sábado, 30 de janeiro de 2010

Modernidade





Se todas as possibilidades na ordem e relação das forças já não estivessem esgotadas, não teria passado ainda nenhuma infinidade. Justamente porque isto tem de ser, não há mais nenhuma possibilidade nova e é necessário que tudo já tenha estado aí, inúmeras vezes. (Friedrich Wilhelm Nietzsche).

E na medida em que falavam as pessoas, surgia o nome do dono daquelas frases juntas, daquele pensamento. Vinha como a sentença dos alto-falantes que estavam ali para ordenar gestos, reforçar a inexistência de novas idéias. Mostrar que tudo já é, e o que foi volta a ser. Mas nada será.

Como os dedos que perpassam o teclado de um piano, os pés formavam passos e tocavam a superfície de um chão quase céu. Foge a criatividade, expande-se o tédio e não vem criação, apenas reciclagem. No ritmo dos passos, percebeu que era sempre um pé depois o outro, e que os dois juntos era um pulo; e que inverter a ordem era andar para trás.

Parerga e Paralipomena sobre o acento da cadeira refletia a luz refrata da lua. Não adiantava fechar a janela. A luz corrompera a escuridão e o silêncio se enchera de sons.

Sobre os tons os sonhos buscavam existir de forma sublime. Mas as vias estavam obstruídas. São ruídos, são as cores. A chave fecha a porta, as escadas denunciam a fuga. A rua recebia nua seus pés vestidos. No alto, à esquerda, janelas vazias batiam com o vento. Os passos continuavam, era preciso chegar a algum lugar.

Sentado à beira da fonte que não mais jorrava água ele sentia. Nunca ouvira com tanta convicção as palavras que queria ouvir. E quando ouviu, não era para ele, não eram por ele que as palavras foram lavradas. Mas tudo isso era menor diante da ferida aberta à beira da fonte. Sangrava; as lágrimas ardiam. Precisava retomar um rumo, mesmo consciente de que nada de novo pode acontecer, precisava acreditar que as coisas seriam diferentes; que poderia criar. E que ao criar não buscaria o novo, buscaria esse possível diferente.

O maior desafio para se viver é saber dos limites, saber das impossibilidades e viver entre elas, sem sofrimento desnecessário. A ignorância é felicidade, mas quando se perde a ignorância, é preciso viver, é importante continuar vivendo. O mais natural e comum é mergulhar nos sentimentos e pensamentos ruins, mas é preciso rever a posição atual e alçar vôo por pensamentos e sentimentos melhores.

A natureza se transforma. A tendência natural pode ser revertida a partir de algo que determina a diferença do ser humano. A capacidade de transformação. A retomada, o estímulo além terra, além superfície. Em busca de uma renovação, tentando de tudo, sondando a todos, encontrou dentro. Em sua identidade a resposta para seus passos.

Num dia de desespero, abriu o desassossego e dele ouviu as palavras da dor e do fim daquele que ele considerava sentir amor. E do vento que vem e que passa, que é vento e que passa, sua cabeça deduziu um vôo de phoênix. Não o engodo mitológico, mas o ramo no bico da pomba.

As instalações estáticas confirmavam o que zenon, ou zenão afirmou. O movimento é, mas não existe. O tempo não existe, por isso não pode estar parado. Além das declarações, queria sentir e ver acontecer. Gozar de vitórias.

O brilho do sol em um dia nublado revela sobre as cores um novo contraste. A cor não é palpável, apenas as coisas coloridas são. Mas é possível perceber e a sensibilidade é o instrumento para absorver, como as mãos de um cego, a realidade que nos escapa.

Quando os olhos percebiam o movimento das pessoas, das coisas, o distanciamento possibilitava um novo olhar. A tecnologia, os processos cada vez mais informatizados. O mundo em modernidade, mas o ser humano não. Não há modernidade no potencial humano de percepção. A tecnologia mudou os costumes da tribo. Toda afirmação já nasce com sua contradição.

É chuva nos olhos.

Um comentário:

  1. é isso mesmo... as pessoas ainda não entenderam. Brincam de amar, brincar de sofrer, brincam de procriar. abdicam da responsabilidade que é viver. colocam no armário a missão dada por Deus e mergulham nos conceitos que criam, reproduzem e distorcem... modernidade: a justificativa para ser cruel.

    ResponderExcluir