petrobras há alguns anos) e suas
aventuras. Fala das peripécias do crack do topete, dos punhos
famosos do coliseu moderno (UFC) e de modo quase institucional cobre
um outro crack, que tem modificado cada vez mais o retrato da
sociedade.
As
crianças sonham em ir para Disneylândia, mas após
a puberdade fundam Cracolândias, a nova franquia globalizada.
Além da cobertura sobre o que é feito em São
Paulo, é importante considerar o rastro da desgraça por
todo o país.
Na
Bahia é lançado plano de reinserção
social dos dependentes, no Nordeste, segundo levantamento do jornal
Diário do Nordeste, o crack é a droga mais comum entre
jovens e adolescentes. Minas Gerais demora a adotar o Plano Nacional
contra o crack. Programa
lançado há mais de um mês disponibiliza R$ 4 bi
para os Estados. O jornal O Tempo, no final da última semana
(20/1) apresentou a versão oficial do Governo mineiro que
prefere focar no momento nas ações estaduais de combate
a essa droga que destrói famílias e transforma a
paisagem urbana. As soluções estão baseadas no
tratamento do assunto como caso de saúde e segurança
pública.
No
interior do estado, jornais produzem matérias que abordam as
implicações sociais e particulares do uso e
comercialização da droga; mas esse tipo de cobertura é
raro. Geralmente, a imprensa pesa as abordagens sobre a demonização
das iniciativas públicas, deficiente gestão ou
manifestações de tinta, churrascos e interrupção
de trânsito pela liberação de drogas ou
legalização dos pontos de uso. Isso até tombar
um na esquina. Quando o repórter é fonte ou, na pior
das hipóteses, a pauta.
Faltam
coberturas que aprofundem mais toda a rede social problemática
que tem a violência e a degradação do homem como
consequências de hábitos legalizados. O que me faz
lembar os comentários de Jabor em 2002 sobre o antigo episódio
do ônibus 174 (São nossos filhos com o demônio,
nossos dejetos que criamos...)
Em
suma, prostituímos a moral por momentos de gozo. Circulamos
por aí com nossos desejos e ilusões. Estabelecemos um
processo de esclerose moral onde são gerados resíduos
sociais que pontuam esquinas, páginas de jornais e não
mais cabem nas superlotadas cadeias ou instituições de
recuperação. Efetividade é a recorrente utopia e
filantropia o ópio que nos faz dormir a noite e fechar os
olhos ao passar pelas calçados de entulhos humanos.
Me
lembro que maior é Deus, pequeno sou eu, e das palavras
de Leminski porque não consigo fazer melhor:
“Ontens
e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relógio?
Nada poderia ter sido feito,
a não ser o tempo em que foi lógico.
Ninguém nunca chegou atrasado.
Bençãos e desgraças
vem sempre no horário.
Tudo o mais é plágio.
Acaso é este encontro
entre tempo e espaço
mais do que um sonho que eu conto
ou mais um poema que faço?”
adianta consultar o relógio?
Nada poderia ter sido feito,
a não ser o tempo em que foi lógico.
Ninguém nunca chegou atrasado.
Bençãos e desgraças
vem sempre no horário.
Tudo o mais é plágio.
Acaso é este encontro
entre tempo e espaço
mais do que um sonho que eu conto
ou mais um poema que faço?”
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