domingo, 27 de novembro de 2011

Caldo de Rocha - Cinema e narrativas


Cinema. O que o define? Fotografia (real) ou a montagem? Ao considerar que real é a sobreposição de montagens, é possível perceber que para existir cinema é fundamental a fotografia, o real. Pois a fotografia é a montagem de um real que não é mais (Agora já passou, Arnaldo). Essencial compreender que real e verdadeiro não estão, neste caso, ligados à pureza e neutralidade, mas em versões. Toda versão, manifestação humana, acontece por meio de uma narrativa, que por sua vez é construída a partir do repertório do indivíduo. O real é a interação e ruptura das narrativas dos indivíduos no mise en scene que forma o corpo social. Assim, o cinema recolhe amostras deste cenário para estabelecer uma outra narrativa. Cinema é a fotografia expandida além das experiências convencionais de registro e representação.

Seja para atividade jornalística ou para fins audiovisuais, é preciso conhecer e reconhecer os modos de representação do documentário para lidar com o que se concebe como realidade. Entre o expositivo, observativo, interativo, reflexivo ou poético, a escolha de uma estrutura para criação da narrativa determina não apenas o rosto do trabalho, mas sua linha de interferência (absorção e reverberação das reflexões).

Eiseinstein e O sentido do filme, a manipulação de elementos para causar impressões. Uma atração a cada plano, integrando-as em sinergia para gerar a reação desejada. A cor, o ritmo, o significado pela prática. O público sendo inserido psicologicamente no roteiro de forma guiada. A máquina artística do cinema e seu funcionamento mapeado de forma que as atrações e o choque pelo ritmo recriem na tela a cultura do circo (como estrutura de espetáculo). Absorção de sensações. Ou não.

Ecoa então André Bazin e o véu de Verônica, o santo sudário comunicacional ao registar o real de forma a não controlar o processo de produção, mas ocupar o respectivo lugar de interferência no processo. Interagir com a fonte e até mesmo ser dirigido por ela. A construção conjunta de uma narrativa proporciona uma interessante leitura e interpretação das coisas e signos (e Alfred Schutz não é sandália). O leitor expande o roteiro, gera sensações à medida que absorve. O instigante operar Sistemas de relevância para se manter no fluxo social.


Esculpir o espaço tendo como ferramenta o tempo.

Psicologia/espaço = Cinema
       Percepção

Fazemos cinema com os olhos, registramos não em 35mm, mas essencialmente em massa cinzenta (hipocampo e sei lá mais onde), com imagem, áudio e sensações. Catalogamos de forma intrigante, editamos de um modo transcendental. O acesso ao material é como o belo visitar uma boa videolocadora ou sebo. Somos (formamos) o real com o corpo e suas variações física, espiritual e verborrágica. A linguagem é plural. As estratégias para disseminar e recriar narrativas estão disponíveis.

Memórias decupadas expostas na mesa onde a linguagem é a régua a balizar e medir. O leitor que se quer, a narrativa a que se propõe. As narrativas friccionadas pelas diversas plataformas midiáticas disponíveis na sociedade geram muitas vezes desconforto. No limiar da incerteza, a escolha (a partir do repertório) do que se quer consumir e (re)produzir.

O que vaga entre os propósitos e o tempo que preferimos ignorar passar. Esse veneno, essa vacina. Os ruídos dos pensamentos alheios que reforçam o quanto somos comuns. As inquietas mãos revelam a insegurança de seres seguros; mentes em produção. Embora todos queiram sinceridade, a incoerência sela os passos pernósticos; o fim? O reconstruímos a todo momento ao alimentar o ciclo da vaidade e desejo vão. Insensatez, if they shoot horses, acabou chorare, Ainda Bem. Se tudo pode acontecer....

a terra mana leite
laços transformados pela textura das ilusões;
pedaços de carne em suspensão crua
a maciez da tranquilidade;
dois filhotes gêmeos de gazela
ternura
ideias incendeiam uma gota
chove à distância
a película do aconchego em uma flor




-

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

bambu, jornalismo, narrativas



O incômodo é premissa para o bom funcionamento do jornalista. O estranhamento pende a Camus e  é essencial. Desafio? Buscar mantê-lo e o transpor para construir narrativas.

O modelo de referenciamento do agenda setting mudou de "as notícias de ontem publicadas hoje" para "faíscas de fatos por minutos" (viu no twitter?). Está mais evidente a cada dia a impotência humana em acessar e processar toda a informação gerada no mundo. Boca pequena escancarada diante da pipoqueira de fatos. As narrativas contemporâneas revelam assim um quadro interessante, porém perigoso:  A noção de pertencimento mudou, se expandiu e assim confundiu os "desavisados" ou os mais empolgados com a expansão das fronteiras  da comunicação (emissão, percepção, recepção da mensagem). Nesta cultura de rede, cada nó comunicacional é um ponto de referência e interferência; junção com o próximo. As narrativas devem reforçar valores humanos e interrelacioná-los com os fatos. Isso sem deixar de tocar nas fraquezas. Quais as pautas da atualidade?

Retire o conforto e verá as manifestações. A escassez de recursos tornou o tema ambiental o mais forte e evidente pé da sustentabilidade nas discussões. O social é moeda eleitoreira, confundido com baixa filantropia, o econômico está cerceado de indicadores confusos, impactos profundos, distanciamento e direcionamento político. Distribuição de renda é diferente de crédito e juros. Desenvolvimento social não é sorriso de criança em foto. (Na parede rabisca-se desejo, necessidade, vontade. Nos jornais estampa-se dívida, crédito, consumo). A pergunta muda mas o personagem é o mesmo. Onde estão as truganinis da sustentabilidade? A vanguarda vem pelo que se achava obsoleto.

Os assuntos que a opinião pública precisa de ler (não necessariamente os que ela deseja) são tratados de forma profunda pela mídia especializada. Para discutir a sustentabilidade como uma pauta séria na mídia, é preciso estabelecer diálogo. A conversa é o melhor mecanismo para, entremeio a rotina estressante, construir pautas que precisamos ler.

No meio do caminho... a mídia e o sistema de referenciamento. A mídia não é responsável por educar, mas por provocar. Entretanto, a inquietação é premissa ao processo de educação. Os valores sociais básicos precisam ser resgatados. Visibilidade e sustentabilidade são diferentes. Todavia, aos estampar marcas e práticas, todos querem fazer dinheiro para retroalimentar o processo e o ser.

Uma coisa são as narrativas, outra é o verdadeiro propósito das ações. Para que as iniciativas sejam efetivas, é fundamental desmistificar o conceito de obrigação no ambiente do público e privado. É preciso parar de brincar de "batata quente"; ao invés de transferir responsabilidade, deve-se estabelecer mecanismos de interferência e transformação social. O poder público e a iniciativa privada em ação conjunta. Essa visão também deve amadurecer os questionamentos e as narrativas não apenas da mídia especializada.

O papel do mass media na indução ou reforço de hábitos é co-responsável pelos impactos socioambientais gerados. A utopia das narrativas vive entre o problema social recorrente e a temperatura do mercado financeiro. Como disse (ou não) o professor Ladislau Dowbor "crescer por crescer é a filosofia do câncer".

Ah, la belle verte! Os impactos interdependem do estilo de vida assumido pela sociedade. O nível de individualismo e satisfação contemporânea determina a intensidade do impacto gerado. Embora haja uma comoção inicial diante das mazelas, a mudança inexiste, caro Ivan Fiodorovitch. O senso de coletividade é baixo [social / acadêmico]. É necessário construir narrativas que provoquem mudança, reflexão e, assim, incentive a conscientização. Deve-se ouvir as fontes, compreender o contexto, para construir o argumento, estabelecer uma versão e só então formatar o texto. Tudo em um ritmo intenso e imediato.

Além do meio ambiente, as novas mídias abrem a possibilidade em despolarizar a discussão a respeito de questões sociais, comunicação e economia. As redes sociais digitais são catalizadores. Às vezes falta amadurecimento na utilização das ferramentas e absorção do conteúdo disponível. O engajamento estimulado pela mídia a conta-gotas estruturada de forma transparente e objetiva. Precisa-se monitorar, envolver; regionalizar a sensação de pertencimento e construção de orgulho e credibilidade.

A Educação e a Comunicação precisam criar alianças entre as plataformas de reflexão, para orientar os usuários em como usar a rede (ou a respeito das variáveis de movimentação), para assim confrontar a cultura de manada e provocar o amadurecimento do indivíduo no uso e consumo não apenas de informações, mas fundamentalmente dos recursos naturais, dentre eles o potencial humano.


Seu segredo não está nas areias. Está nas calçadas e cadeiras. São os passos, a onomatopeia e o sotaque que rasga o canto da boca com um sorriso. São curvas que nos aproxima e fazem-nos dançar. São os homens de chapéu coco, mas sem a maçã. A esfera do tempo rompe a esperança. Cada passo ao largo aperta dentro. Cada olhar é procurar o pouso que não vem. Liberdade.

Não existe mais a necessidade de esconder nas letras; há facilidade
Soluções não simples, muito menos imediatas.
Mas tal qual o soluço
imediata é a ansiedade de...
todo o mel da flor

;

o papel manchado com ideias;
olhar a contaminação, poder ler, cheirar e rasgar.
orgânico escrever...


palavras recicladas nem sempre formam novas frases
mas representam novas ideias


construção
.,


Está disponível também no Observatório da Imprensa
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_bambus_jornalismo_e_narrativas

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

tomate cereja





tomate cereja e o balanço da comunicação, 
são meus pés estes fora do chão


Com poeira nos olhos tateio os discursos e reconstruo as narrativas que fazem chorar as flores. Ego: epicentro humano formado pelo repertório planejado, o espontâneo e o utópico. E assim o indivíduo se coloca a dançar com a Glória de Horace MacCoy. A fumaça da Uspequistão contamina. Um cinegrafista aponta sua arma e recebe o beijo da realidade: cai morto no noticiário. A ordem social (e o processo de comunicação) precisa de ações imediatas e ações de planejamento. Ocupação de espaço, factual, posicionamento, choque; e também a interferência sociocultural com resultados efetivos a longo prazo. É preciso pólvora e flor; há tempo para todas as coisas debaixo do sol, conforme escreveu um poeta antigo.


Conteúdo midiático é semelhante a comida; há diversidade de sabores e consumidores. Para produzir pensa-se nos estímulos, no efeito que se quer causar (do incômodo ao gozo - ou do gozo pelo irreverente). Para isso, é necessário conhecer a língua do outro; o potencial de percepção, os parâmetros de sensibilidade. Caminhar entre as papilas, compreender como funciona os sistemas de relevância do indivíduo-alvo e assim, estabelecer o fluxo de mensagens (esquecer a formicação de tentar ter controle sobre o processo e assumir o respectivo grau de interferência). Abandonar a vaidade e o desejo vão. 


Precisamos integrar as plataformas de comunicação, desde a conversa em roda, revitalizar a praça e potencializar o código binário, os 140 caracteres, links e tags. Hugs and kisses. A compreensão a respeito dos sistemas de controle permitidos em um processo de interação é fundamental para manter o fluxo social. Visualizar e sentir as fronteiras das narrativas.


A valorização da cultura regional e sua utilização para transformação social depende do modo como as mensagens são construídas e disseminadas. Devemos transitar entre as mídias de forma que cada migalha de conteúdo disperso construa um significado, e contribua para a evolução humana, possibilitando descanso ao corpo, recheio aos estômagos e vazão aos intestinos e mentes.
















Onde estão as (os) truganinis da comunicação? Lacrados em teorias, livros, poemas soltos, xícaras de café? Incomunicáveis; seus pensamentos estão soterrados nas rotinas cada vez mais sucateadas das redações e das assessorias plastificadas? Não acredito que estão obsoletos, talvez inacessíveis, ou se guardando para quando o carnaval chegar. "Em gaveta não se guarda coisa alguma".


A realidade cravada entre os dentes explode com seu sabor tomate cereja. Torpor. 


sob gotículas colhe tomates. o dorso nu recebe o beijo.
os lábios provam do espinho. sob o orvalho cheira as rosas.
a alvura do algodão, a maciez da terra molhada.
o toque divino sob o cheio luar
tranquilidade







passo, fatum e fado
Instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; guiar-te-ei com os meus olhos. Salmos 32:8 

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

pijamas



Muitas vezes o entrosamento entre jornalistas de redação e os de assessoria é comprometido pelo entrocamento político que rege as regras sociais. Negócios da Informação. A mobilidade do discurso dos assessorados depende da narrativa política dos meios de comunicação e do interesse público. A contemporaneidade proposta pela globalização causou uma confusão sobre o conceito de público. Desconstruiu o público conforme apreendido no processo de produção e transmissão de mensagem. Nesta confusão, o profissional tem de encontrar um modo de manter (e às vezes inverter e reinverter) o fluxo de comunicação, onde o deadline sempre é visto pelo retrovisor. A mídia deixou de ser vista como algo físico (produto) para se estruturar como tudo o que possui conteúdo e audiência.

O off foi institucionalizado, a cultura do boto (como disse W. C. Bueno) registrada em procedimentos e os processos velados são selados para brilhar nas prateleiras. Duas perguntas reverberam "Qual o interesse em divulgar?". "Quem acessa esses canais?". Público e sistema de consumo. Assim reduzimos muitas vezes a ressonância da comunicação, das narrativas, dos investimentos culturais, da utilização dos recursos naturais, do relacionamento com Deus. As pessoas já não compreendem a narrativa do Mr. Nobody.

Repetindo as palavras de Nassar, vivenciamos uma nova ordem de construção das narrativas. A interação face a face cede lugar ao intermeio das novas mídias. O compartilhamento é digital. O relacionamento físico passa por premissas das mídias digitais. As "comunidades de inteligência coletiva" (de P.L) estão no meio de verdades. A sobreposição de argumentos e a penetração das versões direciona as verdades-produto (interpretação e disseminação). Transparência é revelar o que é turvo. É mostrar que pode-se ver além do vidro, mas que há um vidro, um limite, ao contrário de fingir que ele não existe e permitir que seu público bata com a cara nele.

A organização e a fé representada por um argumento. Qual padrão de transparência presente em seu discurso? Esta pergunta ajuda muito aos assessores começarem um texto e aos jornalistas de redação a interpretá-lo. Reputação e credibilidade de narrativa.

O senso de comunidade saiu das cavernas e beira das fogueiras; não está mais ao redor das mesas de bares e churrasqueiras da varanda. Muitas cozinhas estão vazias e silenciosas enquanto há gargalhadas digitais. Torna-se comum a sociedade indexada eletronicamente e não mais atrelada à transferência oral. Marco regulador da produção de textos, o Google (busca) é a nova enciclopedia (sem dono). Orientar-se passa naturalmente pelos questionamentos, experimentos e inquietação entremeio ao equilíbrio. Domínio próprio é o fruto (e não mais um produto) essencial a todos.

o pêndulo intocável anuncia
não compreendemos e nos fascinamos
aumentamos a fila enquanto ela se dissipa

jasmim gardênia e seu cheiro suave
escarlata rosa vermelha aos lábios
mel, minutos, métrica, anos


A sabedoria do prudente é entender o seu caminho, mas a estultícia dos insensatos é engano. 
Provérbios 14:8

blue train



Não nos é possível ainda desaprender. Seja como Buttom ou nas recomendações de Manoel de Barros; as imagens, sensações e sentimentos permanecem como um brilho eterno de uma mente sem lembrança.

"Regados a Miles e Coltrane meus ouvidos possibilitam sustentação aos meus pensamentos, já que meus sentimentos fazem dos meus pés ébrios maestros". Um produto em falta, amizade quando encontrada tem seu valor além das imperfeições e limitações do outro. Completa sem acrescentar. É a palavra que sobra na frase, mas não pode faltar.

Diante de tantas feridas, para estabilizar-se, o indivíduo anseia ferir e controlar o processo de ferir até saciar sua vontade em não sentir mais dor. Todavia, ao atingir este nível de compreensão dos desejos (e feridas), o ser verifica que o próximo passo é não ferir. Amadurece e então, cai uma pétala. Automatismos e mimetismos: muito mais do que uma loja, um encontro, um café ou livraria; uma via.

sem listras nus pijamas
o trilho da felicidade guardado no campo;
enquanto rocha tropeça nas interpretações
o mel cristaliza, o jasmim segue seu fluxo,
o jardim é jardim sem placas
a trilha aponta para o alto
e as palavras brilham no chão


ponto e vírgula. Fecha parêntesis

Take a five

A flor do plágio




Dois perdidos numa noite molhada.
faz frio entre as palavras sinceras.
A lembrança vai, como uma névoa. Eco, eco.
apaga-se a misteriosa chama por instantes. I've seen it all. My chest against the wall.
Então ressurge semelhante música antiga que igual ao vento
entra







"I had money and comfort but no drama, no love. I wished some trauma.
I had love but no money, drama and not comfort. And the wrong girl on my mind.  Trauma
You gave me all.
Rainny days, walk around the moon.
Dreams on the ground;
soft words under our smiles.
and I can't give you nothing,
only my thoughts and my capacity to love. The lightness of live that you gave me,
I just put in your hands, with the tears of time that I felt pass away" Armenon