quinta-feira, 18 de agosto de 2011

ponto



Imersos em um mundo onde mercados competidores financiam ideologias, é necessário despolarizar as discussões. A polarização facilita argumentos e definição de estratégias, mas cega o indivíduo e o limita ao universo socialmente concebido como “modernidade e pós-modernidade”. A globalização levou cada um a etiquetar sua tribo, franquear seus desejos, seus sonhos, sua aldeia, e ser global por meio da contaminação do outro em busca de purificá-lo pela miscigenação.


O ser humano nunca desistiu do controle, nunca saiu da bacia da vaidade. Às vezes se levanta, ventila uma humildade de fazer pedra jorrar água, mas logo se assenta com orgulho e com sua hipócrita humanidade arrota soberba. Balzac está certo sobre o crítico. Phoda. Darwin errou. O bocejo é uma poesia e não a reminiscência. A lágrima nem sempre é o grito; muitas vezes é o gozo.



diálogos


o gosto de sua faca faz-me deixar de sonhar;
o gosto da lágrima traz de volta o fôlego
eu sou o beijo na sua boca
sou eu o botão de sua roupa
a sua voz rouca
você ficando louca
você sempre aumenta um verso
sempre você a me espremer entre estrofes

diálogos às vezes são sussurros
palavras que escondemos em um olhar


há distância


ponto.


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

se fala



Ainda se fala de alma. As pessoas não dão conta de uma e procuram a gêmea. Encontram a semelhante, o reflexo, o inverso. Deslumbram-se em perdição em função do catálogo de desejos atualizados todos os dias pela “mente social” [a rede de significados/significantes posta à mesa].


“Perto das grandes todos são pequenos”. Egos empalidecem. Frases irritantes das focas a tatear assessorias ressoam entre os dramas corriqueiros dos dinossauros. Impressiona a forma como a carne [óbvio], a caminho da putrefação, à mercê da medicina e do tempo, com alterações de formato e consistência, interfere e muitas vezes controla as escolhas, os desejos e a filosofia contemporânea.


A mídia, os sistemas e a estranha necessidade de destoar; tudo soa cansativo. Somos olheiras e cremes, rigidez e flacidez. Carne e ideias, onde os números são indicadores de felicidade. O ser humano concebe a liberdade como tudo pode e deve ser experimentado. Desta feita, os desejos sociais variam da tradicional família à moderna orgia, institucionalizada, à pós modernidade está garantido o colapso. Este é o presente; desembrulhado, regurgitado.


O retrato social revela uma paisagem de muitos deuses, muitos santos, muito eletrônico, muito gozo, muito barulho e a profundidade rasa de uma ventosa suja. Não há interrupção de ritmo; o máximo a se fazer é o atraso, ou o desvio, entretanto o fluxo da mazela humana segue. Graças a Deus. A falência é clara. Uvas foram espremidas, cacau beneficiado e a gordura exposta ao calor; há sabor para sentir o movimento do tempo. O Dedo Torto de Deus rege a existência em linhas retas, de forma a nos mostrar a insignificância humana, o extraordinário potencial e o amor e o amor do qual somos alvo. Ainda se fala em alma, embora o saco esteja cheio.

....

calada, solta à mesa a palavra salta para dentro de mim
aperta meu coração, sufoca minhas ideias
faz gozar minha insignificância

soberba, a palavra se faz imagem
ressoa em minha cabeça
reverbera dentro de cada veia, artéria de minhas ilusões

e seus cabelos guardam o cheio que não é cosmético,
não é ambiente
é de dentro

entro?
isso é outro passo
calado, preso em meus olhos o olhar pula em uma palavra
e o dia logo escorre


...

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Off sina





O umbigo sujo. Limpar é delicado, a área é sensível. Ainda assim olha-se o epicentro das decisões humanas como quem adora a um deus. A vaga ideia, vazia aldeia de minhas ilusões.


A contemplação de um dia entre os sons orquestrados, as palavras cantadas, a poesia receitada, mas não recitada, as palavras deixadas ao chão, os sabores e a umidade. O ritmo da esperança, a sensibilidade não-corporativa, nem sócio, muito menos econômica. O Quarto de Dormir.

O desejo de informar com furos faz vazar a consciência, deixa escapar o que deveria ficar. Permite que entre o que fora haveria de estar. Os móveis estão fora do lugar. São móveis.


Entre os pés, os traços da urbe que clama por menos cinza, por menos gente, por menos esporro e mais assovio. O suspiro dos hipócritas quebra a concentração do pássaro, interrompe a espontaneidade do canto. As árvores vão ao chão enquanto ainda há café na xícara, ideias no prato e sonhos agarrados nas unhas. E para muitos, nada como um banho de ilusão, secados com a toalha da realidade. A mala está cheia de toalhas. Tem espaço aqui.


Quando os joelhos dobram e não há forma de se esconder. Nem as lágrimas despencam, nem o tempo para, muito menos entra no agenda setting. E "eu não sou da sua rua". Nem ao menos provei os cafés de Sanada, nem ainda foram provados;


escrever para arranjar as palavras, escrever para despedaçá-las em outras frases. Rabiscar para bagunçar, para organizar o óbvio.



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sábado, 6 de agosto de 2011

Oficina


disfarçado entre os dentes.

Não podia eu, fixar-me em Ambos Mundos, pois minhas linhas eram medíocres, comuns. Finca Vigia por uma foto, ou nota de jornal, apenas existe. Imersões culturais. Confortável e desolado entendo minha escrita. Agrado-me. Agrado.

Cansaço pede.
Melaço escorre.
Cansaço impede.
A rede Acolhe

Escorre na luz ó gota d’água
Reflete a inércia de meus pensamentos
Rega na névoa derradeira as pétalas de meu sonho
amanheceu novamente.

Escorre a gota livre dos resíduos urbanos
orvalho que nutre as manhãs daquele que insiste em sonhar

Escorre como ácido meu veneno sobre
meus sonhos dentro de minhas veias.
Pra quê nos afastamos de sermos tão simples?
Quando lembrar não é desejar, lembrar não é sentir.
Chove cinza sobre meus passos
toca meus cabelos, faz arder meus olhos.

rangendo ideias
batendo papo com Deus

lendo nas memórias o antigo Oficina
...