sábado, 30 de janeiro de 2010

Inspirados




Botas na lama. Fuzis ao ombro. Chuva escorre pelo rosto e mistura o suor. Salmoura. Ele, filho da mais alta patente das forças armadas. Mas a honra de seu Pai não era a dele. Começou ele como o menor no exército, mesmo tendo conhecimento e treinamento superior, se fez o menor do grupo. A xepa era seu soldo maior. Sua cara beijava o chão, seu sangue rompia as veias, os músculos se contorciam à noite.


Durante o treinamento, levou a culpa pela desobediência dos outros. Foi traído pelos colegas de alojamento. Flexões. Reflexões. Cresceu em obediência, fazia tudo o que lhe cabia e ainda mais. Ajudava os outros. Colaborou com os colegas que tinham fraquezas, foi intrépido diante dos mais fortes e inconsequentes. Sabia montar e atirar com destreza. Tinha resistência no treinamento da selva. Dançava com a fome nas noites frias na mata. Sedia o que tinha para os mais fracos, era roubado pelos maiores. Calado. Não reclamava das brincadeiras, da injustiça, da dor.


Terminado o período de capacitação, foi enviado para o campo de batalha. Lá, onde carne podre é perfume, ninguém acreditava que ele era o filho do maior nas forças armadas. Aquele magro, submisso, machucado, menor em patente do grupo, filho de alguém importante? Conhecedor das táticas de guerra? As coisas pioraram. Seu tempo de treinamento foi apenas a introdução das dores.


Bucha de canhão. Foi para a frente de batalha. Guerreava com ousadia, com coragem, força e amor. Era misericordioso com os vencidos. Fez prisioneiros de guerra. Todos mortos pelos seus companheiros. Não permitia que um companheiro ferido ficasse para trás, nem seu cadáver apodrecer naquele lugar. Como formiga carregava o amigo morto.


Chorava todas as noites, angustiado, revoltado com os motivos da guerra. Indignado com a dureza humana em sua luta pelo poder. Seria sua última batalha. Pegou suas armas e foi para o campo de batalha. Enquanto avançavam no campo, percebia ele que seu exército ficava menor. Seus pés pisavam crânios, sua bota encharcada de lama e sangue, seus olhos contemplavam explosões, fumaça, vultos, corpos que caem. Seus ouvidos adormeciam diante de tanto grito, explosão e tiros. Suas narinas dormentes de tanta pólvora e morte. Levou tiro pelos amigos. Antes de seu rosto afundar na lama, pôde ver os amigos se afastarem, fugirem. Mas ele não era assim.


De suas memórias, de toda palavra de fé que falava no refeitório aos soldados, de seu íntimo brotou o último fôlego. Ajoelhou-se, levantou a cabeça e viu distante, afundada na lama, a bandeira da liberdade, bandeira de sua tropa, bandeira pela qual concordou lutar. Jogou suas armas no chão, cambaleando andou até a bandeira. Ergueu-a. Neste momento, sua tropa viu a bandeira erguida e interrompeu a fuga, interrompeu a luta. Foi como se estivem todos no vácuo e som não se propagasse. Não ouvia mais os tiros e explosões. Ele então caminhou para frente, com a andeira erguida. Tomou mais alguns tiros. Ninguém ouviu seu gemido.


Curiosos, os inimigos interromperam o massacre. Sangrando todo o seu sangue, rastejou até o lado inimigo e cravou a bandeira no ponto mais alto. Então morreu. Mas a magnitude de seu gesto, como o vento se espalhou e não houve uma só fresta em que não entrou. Mas ele apenas era um Inspirado.


Segundo tempo. Minutos finais. Placar desfavorável. Chuva. Buracos no campo. Equipe desunida. Cansaço. Um bagaço resumiria suas forças. Ele, a grande estrela até então não havia brilhado como todos esperavam. E ninguém dava ouvidos a suas palavras e boas novas. Para onde seus olhos corriam viam o desânimo. Viam morte. Corpo suados e frustrados. Ele, o ponta; toda a responsabilidade sobre ele. Se não bastasse tudo, o time adversário estava no ataque. Bola na marca. Ele era o único que acreditava. Aos berros encorajava o goleiro, este embalado pelas vaiais. Antes do juiz se posicionar, ele foi até o goleiro, gritou, e o abraçou. Disse ao ouvido daquele jogador o que ninguém até então havia dito. “eu acredito”. Foi como se soprasse nas narinas daquele jogador solitário.


A bola não entrou, era o omento do contra-ataque. A bola foi lançada. Todos emocionados em não tomar o gol, começaram a fazer sua parte. Bola no meio, do meio para a ponta. O ponta viu o lateral melhor posicionado. No lugar no drible fantástico, o toque da humildade. O lateral marca o gol. Empate.


Bola no centro. Apito na boca. Minutos acrescentados. Contusões. Expulsões. A torcida que já tinha em parte ido embora, volta aos seus lugares, retoma os gritos de incentivo. Escanteio. Todo o time adversário na área, inclusive o goleiro. A tensão de perder, a coragem de se lançar. O zagueiro gigante. O lateral que fez o gol, momento de visão. O lançamento longo. O ponta acreditou. Ele correu como nunca pensou conseguir correr, não havia mais ninguém para o impedir, mas a bola não estava indo para o gol, alguém precisava agir. Ele sentia o ácido lático acumulado nas pernas ensaiar uma câimbra, rompeu suas dores, intensificou a corrida, a bola, na diagonal, tinha passado do primeiro poste, passado em frente ao meio do gol, se aproximava de passar em frente ao segundo poste e ir para fora, em um gesto quase irresponsável se lançou, seus pés tocaram a bola, sua cabeça bateu na trave. Venceram a partida. Desmaiado estava não um herói, não uma estrela, muito menos um jogador, mas ali estava um homem Inspirado. Mais do que a imagem do gol e do troféu, seu exemplo foi disseminado em cada gramado.


Andava pelas ruas sem que ninguém a notasse. Escutava nos rádios sobre um grande jogador e o título inédito que ele garantiu ao time que o revelara. Título que custou sua vida. Nos jornais que embrulhavam o peixe no mercado viu uma foto de uma bandeira em um campo de guerra seguida de uma matéria sobre um soldado.


Em casa, não tinha prazer para cozinhar, fritava o peixe e comia antes que a cordura escorresse. Sentada na sala, tudo desligado, tudo apagado, ouvia o mundo e seus ruídos. Carros, choros, gozos e brigas. Risadas. Calada, intercedia por cada mazela que percebia, e também por aquelas que desconhecia. Agradecia por todos e ia dormir.

Todos os dias de sua vida após sair da casa dos pais foram de abandono. Nunca foi sequer cumprimentada. Mas ainda que tudo batia firme sobre sua cabeça e seus ombros, ela tinha uma alegria no coração que nem suas lágrimas conseguia sufocar. Um sorriso iluminava seus passos, quando se olhava no espelho não via seu corpo deformado, mas via sua pureza, via o seu amor, via a virtude que um recebera com o simples fato de dobrar os joelhos. Ela continua por aí, sem ter mesmo um nome a ser mencionado. Mas para ela pouco importa. Mais vale o resultado de suas orações. Tudo o mais, ao tempo certo, da maneira certa, será acrescentado, segundo a vontade de Deus. Uma mulher Inspirada.


Sentado com o dicionário no colo, o pequeno pergunta ao pai o que é inspirado. O pai dedilha as páginas daquele livro e mostra. O filho lê, mas não satisfeito pergunta o que leva alguém a estar inspirado. O pai resume em uma palavra: amor.


O filho ainda sem entender insiste em como o amor pode inspirar e inspirar a ponto de se sentir dor. O pai explica. Diz que o amor verdadeiramente é manifestado nos momentos de dor, onde tudo sofre, suporta e supera. Onde a dor é combustível e o amor a direção certa e a ação de fazer algo é apenas a confirmação de uma escolha. Escolha? Sim. Nunca abrir mão do amor. Mesmo que precise morrer. Onde está o amor? Pergunta o menino? O pai se levanta, sorri, pega a Bíblia. Sentado ao lado do filho ele diz: Respira fundo meu filho. Viu, tem amor aí dentro de você agora. Deus é amor, nos fez parecidos com ele, e na hora de botar a gente pra funcionar, soprou em nossas narinas.


O menino pergunta sobre o que teria inspirado os personagens das três histórias que o pai havia contado. O pai ainda com a Bíblia na mão disse: Meu filho, muitos morrem por uma bandeira, uma ideia, muitos morrem por uma paixão, um título, e muitos morrem socialmente pelo bem de um próximo que não o conhece, reconhece e merece. Mas no caso destes personagens que te contei, eu tenho certeza que eles se inspiraram em um ser que se fez homem, sendo Deus, foi perseguido, desacreditado, humilhado, maltratado, machucado, traído, assassinado sem tem nem mesmo uma partícula de culpa. Um ser que assumiu tudo calado. Morreu pelos pecados de toda a humanidade. Mas até em sua morte nos surpreendeu, pois conforme tinha afirmado, ele ressuscitou e é o Deus vivo, que virá para nos buscar.


Não tem como não ser inspirado pelo exemplo de Jesus. E saber que além de seu feito aqui na terra, algo ainda maior viveremos com ele na eternidade, onde o tempo conforme concebemos não existe. O melhor nisso tudo, meu filho, é que podemos ainda escolher se queremos ou não viver como servos e filhos de Deus.


O menino fecha o dicionário, pega a bíblia das mãos no pai e abre em Josué 24; 15 com um sorriso infante e abraça o pai.


Mesmo que essa história seja inventada. A essência dela se repete em nossas casas, no trabalho, nas ruas por onde passamos, nos ambientes que habitamos; embora nem sempre estejamos abertos para sentir, compreender e escolher.

Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais: se os deuses a quem serviram vossos pais, que estavam dalém do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor. Js 24; 15

Modernidade





Se todas as possibilidades na ordem e relação das forças já não estivessem esgotadas, não teria passado ainda nenhuma infinidade. Justamente porque isto tem de ser, não há mais nenhuma possibilidade nova e é necessário que tudo já tenha estado aí, inúmeras vezes. (Friedrich Wilhelm Nietzsche).

E na medida em que falavam as pessoas, surgia o nome do dono daquelas frases juntas, daquele pensamento. Vinha como a sentença dos alto-falantes que estavam ali para ordenar gestos, reforçar a inexistência de novas idéias. Mostrar que tudo já é, e o que foi volta a ser. Mas nada será.

Como os dedos que perpassam o teclado de um piano, os pés formavam passos e tocavam a superfície de um chão quase céu. Foge a criatividade, expande-se o tédio e não vem criação, apenas reciclagem. No ritmo dos passos, percebeu que era sempre um pé depois o outro, e que os dois juntos era um pulo; e que inverter a ordem era andar para trás.

Parerga e Paralipomena sobre o acento da cadeira refletia a luz refrata da lua. Não adiantava fechar a janela. A luz corrompera a escuridão e o silêncio se enchera de sons.

Sobre os tons os sonhos buscavam existir de forma sublime. Mas as vias estavam obstruídas. São ruídos, são as cores. A chave fecha a porta, as escadas denunciam a fuga. A rua recebia nua seus pés vestidos. No alto, à esquerda, janelas vazias batiam com o vento. Os passos continuavam, era preciso chegar a algum lugar.

Sentado à beira da fonte que não mais jorrava água ele sentia. Nunca ouvira com tanta convicção as palavras que queria ouvir. E quando ouviu, não era para ele, não eram por ele que as palavras foram lavradas. Mas tudo isso era menor diante da ferida aberta à beira da fonte. Sangrava; as lágrimas ardiam. Precisava retomar um rumo, mesmo consciente de que nada de novo pode acontecer, precisava acreditar que as coisas seriam diferentes; que poderia criar. E que ao criar não buscaria o novo, buscaria esse possível diferente.

O maior desafio para se viver é saber dos limites, saber das impossibilidades e viver entre elas, sem sofrimento desnecessário. A ignorância é felicidade, mas quando se perde a ignorância, é preciso viver, é importante continuar vivendo. O mais natural e comum é mergulhar nos sentimentos e pensamentos ruins, mas é preciso rever a posição atual e alçar vôo por pensamentos e sentimentos melhores.

A natureza se transforma. A tendência natural pode ser revertida a partir de algo que determina a diferença do ser humano. A capacidade de transformação. A retomada, o estímulo além terra, além superfície. Em busca de uma renovação, tentando de tudo, sondando a todos, encontrou dentro. Em sua identidade a resposta para seus passos.

Num dia de desespero, abriu o desassossego e dele ouviu as palavras da dor e do fim daquele que ele considerava sentir amor. E do vento que vem e que passa, que é vento e que passa, sua cabeça deduziu um vôo de phoênix. Não o engodo mitológico, mas o ramo no bico da pomba.

As instalações estáticas confirmavam o que zenon, ou zenão afirmou. O movimento é, mas não existe. O tempo não existe, por isso não pode estar parado. Além das declarações, queria sentir e ver acontecer. Gozar de vitórias.

O brilho do sol em um dia nublado revela sobre as cores um novo contraste. A cor não é palpável, apenas as coisas coloridas são. Mas é possível perceber e a sensibilidade é o instrumento para absorver, como as mãos de um cego, a realidade que nos escapa.

Quando os olhos percebiam o movimento das pessoas, das coisas, o distanciamento possibilitava um novo olhar. A tecnologia, os processos cada vez mais informatizados. O mundo em modernidade, mas o ser humano não. Não há modernidade no potencial humano de percepção. A tecnologia mudou os costumes da tribo. Toda afirmação já nasce com sua contradição.

É chuva nos olhos.

Felicidade e sua busca – Parte 1




Felicidade. Satisfação. O ser humano vive em busca disso. A sensação de estar satisfeito com a vida independentemente das circunstâncias, ser feliz. Para alcançar este estado, as pessoas definem os meios, muitos até o fim. Riquezas. O acúmulo de riquezas facilita as realizações materiais, a movimentação pelos continentes, o estabelecimento da segurança, a conquista de direitos. Solidariedade. Moeda de troca. Acumular riquezas, mas também ajudar os outros. A ajuda como ação para minimizar as diferenças e nunca para extirpá-las. Pois humanamente é necessário haver o triste para haver o alegre, é fundamental a existência do pobre para existir o rico, o condenado para existir o salvo, o certo para existir o errado, o sábio, para o tolo. Para haver liberdade são necessários os limites. Muros, cercas, palavras e sentimentos.

Consumo. A felicidade pode estar na prateleira de um supermercado. Tem felicidade para todos os gostos e bolsos. As pessoas determinam padrões de seres felizes por meio do consumo. O que você Consome? Comida, roupa, música, filmes, programas de televisão, comportamentos, carros, motos, casas, viagens, aparelhos eletrônicos, festas, manipulações, usurpações, sexo, traição, roubo, tradicionalismo, poder.

A busca por poder, por extrema liberdade, levou o ser humano a atrocidades. A inversão dos valores, o convencionalismo de fazer do que acontece em alto índice ser considerado comum e o comum como algo natural, ligado à essência. Matar, roubar, molestar a mente e os sentimentos dos outros.

O suor dos uniformes torna-se mais importante do que as lágrimas ao travesseiro. Cada produto-felicidade tem sua forma de consumo e as ferramentas necessárias para tal. Seja um copo, um cinzeiro, um posto de combustível, uma cama redonda, uma faca, um celular novo, uma camisa nova, um corte de cabelo, uma viagem, um sala de cinema. Mas como todo bom produto, é preciso mais, pois a embalagem logo estará vazia. Neste momento é preciso ir novamente ao “supermercado”. E o dinheiro? Um cão faminto e cego correndo atrás do próprio rabo, assim o ser humano mergulha no trabalho e em outros meios de acumular riquezas pois dali virá a possibilidade de ser feliz, de fazer família, de ser reconhecido, de poder gozar das delícias da vida.

Quando olhar pela janela, verá um determinando o que seria felicidade para o outro. Escorado na própria cerca. Arame farpado. As decisões sérias, as argumentações essenciais e as reflexões sobre o fluxo da vida, seu propósito, seus valores, ficam todas em um copo com água na cabeceira da cama. As pessoas colocam sempre um obstáculo entre elas e o que acreditam ser sua felicidade. E seu obstáculo sempre é maior do que o do outro.

Quando conseguem acumular riquezas, estabelecer sua saudável rotina de consumo, os seres humanos pensam estar realizados e terem alcançado o propósito da vida. Quando à mente incomoda o tédio de uma tarde de chuva, a inquietação de uma tarde de sol quente, ou a angústia de uma silenciosa madrugada, rompida apenas pelos cães e pelos galos, o ser vai até a dispensa e procura por mais felicidade. Procura na bebida, no papo com amigos, em tudo que é entretenimento.

Há os que apenas após alcançarem o que chamam de felicidade, ou estabilidade emocional e financeira, é que vão ajudar os outros, mesmo que este outro more na esquina, ou divida a cama e os lençóis.

Para muitos, Deus é apenas um adesivo no carro. Uma expressão que escorre da boca no desespero, no alívio, no susto. Há os que fazem de Deus um burocrata. Como se fosse um ser inacessível, ou que tem os padrões tão baixos que se agrada mais pela manifestação do ser humano do que o genuinamente verdadeiro que está dentro de cada um. Fazem a reinvenção e reinversão dos valores. Categorizam o nível de contato que cada um pode ter com Deus e estabelecem a predisposição de cada um para condenação e salvação.

Exercício. Os jornais estão pingando desgraça e esperança? Fulano é divorciado, alcoólatra, trabalha 44 horas semanais em um local com muito ruído, calor excessivo, e pouca remuneração. Amasiado há nove meses com Ciclana, ele assume todas as contas da casa e do enteado Beltrano. Fulano, em uma noite de muita bebedeira, chegou em casa, um barraco no subúrbio, sutilmente abriu uma garrafa de cerveja pelo meio ao bater na cara de Ciclana, terminou de beber e acariciou a perna dela com os cacos. No rosto dela, o costumeiro olho roxo. Entrou no quarto do enteado e abusou dele. Uma criança de cinco anos. Vizinhos denunciaram depois. Fulano foi preso. O garoto foi para o Conselho tutelar, a mãe está internada. Quem pensa que este homem deve ir para cadeia, como consequência de seu crime e pecado? Todos. Mas quem pensa que lá ele deve ser apresentado ao evangelho, que por ele a Igreja deve orar. Que se ele se arrepender, crer em Jesus como único senhor e salvador e for batizado, será salvo? Poucos. E se a criança abusada for seu filho? A grande maioria traça até técnicas de tortura e condenação para Fulano. Tornam a implantar o código de Hamurabi, a lei de talião, o Êxodo 21: 24 e Dt 19: 21

Tiago 2: 8 / Mt 5: 44 / Lc 6: 27 / Rm 12: 14 Quando Jesus mandou amar o inimigo, abençoar quem te persegue, ele demonstrou um pouco do que é o verdadeiro amor. É algo de um elevadíssimo padrão. Não é esse amor que acaba depois de alguns anos de casamento por motivos frívolos do cotidiano, não é o sentimento que faz palpitar o coração (as famosas borboletas no estômago), que faz as pessoas terem atitudes precipitadas, inconsequentes. Mas o amor é algo que vai além das circunstâncias, transcende os limites que estabelecemos para este sentimento.

Aqueles que crêem em Jesus, que têm Deus como Senhor de sua vida, acima de todas as coisas, muitas vezes tropeçam no que os olhos preferem não ver e discutir. Agradam a Deus com louvor, dança, uma vida de honestidade, cuidado com o corpo, sendo solidário com os necessitados, devolvendo o dízimo, falando do amor de Deus e das boas novas para os amigos, para as pessoas do trabalho, escola, vizinhança; não se entregam à vaidade de ter bens, mas têm amor por almas; muitos destes, pulam Mt 22: 34-40 e Mt 5:44 e vão para as partes necessárias menos difíceis de se cumprir.

Estacionam a hipocrisia na burocracia de fatos e fórmulas, mas não mergulham no conteúdo, na essência e na finalidade de cada orientação e determinação de Deus. Antes; elaboram rebuscados argumentos para suas práticas e jogam todas no ventilador. Determinam quais são as fontes confiáveis e quais não são. Fazem do Espírito Santo um empregado. O consolador é que convence do pecado e orienta nossos passos à verdade, mas alguns tentam “facilitar” a função do Santo Espírito ao utilizar todas as palavras do vocabulário para explicar e esquadrinhar a mente de Deus, e induzindo a uma interpretação, deixa claro que se o Espírito Santo confirmar ou direcionar algo diferente do que foi argumentado, provavelmente é mentira e obra do engano.

Is 40: 28 Mas quando a Bíblia afirma que não há esquadrinhação para a mente de Deus e que os passos do homem são dirigidos pelo SENHOR “pois o homem como entenderá o seu caminho?”. Se “não há sabedoria, nem inteligência, nem conselho contra o Senhor” porque as pessoas tentam completar a Bíblia? Porque tentam ir além dos limites humanos? Na verdade apenas fazem como brinquedos, batem e voltam. Chegam no limite e voltam, assumindo várias vezes uma rota diferente.

Industrializam a palavra de Deus e seus propósitos. Focam as ações humanas e suas preocupações não em Jesus e sua obra, suas orientações. Mas fazem um recorte, constroem outros discursos. Colocam as instituições maiores do que Deus. A indústria gráfica, a de placas e adesivos nunca esteve tão aquecida. Se as estratégias de comunicação hoje são a cobertura do bolo, a comunicação, a publicidade entre as instituições religiosas são o granulado sobre a cobertura. Para muitos, importa mais que todos anseiem pela cobertura e o granulado, sem saber do que é o bolo, de quê é o recheio ,para quê e por quem foi feito.

O jargão “não importa a placa” na maioria das vezes traduz o pensamento “ a mais importante é a minha”. Os argumentos do “Deus pode falar com você” geralmente vem acompanhado de um manual de interpretação e técnicas de se comunicar com Deus. As pessoas precisam aprender a passear por Mateus 6.

Enquanto o foco das pessoas estiver nas instituições, sua divulgação, seu crescimento a todo o custo, de sua veracidade, estarão acrescentando um abismo entre as pessoas e Deus. Muitos cumprem o ide para alcançar glória própria. Há quem aplique técnicas de mensuração de resultados como em uma empresa.. Seguindo a lógica capitalista onde toda empresa foca o lucro, o lucro das instituições deixa de ser almas salvas e passa a ser “qual é a maior igreja”, ou “qual está mais alinhada com a Bíblia”. Ao verificar como é vivenciado o amor nestas instituições, constata-se que há compaixão, há solidariedade, caridade, afeto, mas o amor que tudo sofre, suporta, supera e crê, o amor que é também para os inimigos; este amor é adaptado à realidade social.

Tornam o principal em um item a ser tratado por Deus. E escolhem o que mudar. Determinam novos olhares sobre a obra de Deus com a finalidade de concentrar em um único lugar a verdade. Estabelecem as diretrizes para Deus agir. Estão tentando esquadrinhar o pensamento de Deus e se equipararem com Ele . Distanciam o ser humano da felicidade. Trazem a confusão com a intenção de alcançar a verdade. Como um sistema politico-monetário que é instalado como meio de se atingir o regime ideal. Idealizado por homens. Criam embalagens para a felicidade. Criam rótulos para a verdade. Estabelecem limites para Deus. O que a Bíblia não fala com clareza, cada ser humano deve buscar orientação de Deus em oração, deve se manter firme na palavra de Deus e permitir que o Espírito Santo o direcione.

Exclamação
Momento. Motivo. Qual a exclamação desta frase? Porque se ordenam as letras e como em um passo de dança se afastam, se unem a outras? Onde estará , se em todos os lugares buscado já foi? Sintaticamente e morfologicamente. Feita transliteração e milhares de traduções. A vida ainda não cabe nas letras, nas palavras. Ela ultrapassa os nosso limites, está além da interrogação.

É preciso conhecimento e sensibilidade para não apenas ler, mas entender. Exclamação. Há momentos em que você sabe que algo vai acontecer. Não sabe o quê, mas sabe que algo vai acontecer.

O silêncio antes do tiro, a gargalhada antes da batida. Quando o carrinho da montanha-russa chega ao cume, freia, trava antes de iniciar a descida. O vento no seu rosto anuncia a chuva. Uma gota no seu nariz. O telefone que toca, ou que não toca. A dor que falta, o ar que sobra, sopra. Doenças que levam para a cova, doenças que esvaem-se diante da cura. Há momentos em que você sabe, algo está acontecendo e logo se materializará.

Depois de tantos tiros. Continua andando o pé. Nos ombros um porta-retrato foto paisagem. Nos pés espinhos, nas veias sangue, nos olhos lágrimas, tudo em seu devido lugar. Nas mãos limpas, unhas sujas. Quando da terra se livraram as unhas, a saliva escorre pela garganta e o relógio vira televisão. Assistido. O tempo não cabe nos números. O tempo como um rolo de abrir massa, compacta e expande.

Suas atitudes podem contribuir para o que vai acontecer. Escolha. Colher o que se plantou de errado e o que se plantou de correto. É preciso chuva. Você sabe que a inercia será rompida. Ou tudo vai parar, ou de repente andará. Os olhos percorrem o mundo e veem todos escorados em realizações pessoais. Cada um estabelecendo o que é a exclamação de sua frase. Outros negociando a interrogação, entregando-se a reticências, muitos colocando ponto final.

Caber. Guardar, buscar. O engraçado é que quando o carrinho chega ao cume, você sabe que a probabilidade maior é dele descer. Mas naquele segundo antes, você sente alívio por parar. Ver a paisagem é um refrigério, mas a ansiedade vem com a altura e com a velocidade. O estalo, o carrinho começa a se deslocar. Já vi notícias de carrinho que caiu, de carrinho que empacou, mas na maioria das vezes o carrinho desce rápido. Na descida não tem como parar. Acontece e pronto.

Só há uma maneira correta de frasear, com a pontuação correta. Poemas são belos, textos são belos, mas sem a devida pontuação, crimes são cometidos. Acreditamos que as cercas que construímos estabelece os limites do terreno.

Quando decide mergulhar nas águas certas, não importa o vento, a direção da correnteza, os ataques e afadiga. O cansaço existe, a dor muitas vezes parece ser insuportável, mas quando aceita viver nestas águas, tudo o mais é detalhe.

Fonte de água viva. A exclamação. O verbo de Deus. O sentido da frase. O propósito da vida nas mãos dele, Deus, além de nossos limites. Uma simples palavra de Deus muda tudo.

Portas e Arranhões





Sentido. Os passos em busca de um caminho ultrapassam a concepção de andarilho de Nietzsche. É o cansaço de uma história onde as aflições têm sufocado a vontade de viver os dias. O prazer transitório das coisas do mundo social apenas degrada a energia de viver. Onde está ancorada sua vida? Quais as bases e valores que regem seu comportamento e sustentam seus sonhos.

Até que ponto você honra os compromissos assumidos? Atualmente as pessoas aplicam em suas relações um novo produto de mercado chamado conveniência. Por meio deste produto as pessoas conduzem todas as suas relações com o trabalho, com a família, com os amigos e com DEUS.

E. Durkein afirma que o suicídio, o colapso do sistema humano, é provocado por intensas mudanças repentinas na vida do indivíduo, ou pela ausência de qualquer fato novo. Percebe-se que dessa forma, o ser humano é como um barco à deriva. Se venta muito ele pode tombar, se não venta ele não sai do lugar e anda em círculos. No caso dos seres humanos, o colapso muitas vezes não se materializa com a morte física. Manifesta na morte social e espiritual. A conveniência, aplicada junto com a covardia, muda o curso dos compromissos assumidos e estabelece uma nova linha de valores.

Os conceitos são adaptados pelo subconsciente de maneira a agradar o desejo imediato de alívio. Socialmente o ser assume um novo papel. Aparentando modificação no caráter, mas na verdade trata-se de apenas mais uma máscara. Os antigos valores e compromissos são guardados em uma caixa imaginária ou em uma gaveta mental.

Mas o que o ser não percebe é que enquanto abre mão de seus valores por medidas paliativas, ele está sepultando aos poucos a oportunidade de ver cumprido o objetivo, o sentido para sua vida. O ser, com as medidas assumidas, se ampara em soluções humanas para problemas que ultrapassam a capacidade humana. O que sabe o homem de seus caminhos? Ele apenas anda. Na maioria das vezes de olhos tapados.

Mesmo com o mínimo de consciência de que o tropeço é seu hino, ele se agarra aos conselhos humanos dos que também estão de olhos tapados ao seu lado. Efeito dominó. A queda da primeira peça independe da capacidade de resistência da peça que está no meio. Ela vai cair. E cai, a menos que alguém a tire da fila. Mas é prazeroso a sensação antes da queda. Há certo gozo. Mas depois do gozo o esporro da dor. A vergonha, o sangue, o tempo que não volta. Muitos estão de gargantas escancaradas para as maldições hereditárias na vida pessoal e profissional. Até quando?

Jogam ao vento as possibilidades de sua vida e esperam correr as horas. A mídia ampara a destruição. Ela reafirma a realidade degenerativa da sociedade. Abdica de seu poder de influência para contribuir com a transformação da sociedade. A desgraça é escancarada nos jornais, pois é importante mostrar os fatos, mas a desgraça também é retratada na ficção, nas novelas, nos filmes, nas séries de entretenimento. O discurso do mundo social sem propósito e desleal e acima de tudo descartável é disseminado pelas redações, livrarias, bibliotecas, rodas de amigos, empresas. O consumo é alimentado, consumo de sonhos, consumo de corpos, de vidas, de drogas, de dinheiro, de relacionamentos, de desgraças desfaçadas de algodão doce. O gosto da desgraça é pior do que o que lhe faz vomitar.

Porque as portas fecham? Porque os corações se fecham? As portas deveriam se fechar para manter o frio distante, a poeira fora, garantir privacidade e segurança. As portas não deveriam fechar para mostrar o rompimento. Existe na natureza humana um certo sadismo em fechar portas, mas um pânico insuportável de imaginar uma porta sendo fechada para si. Herança da influência do mal. Pelo prazer, pela paz equivocadamente o homem quer ser deus e o diabo.
Vi os roteiros filmados e os que podem ser adaptados. Percebo como correm as águas e sei que elas sempre correrão, ao menos que se congelem. Mas a cobertura se congela, o restante fica a uma temperatura muito baixa.

O ser humano, quando é um ser social, é previsível, basta estudá-lo com afinco. A menos que ele aja como um ser espiritual, se colocando na presença, dependência e provisão de Deus, sua ações são percebidas muitas vezes antes de as tomar. Basta estudá-lo, fitá-lo por admirá-lo. Andei de lhos vendados e pude ter retiradas as vendas.

A escolha. Escolher reconstruir ou construir algo novo. A reconstrução pode figurar algo novo.
As pessoas preferem abandonar para não correrem o risco de serem abandonados. Preferem morrer primeiro a ver alguem querido morrer ou ver despedaçar uma família. Preferem abandonar do que resistir, reconstruir o que for possível. Reconstruir a família, reconstruir a vontade de viver.

As pessoas querem livros com figuras. Sorrir por ser feliz. Sentir o vento no rosto e se sentir bem com isso. Mas buscam isso de forma imediata e por meio de estratégias humanas. Paciência gera experiência e experiência gera esperança. Rm 5:3.

Vejo portas. Arranhões dos covardes que não abriram e em ranger de dentes e pranto tentaram tardiamente entrar. Pagaram o bilhete para a desgraça sem saber o verdadeiro preço. Colocaram em dúvida a crença pelo tempo e circunstância. Assim há um passo estive eu, andando elo fio da navalha, sendo cortado a cada passo. A indecisão disseca a vida. A precipitação a explode.

Tenho suado para manter a porta correta aberta. Entrar pela porta correta. Fechar no momento e pelo motivo correto. É o melhor que posso. É onde minha energia termina. Termina. Entra em ação aquele que sempre esteve ali, aquele que é especial e sobre o qual sabemos o que ele quer que saibamos.

EGITO 430



Primeiro Ato - EXODO 12; 40, 42

Ancião de vestes brancas entra e senta em uma poltrona: Muitos pensam que um sonho se acaba com o acordar. Outros conseguem ver a possibilidade de realiza-los.

Ancião anda por trás de uma roda de crianças a brincar: Tenho que contar para vocês, contar o que muitos andam esquecendo. Não há erro em Deus. Existe amor e justiça. Os homens. Sempre os homens.

Escurece palco, crianças saem. Canhão de Luz sobre o Ancião.

Ancião: Estendi os olhos no horizonte e vi uma parreira linda. Ao me aproximar, percebi que as uvas eram deformadas, feias, de sabor amargo. O vinho? Esplêndido. Pessoas, muitas de trajetória feia, de ruína, com vidas deformadas, em que conceitos de família, união e felicidade foram destruídos sob a permissividade da modernidade e sepultados pela pós-modernidade. Mas o testemunho de vida dessas pessoas, a história que cada ruga conta, mesmo nas faces sem rugas, o exemplo de vida é esplêndido.

Cena de Fundo enquanto fala ancião [canto direito do palco]: Mulher idosa sentada em cadeira olha para frente pensativa. Entra mulher e se ajoelha aos pés da idosa que continua a olhar para frente. Abre luz âmbar e percebe-se que a idosa tem uma foto nas mãos.

Ancião: Já vi uma família de geração em geração colher uvas desgraçadas. Sem graça, sem vida, mas com suco. E do suco tiveram de se nutrir.

Cena de Fundo [canto esquerdo do palco]: Casal briga na frente do filho. Marido sai. Esposa vai para o telefone. Filho liga a TV.

Ancião: Este suco, minhas crianças [olha para platéia], é um testemunho que deveria ser entendido e disseminado. Assim, muitas deformações não existiriam, e o conceito original estabelecido por Deus seria respeitado e vivido. Seriam uvas adequadas, lindas, de sabor primoroso. E o suco? Vinho da melhor qualidade! Sabor dos Sabores. Posso dizer que é algo que o faz levar para o céu.

Cena de fundo [centro do palco]: Marido e mulher arrumam a casa enquanto a criança brinca. Casal está feliz. Família dança enquanto arruma as coisas. Tropeçam, Um levanta o outro, com um gesto de dança se agridem e se abraçam. Após arrumar a “casa”, sentam todos no sofá. Marido pega a Bíblia e mostra uma passagem.

Ancião caminha pelo palco olhando para a platéia [expressivo com as mãos]: Minhas crianças, “os ouvidos que escutam a repreensão da vida no meio dos sábios farão a sua morada”. “O sábio de coração será chamado prudente, e a doçura dos lábios aumentará o ensino”.

Para haver a libertação de Israel, foi preciso a morte de primogênitos. Para haver a salvação de todos, um primogênito venceu a morte e virá buscar... nos buscar.

Entra trilha suave: piano e violino

Cena de fundo [centro do palco]: Mulher e Homem apresentam e consagram a Deus o filho nascido. Casal dança com criança no colo. Dançam por todo o palco e cada vez que chegam a uma extremidade do palco, trocam a criança por outra maior [para indicar crescimento e passagem de tempo].

Locutor ou Ancião: Êxodo 13: 1, 13.

Então falou o senhor a Moisés, dizendo: Santifica-me todo primogênito, o que abrir a madre entre os filhos de Israel, de homens e de animais; porque é meu.
.... mas todo primogênito do homem entre teus filhos resgatarás.

Entra trilha forte: Tambores

Dança se interrompe. Atores estáticos. Ancião anda por eles. Olha. Toca cada um. Desce à platéia [luz acompanha], olha profundamente nos olhos de uma pessoa, continua a caminhar, toca algumas pessoas, escolhe uma. Volta com ela e sobe no palco. Mostra os pés da pessoa.

Desce trilha

Ancião acaricia os pés como um servo e fala olhando para eles: O caminho foi o mais longo, teve de ser assim, porque do contrário, ao ver a guerra, voltariam vocês para o Egito.

Ancião levanta e olha para frente: Sabe porque teve de ser tão longo, difícil e doloroso? Teve o homem o poder da escolha, poder limitado para obras extraordinárias, poder ilimitado para transformar a história da humanidade. Foi o que escolhemos fazer com nossa natureza que abriu nela rachaduras que fizeram entrar a dor. O caminho teve de se o mais longo para as escolhas não se precipitarem, mas mesmo assim, nos precipitamos ao esquecer o propósito disso tudo.

Ancião se movimenta pelo palco: Ando descalço pelo quente asfalto à procura de uma sombra. Apenas vejo as sombras das pirâmides que ajudamos a construir. Mas o amor transcende qualquer noção de existência humana, pois de Deus vem o amor. E o amor vi abraçado à esperança em um muro pintado naquela rua escaldante. No muro pude ler algo me fez acordar. Os versos falavam que enquanto nossas esperanças e fé em Cristo estiverem focadas nas realizações deste mundo, seremos os mais infelizes da existência. O propósito é maior, é Divino, e graças a Deus, é eterno.

Cena de fundo: Criança, uns 12 anos de idade, vestida com roupa de “domingo” entra caminhando lá do fundo da platéia. Tira do bolso um vidrinho de fazer bolas de sabão e sopra bolas de sabão [Canhão de luz acompanha desde o início]. Sobe no palco e anda ao redor do ancião soprando bolas de sabão até o fim da fala. Menino vai para o fundo do palco [apaga luz]

Locutor ou Ancião:
O tempo que os filhos de Israel habitaram no Egito foi de quatrocentos e trinta anos. E aconteceu que, passados os quatrocentos e trinta anos, naquele mesmo dia, todos os exércitos do SENHOR saíram da terra do Egito.


Segundo Ato – Mais do que 40 graus. Quarenta anos no Deserto

Acende luz da platéia, Ancião sentado na primeira fileira fala: No deserto, Jesus passou 40 dias a se preparar. Foram 40 os dias que os espias vislumbraram a terra prometida. Porém, Israel passou 40 anos a aprender e se converter. No deserto, a temperatura é muita alta durante o dia e muito baixa durante a noite. A misericórdia como coluna de fogo à noite e nuvem durante o dia.

Quantas chances serão desperdiçadas? CHEGA! ... chega... Acordem queridos, pois quero compartilhar. [Apaga luz sobre o Ancião. Entra no palco a criança do final do primeiro ato]

Criança: E comeram os filhos de Israel maná quarenta anos, até que entraram em terra habitada. Deus alimentou o povo no deserto. O tempo que ficamos no deserto depende de nossas atitudes.

Cena de fundo [canto esquerdo do palco] cinco adultos, como viajantes, andam em círculos.

Criança anda na ponta do palco, gesticula, senta na beira do palco e depois se levanta: Números 13: 30. Quantos aqui agem como Calebe e Oséias, filho de Num, o qual chamado era por Moisés de Josué? Quem dentre os que me ouvem agem como Calebe e Josué? Dentre vocês estão os que se assemelham aos dez espias? Doze espias viram a promessa de Deus. Constataram com os olhos e com o toque que a promessa de Deus é verdadeira. Entretanto, dez fixaram o olhar na dificuldade, e mesmo tendo comprovado a veracidade da promessa de Deus, estavam dispostos a abrir mão da herança.

Criança anda até a platéia: Vocês estão dispostos a abrir mão de sua herança? Assim como a herança que nossos pais nos deixam, a herança da qual falo também foi adquirida com muito suor. Mas um suor especial, um suor feito de sangue. Sangue que foi derramado na cruz. Acha pouco? Acham pouco?

Criança anda pelo público e volta para o palco, pega uma Bíblia: Números 13:30. Faça também calar o povo. Chame todos a subir animosamente e possuir Canaã em herança.

Com a Bíblia nas mãos fala ao povo de maneira enérgica: E a resposta do Senhor será Números 14: 24.

“Porém o meu servo Calebe, porquanto nele houve outro espírito perseverou em seguir-me, eu o levarei à terra em que entrou, e a sua semente a possuirá em herança”.

Apaga luz

Terceiro Ato – Novo Céu e Nova Terra

Sentados um do lado do outro à beira do palco, Ancião e Criança conversam com uma Bíblia na mão.

Ancião: Está escrito aqui: Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida que está no meio do paraíso de Deus.

Criança folheia a Palavra e diz: Bem-aventurado aquele que lê e os que ouvem as palavras desta profecia e aguardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo.

Entra louvor – Lugar de Oração, de André Valadão - 3m38

Cena de fundo [entra adultos a dançar durante toda o louvor]

Entra louvor – Escolho te louvar – Mariana Valadão - 4m05

Cena no centro do palco [crianças dançam, depois entram os jovens e posteriormente adultos]

Criança e Ancião se levantam, uma mulher que está na platéia se levanta, vai até eles.

Mulher: O bom ânimo de cada dia, de cada luta, alcançou seu coração. Apocalipse 21.

E vi um novo céu e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e primeira terra passaram e o mar já não existe. E eu, João, vi a Santa Cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu que dizia: Eis o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará e eles serão o seu povo e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus.

E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor porque já as primeiras coisas são passadas. E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas.

Amém

Entra louvor – Amável Deus

Perseverança e Nova Identidade




Você acredita mesmo que há um ser superior, que se deu ao trabalho de criar um ser que se entrega a uma série de defeitos e semeia a desgraça com a semente da desobediência, regada com a soberba, adubada com a vaidade, vigiada pelo egoísmo? Crê ainda que esse ser superior ama o ser criado que para salvar o ser criado da ruína eterna entregou seu filho unigênito para remissão de TODOS os pecados?

Se, acredita neste amor que pode até ser chamado de sobrenatural, por sua natureza que transcende a limitada capacidade do ser humano de conceber sentimentos. Pois o ser humano quer gozo e suor, sorriso. Mesmo que custe sangue. Se, acredita neste amor, eu pergunto, seria capaz de negociá-lo? Venderia este amor por algo? Existe algo maior e melhor do que ser amado desta forma e ser ensinado a amar?

Se é capaz de negociar este amor, meu querido, vá para o inferno; a menos que assim como eu um dia fiz e reafirmo todos os dias, se arrependa de sua miserável série de escolhas que desenhou sua vida. Persevere na fé em Deus, independentemente do que possa acontecer. Mesmo que seu maior medo vire uma realidade em seus dias.

Houve na história de nossa existência quatro amigos. Rejeitaram se contaminar com a comida do rei impuro e foram honrados. Perseveraram na fé no verdadeiro Deus e foram colocados à prova. Foram levados a uma situação de mercado, para negociar a fé, não por prazeres, como muitos têm feito, mas pela sobrevivência.

Daniel, Misael, Hananias e Azarias. Por defenderem o amor sobrenatural, um foi jogado a cova com leões ferozes e famintos. Leões que não o fizeram mal algum. Os outros três, foram lançados em uma fornalha e não se queimaram, e dentro dela, tiveram a presença do anjo de Deus, semelhante ao filho dos deuses.

Impostos em negociação do amor de Deus, eles foram diretos, foram firmes ao responder para Nabucodonosor. Que o Deus a quem serviam o livrariam da fornalha e da mão do rei. E mesmo que isso não fosse da vontade de Deus, eles não serviriam aos deuses do rei e nem a estátua que o rei mandou fazer.

Eles deixaram claro que mesmo que mesmo que o amor sobrenatural não lhes trouxesse o livramento, eles não iriam abrir mão dele. Ainda assim o rei os jogou na fornalha e viu a Glória de Deus se manifestar.

É assim, mesmo dentro de tribulações (fornalha) que pareçam ser sobrenaturais (aquecida sete vezes mais do que o normal) o surpreendente de Deus se faz presente (e o aspecto do quarto homem na fornalha é semelhante ao filho dos deuses). E o que há de maravilhoso é que depois de sair da tribulação (fornalha) não haverá vestígio algum em você, pois não será consumido (nem cheiro de fogo tinha passado por eles).

Leia Daniel capítulo 3 e não quebre a aliança que Deus fez co você. Aliança de Amor. Amor que transcende ao que você pensa. Toda promessa deve ser cumprida. Toda aliança deve ser honrada. Todas as possibilidades devem ser buscadas diante de Deus. Ele nos ajuda a cumprir nossa parte da Aliança. Não negocie o amor de Deus. Persevere mesmo nas dificuldades.

Identidade trocada

Qual o seu rótulo na sociedade. É o rótulo que agrada a Deus? Ou você é conhecido como o ladrão esperto, o descolado que “come” todas e bebe até cair, a que mais “teve” homens, o que transgride as regras, o rico, pão-duro, coração de pedra, corno manso, bobo, cordeirinho, lobo, 171, miserável, mestre, cobiçado, desejada, conveniente, leal e tantos outros...

Qual era seu rótulo original? Quando você saiu do ventre da sua mãe, quando deixou de ser um rascunho neste mundo. Quem trocou sua identidade, que profanou sua construção? Seus pais? Amigos, sociedade? Líderes impuros? Deus?

A Bíblia revela muitas trocas de nomes. Muitas resultaram em mudança de personalidade outras não. Foi Deus quem mudou seu nome, como ele fez com Jacó, que se tornou Israel? Como fez com Abrão que se tornou Abraão? Como irá fazer com os salvos, com os que perseverarem e não negociarem o amor de Deus.

Ap 2:17 diz que “Ao que vencer darei eu a comer do maná escondido e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe”.

Muitas vezes, permitimos que mudem nosso nome, nosso rótulo na sociedade. Permitimos que coloquem um nome de desonra. Muitas vezes, as pessoas acabam por confirmar este novo nome com seus atos, se perdem na dança da desgraça, fazem como o porco que volta para a lama e o cachorro que volta para lamber do próprio vômito.

Mas existem também os que independentemente do nome honram a Deus. Homens como Daniel, Misael, Hananias e Azarias. Mesmo quando o rei Nabucodonosor mudou o nome deles segundo significados que adoravam deuses pagãos, os quatro permaneceram fiéis ao Deus verdadeiro (Dn 1:6, 7 e 19). E todos foram honrados pela perseverança, todos foram preservados e agraciados de muitas bênção por não terem negociado o amor de Deus, mas por terem exaltado o como é imensurável e impagável o amor de Deus. Mesmo que tentem mudar seu nome para ver se te corrompem, ou te envergonhem, saiba não é isso que Deus tem para você.

É fácil negociar o amor de Deus por um emprego, por bens, para ter prazer, experimentar diversas situações, pessoas e objetos. Ainda mais fácil é negociar pela sobrevivência, para saciar o corpo que pede por alimento, roupa e conforto. Para não ser excluído de um grupo social, para não ser executado em locais ainda mais repressores.

Não negocie o amor de Deus e os propósitos dele para a sua vida. A felicidade e alegria provêm de Deus. O melhor para sua vida apenas Deus pode dar. E o melhor; Deus não é Deus de confusão e ele sabe o que você precisa antes de pedir, conhece o seu íntimo. Confia nele e converse com ele. Se o fizer de coração ele responderá.

A palavra de Deus é exata ao dizer que em tudo o que fizer, quer comais, bebais ou fazeis outra qualquer coisa, que seja TUDO para a Glória de Deus. Encontre em Deus sua identidade.

Salmo 34:8

“Eles atiram em cavalos, não atiram?”




PÍLULAS DE REALIDADE

Ler não somente as letras. Sentir o que lê sem dramatizar. Sentir o que vivencia, inclusive a dor. O corpo e suas sensibilidades. O cotidiano como pano de fundo central de um encontro de interpretações. Leituras de Passaporte – Fernando Bonassi – e Eles eram muitos cavalos – Luiz Ruffato.

O texto de Bonassi apresenta uma crueza e sensibilidade que permite dialogar com os muitos cavalos que não usam passaporte, mas são carimbados ao migrarem constantemente, bordando e transbordando na malha que nem sempre é humana, é urbana. Cavalos que migram inclusive dentro deles próprios. Deles; não seríamos nós cavalos? Possivelmente não. “Eles atiram em cavalos, não atiram?”.

Ao transitar pelo passaporte de Bonassi é possível perceber a crueza recorrente do ato complexo, e nem por isso sempre difícil, de relatar a realidade. Seja em “piercings” ou em vacas distraídas. Lúdico lúcido de um real acinzentado; ácido. A natureza morta de Bonassi é ótima e casa com o homônimo dos muitos cavalos (selados).

As verdades e mentiras suscitam aquilo que ninguém assume e adora sentir e experimentar. A sensibilidade apurada da mente garante o prazer pleno do corpo, no qual se inclui a mente. Mil e uma noites esvaem-se entre os poros de maridos e mulheres que se espreitam pelo tempo para não eternizarem-se nos trâmites dos supermercados. Tem dia que tudo tem “cara” de supermercado.

Somos lagartos infelizes, sonolentos e soberbos no planalto central, esticados ao sol, comendo a brisa que falta. “Vamos viver de brisa”.

Simples e complexos. Solitários, vivemos cada um uma realidade. A imagem que entra pelos nossos olhos passa pelo filtro do desprezo e do interesse próprio; sistema de relevância. Somos cavalos em uma infindável noite dos desesperados , na qual nosso passaporte não indica um destino, uma chegada, apenas partida.

A simplicidade de viver um novo momento que na verdade não é novo, é repetido. Sentir a mórbida natureza do cotidiano se apresentar todos os dias àqueles que teimam em não viver debaixo d’água.

Bonassi relata a crua imagem que os olhos capturam durante as andanças entre muitos cavalos, que teimam em povoar o mundo. Ruffato traz os relatos dos anônimos do cotidiano, cavalos fadados a pastarem entre seus sentimentos, suas idéias e seus “semelhantes”.

Os livros são como uma casa de espelhos. A imaginação e a percepção amparam os olhos e os guiam através dos diversos reflexos do famigerado real. Nos trâmites da leitura, sente-se a possibilidade de poder interpretar o que se chama de real sem ter como base os rótulos socialmente estabelecidos.

Bonassi nos dá pílulas e nos muitos cavalos de Ruffato encontramos o passaporte adequado para engolirmos e sermos engolidos pelas pílulas de realidade. Humor e sarcasmo. Sangue suor, sorriso e gozo. Bonassi e Ruffato e uma dose de madrugada. O travesseiro anseia uma mente que sempre borbulha.

Memórias de minhas putas tristes – Gabriel García Márquez




A tristeza era dele, que buscava um recomeço; se renovar no suor de um corpo jovem. Corpo que, na verdade, não trazia juventude, mas prazer e dor sob a fina superfície da inocência.

A humanidade encontrada por meio do famigerado amor. A ridicularidade de amar desfaz a experiência de anos. Um presente de aniversário, um hino de louvor à vida. A tristeza que só a sabedoria traz permite um limiar de esperança, no ano dos noventa anos de um ancião. O renascimento.

“Era enfim a vida real, com meu coração a salvo, e condenado a morrer de bom amor na agonia feliz de qualquer dia depois dos meus cem anos”.

Memória de Minhas Putas Tristes (Memoria de mis putas tristes) foi escrito em 2004 por Gabriel García Márquez e publicado em outubro do mesmo ano nos países de língua espanhola. No Brasil, foi publicado pela editora Record em 2005, com tradução de Eric Nepomuceno.

A obra narra a história de um nonagenário cronista e crítico musical que, em seu aniversário de 90 anos, pretende presentear a si mesmo com uma noite de amor louco com uma adolescente virgem. Porém, ao vê-la dormindo, não tem coragem de acordá-la e se apaixona por uma garota adormecida.

Primeira obra de ficção do autor colombiano em dez anos, "Memória de Minhas Putas Tristes" desfia as lembranças de vida desse inesquecível e solitário personagem em mais um vigoroso livro de Gabriel García Márquez.

Agora que a conheceu, ele se vê à beira da morte. Mas não pela idade, e sim por amor. Sempre sublime, Gabriel García Márquez presenteia-nos com esta jóia narrativa repleta de sabedoria, memória e bom humor, que confere ainda mais brilho à sua genialidade literária.

Viver: O castigo de Dostoiévski



Tudo é psicológico, inclusive o dinheiro. Vida social é acomodação. As idéias são um campo vasto de realizações. Tudo o que manifestamos é, objetivamente ou subjetivamente, autobiográfico. Raskolnikov. Uma outra migalha de Dostoievski ; parou de estudar, faltou dinheiro.
Pensamentos transcendentais. Era um pouco mais do que os demais, pelo menos em articulação de pensamento. Extremamente analítico. A irmã iria casar por conveniência. Ele tinha amigos. Relacionava-se com eles por meio de frestas no muro que continha sua essência fechada e introspectiva em uma Rússia nublada.
Soberano dentre os vermes; era ele o germe da prosperidade derradeira em uma Rússia nublada. Matou a velha que trocava coisas por dinheiro. Era Lea uma agiota bondosa que destinava seu dinheiro a sedentos atores sociais falidos. Matou com machado. A moleira dura ao beijar a lâmina do machado goza um muco viscoso e rubro. Morte. O acaso e os impulsos físicos. Outra machadada outra moleira. A irmã da velha. Tempos nublados. O dinheiro. Psicológico, assim tudo é.
O corpo passa a não responder e a mente a responder e bater. Conflituosamente Rodka anda entre suas pernas e pensa nos passos que deu e nos que deveria dar. Entregar-se, usar do que roubara, embora tenha tido uma fuga invejável. Deveria levantar a pedra, rasgar o forro, pegar e usufruir os seus ganhos? O sangue na ponta do calçado ainda existia em sua mente perturbada por uma realidade cinza.
Rodka se assemelha do Sr. Meursault, do Estrangeiro de Camus. Ambos não se consideravam criminosos, mas sim as idéias e o meio. Mimetismo e conflitos. Há quem diga que seu crime foi ter se entregado e se considerado criminoso, ou ainda ter deslacrado a machadadas o corpo da anciã podre e rica. Seu castigo são suas idéias, sua doença, seus conflitos, a Sibéria. A salvação seria Sonia, a bíblia na cela, o trabalho forçado, a possibilidade de recondução à sociedade por meio da pena, da culpa, do trabalho. Sibéria.
Ainda na semelhança com Meursault de Camus, Rodka torna-se amigo do delegado. Os amigos aos poucos deduziam sua sina, sua trajetória, seu; crime. Antes de à tona putrefazer ainda mais a realidade de uma Rússia nublada, ele se entrega.
Conflito? Confuso? O mundo gira e nós parados cremos girar. Repetição? Todos são. Dilemas. Culpa. O ato visto à luz de padrões estabelecidos por uma sucessão de contextos, denuncia o erro. Assassinar por dinheiro ou para eximir do mundo uma alma sebosa?
Viver é o castigo em um mundo em que a Rússia nublada se expande e se instala também dentro de cada um. Viciados seja em jogo, seja em ar, seja em palavra, seja em qualquer coisa. A produzir e divagar para buscar suprir uma solidão e medo do silêncio de assumir que somos seres nublados. Contemos o sol, mas o embaçamos e escondemos por detrás de um discurso romântico. Discurso criado para entretenimento pelo pensamento moderno. O mesmo que criou sua maior utopia, sua superação, a pós-modernidade.

Mas aqui começa já uma nova história, a história da gradual renovação de um homem, a história do seu trânsito progressivo dum mundo para outro, do seu contato com outra realidade nova, completamente ignorada até ali. Isto poderia constituir o tema duma nova narrativa... mas a nossa presente narrativa termina aqui.

Dostoievski – Vida e obra
Em uma Rússia conturbada, na cidade de Moscou, nasce Fiódor Mikháilovitch Dostoievski, em outubro de 1821, descendente de uma aristocrática família lituana, porém agora sem fortuna alguma. O pequeno Dostoievski cresce em meio à pobreza e a pessoas doentes; seu pai é médico em um sanatório para pobres em Moscou e é aí que reside a família.
A inesperada notícia do assassinato do pai, em 1839, pesa na consciência do jovem Fiódor, que tanto rezara para ver-se livre do pai déspota. Amargurado, angustiado pelo remorso, sentindo-se responsável por toda a miséria do ser humano, ele busca se redimir por meio da criação literária.
Em 1880 torna-se finalmente o ídolo de seus leitores, guia espiritual, exemplo de força e coragem, o “Escritor da Rússia” que retrata a alma do povo. Mas já não há tempo para vanglória. Num dia nevado de 1881, vítima de hemorragia, morre aos 60 anos Fiódor Mikháilovitch Dostoievski, consagrado até hoje como um dos mestres da literatura universal.

Cronologia
1821 – Em 30 de outubro, nasce Fiódor Mikháilovitch Dostoievski
1837 – Morre a mãe de Dostoievski. Transfere-se para escola de Engenharia Militar de São Petersburgo.
1839 – Seu pai é assassinado.
1841 – Inicia as obras Boris Godunov e Maria Stuart, mas não as conclui.
1843 – Passa a trabalhar na seção de Engenharia de São Petersburgo. Traduz Eugênia Grandet, de Balzac e Dom Carlos, de Schiller.
1844 – Demite-se do cargo público para dedicar-se à literatura.
1845 – Publica Pobre Gente.
1847 – Sofre crise de epilepsia. Sai segunda edição de Pobre Gente.
1848 – Publica O Duplo.
1849 – É preso e condenado à morte. Comutada a pena, parte para a Sibéria.
1854 – É incorporado como soldado raso em uma guarnição siberiana.
1857 – Casa-se com Maria Dimítrievna Issáievna.
1859 – Volta à São Petersburgo.
1861 – Publica Recordações da Casa dos Mortos. Funda o jornal O Tempo.
1862 – Viaja ao exterior com sua musa Polina Súslova.
1863 – Retorna à Rússia.
1864 – Funda o periódico A Época. Morrem sua esposa e seu irmão.
1867 – Casa-se com Ana Grigórievna. Publica Crime e Castigo.
1868 – Nasce a primeira filha. Publica O Idiota.
1869 – Nasce a segunda filha.
1871 – Publica Os Possessos
1874 – Publica O Adolescente e Diário de um Escritor.
1880 – Publica Os Irmãos Karamázovi
1881 – Morre em 28 de janeiro e é sepultado três dias depois, em São Petersburgo.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

POETAS DA DOR

 

POETAS DA DOR

 

Porque nenhum de nós vive para si. E nenhum de nós morre para si.

 

 

Até que o ultimo suspiro transcenda as lágrimas de sangue que o cérebro jorra. Madrugada. Os pensamentos são o gozo e a porrada. Desordenados, são o câncer orquestrada que leva à ruina. A apatia controlada de estar sozinho em sua doença, em suas concepções. Mesmo tendo alguém ao lado, mesmo dividindo o lençol, mesmo no meio da massa. Solidão.

 

A solidão e seu negrume, os pensamentos sem rédeas, como um cavalo selvagem agonizando, à espera de alguém para sacrificá-lo. Acompanhada, a solidão vem com o derradeiro suspiro do arrependimento. Traz nos braços a morte. O último gongo do relógio.

 

Alimenta-se do que corrói. A filosofia e os demais poetas da dor constataram o colapso do ser humano em demasia, se prendendo à matéria e tudo o que o raciocínio humano concebe e digere. Esquadrinha a realidade e como os diversos de Pessoa ser perdem e entram em colapso. Seja Caeiro, Reis, Soares, Campos, todos experimentaram do gosto da cor da morte.

 

Jostein Gaarder leva seu personagem a afirmar que não há duas pessoas iguais neste mundo. Em Irmãos Karamázov, Fiódor Dostoiévski, por meio de Ivan K. constata que é impossível sentir a dor do outro. Impossível saber o que o outro sente. Pode-se ao máximo imaginar como se aquela dor fosse sua. Imaginar como você sentiria algo semelhante. Neste caso verifica-se o isolamento do ser humano em sua inacessibilidade. Apenas a compaixão pode romper com este isolamento. Ao se destituir de si, da soberba do intelecto e procurar ver e sentir o outro.

 

Friederich Wilhelm Nietzsche afirma que a compaixão enfraquece o homem. E que homens fracos atravancam o fluir da existência. Declara que é possível identificar o cristianismo como a religião da compaixão. A religião que enfraquece o indivíduo.

 

Importante lembrar que para fluir a existência e os relacionamentos dos seres humanos entre si e com os demais seres e objetos existentes, é necessário que o indivíduo (que não se divide) seja também grupo, coletivo. Para ser coletivo, social, ele precisa ver o outro e entender. Para realizar isso com eficiência e eficácia, é preciso a compaixão. É necessário abrir mão da soberba do saber e sentir. Não ver sua dor como se fosse a maior (segundo Ivan Karamázov sua dor parece ser a maior, porque ela é sua e você não tem como sentir a do outro. A do outro, por sua vez, é maior para ele.), não ver suas qualidades e potencial como o superior da raça. É fundamental se enfraquecer, como diria Wilhelm N. e ter compaixão. Mas um certo Jesus Cristo orientou que devemos ter compaixão uns com os outros. E amar o próximo como nos amamos.

 

Jesus pede para não nos acomodarmos a corrente social. Segundo Clifford Gertz e Ruth Benedict, a vida social é estabelecida por acomodação. Identificação e acomodação dos indivíduos a padrões moralmente concebidos por conveniência do grupo controle. A intelectualidade determina que aqueles que não se encaixam a esta vida social, são estrangeiros errantes, são os estrangeiros de Albert Camus, ou os andarilhos de Nietzsche; onde não importa o destino apenas a caminhada que não cessa, mas se renova. Devemos seguir para o alvo que é Cristo e não cair no estranhamento da autodestruição.

 

Heidger e Wilhelm e suas concepções de que devemos ser fiéis à terra e a tudo o que nela há, assim como Alberto Caeiro, de Pessoa. Pensavam estes que nada haveria de existir de maior ou fora daquilo que a mente humana pode conceber e provar materialmente nesta terra. Entregue às divagações, a vida seria então um processo degenerativo. Sendo assim, a trajetória do ser humano, desde o nascimento, seria a caminhada para a desgraça maior.

Apenas é fundamental lembrar da família. Dessa forma, seriam desnecessárias as famílias, os relacionamentos, as ordens sociais. Os seres humanos poderiam ser concebidos em fábricas. E não haveria cabimento ter carinho ou qualquer outro sentimento pela prole. Ela deveria, até mesmo, servir de alimento ou banco de órgãos caso os seres pensantes nascidos anteriormente necessitassem. Homem lobo do homem. O que é sua família?

 

Nietzsche chamou a moral cristã de moral escrava, mas a liberdade aclamada por ele, onde o pensar livre se ancora nas amarras da amargura, na mente que perde os valores e alimenta o vazio que fica com divagações que aceleram o processo degenerativo do ser.

 

Manuel de Barros alega ser preciso desaprender para aprendermos, Nietzsche defende uma revalorização de todos os valores, repousando seu ceticismo no caricato niilismo. Então emerge o colapso. Não apenas o colapso das instituições humanas, mas também da família: um projeto de Deus que o homem não tem honrado.

 

De acordo com Émile Durkein, o suicídio propriamente dito e o suicídio social ocorre em duas distintas situações: quando o indivíduo passa por alguma mudança ou série intensa de acontecimentos e na ausência deles. A avalanche provocada pela desistência do pensar e buscar pode levar ao colapso, bem como a desenfreada entrega aos pensamentos cancerígenos, amparada na falta de valores. Pois a revalorização sugerida destituiria o valor de Deus, da família, do Certo e Errado, de diversas entidades, instituições e conceitos.

 

A madrugada empurra os poetas da dor a ejacularem sua dor, manifestarem sua angústia muitas vezes assistida com incompreensão por quem está ao lado. A solidão das ideias conduz seu interlocutor à desgraça que ele cultivara em um jardim secreto, dentro de seu cérebro, onde poeticamente chama de coração, de alma. Não se entorpeça com a imagem da cobra que come o próprio rabo, nem busque ver o que sobrará desta fúnebre refeição ocultista.

 

O Dedo Torto, personagem do filme A excêntrica família de Antônia, retrata o ser que encontrou o colapso mental e físico de Durkein. Seu suicídio primeiro foi social, exilado em sua biblioteca. Depois materializou-se nas amarguras de seu ventre, de suas palavras. Finalmente, findou-se em uma carta de letras tortas e no pescoço estrangulado em uma corda.

 

Entre linhas subliminares, entre discursos escrachados, na apatia controlada dos relacionamentos, os poetas da dor manifestam o colapso do ser, do sentir, do existir. Ele é um passo. Um passo para a desgraça maior. É a comprovação do pensamento da revalorização e suas consequências.

 

O que sabe o homem de seus caminhos, se na verdade eles são direcionados por Deus. O pensamento de Deus não pode o homem esquadrinhar. Eis aí uma aflição do pensador humano. Não ter a capacidade de esquadrinhar o pensamento de Deus. O ser humano não reconhece inteligência digna (equivalente ou superior à sua) a um ser se estes não raciocinar conforme o modo humano.

 

O Enigma de Kasper Hauser (e seu curioso nome no idioma original) brinca ao levantar a hipótese de uma maça sentir e pensar e até mesmo agir. Há seitas que alegam as plantas sentirem dor e assimilarem sentimentos. Tudo pensamento defecado em divagações errantes.

 

Um tal de Arthur Schopenhauer afirma que " o saber humano se espalha para todos os lados, a perder de vista, de modo que nenhum indivíduo pode saber sequer a milésima parte daquilo que é digno de ser sabido".

 

Poesias que apenas destroem. Palavras da demolição em um coração que clama por amor. Um amor e um sentido que satisfaça. Mas pede em lágrimas secretas, e pede errado, pede para quem não pode dar alívio e sentido à vida. Pede ao acaso, busca nos homens, revela-se em poemas sombrios. Sombrios como tem se tornado o interior do poeta em questão.

 

O povo perece por falta de conhecimento. Falta sabedoria para lidar com as informações adquiridas. A Sabedoria vem daquele que deu a Salomão sabedoria. George Orwell e sua fazenda de porcos, e seu futuro em 1984. A ignorância como porta à felicidade. A verdade como a chave para a felicidade. Mas dói ao abrir. Dói. É a dor da liberdade.

 

Injusto traduzir em palavras um sentimento. Arthur Schopenhauer constatou como o ato de traduzir gera perdas. Seja traduzir obras, letras ou sentimentos e pensamentos. A perda no processo aumenta cada vez mais, pois depende do repertório do espectador. Mas existe alguém que vê o que está em secreto. Que sabe o que você precisa mesmo antes de pedir.

 

Perdido em algum lugar na zona de tiroteio entre reconhecimento e poder. A vontade e representação do poeta da dor se manifesta na repulsa. Repulsa da realidade que vive, repulsa das responsabilidades que tem que assumir. Repulsa que se manifesta por meio de uma apatia. Uma apatia controlada pelo vazio. O vazio que o impulsiona a divagar pelas madrugadas, pela escuridão das ideias.

Do que adianta voar com asas artificiais, limitadas, e ainda assim voar em rebeldia,  morrendo no oceano. Ícaro.  Melhor seria o labirinto? Dédalos. Arthur Schopenhauer diz que a peruca é o símbolo mais apropriado para o erudito puro. Trata-se de homens que adornam a cabeça com uma rica massa de cabelo alheio porque carecem os cabelos próprios.

 

Onde estão teus cabelos? O que fez deles? Enquanto é tempo. Entreis pela porta estreita. Porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela. E porque é estreita a porta e apertado O Caminho que leva a vida, e poucos há que a encontrem. Apenas os que o fazem em espírito e verdade.

 

De sua masmorra, construída por restos mortos de seus sonhos, o Poeta da dor joga suas trançadas palavras em busca de um príncipe que o satisfaça e o liberte da pedra que comprime seu peito. Lá embaixo, afogado em seu reflexo o príncipe paira o olhar como um narciso a ignorar o eco das palavras do poeta. Mas o poeta, por onde olha, vê seu rosto desfigurado na figura do escritor, do leitor e do carrasco. Mas o alívio não está onde tens olhado ó poeta. Assim como eu, perceba a porta que deve abrir, a porta pela qual deve passar e o caminho pelo qual deve levar os que ama. Ama. Ligue-se à fonte de amor. Este sentimento que é injustiçado pelas palavras, pois nem todas as belas palavras e construções e conjecturas podem revelar o que vem a ser o amor. Ame. Ame. Conheça ti a ti mesmo e encontre a semelhança do seu criador pulsando em você.

 

"Eis que estou a porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua  casa e com ele cearei e ele comigo. Ap 2: 20".

 

 

 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Amor e Semelhança




Permita-se a um simples exercício. Reduza o significado de amor em uma palavra. Entenda individualmente o significado; o que é o amor. O amor não foi inventado: ele é.

Colocamos muitas vezes sonhos humanos sobre a vontade de Deus. Condicionamos a obra de Deus, o chamado, o “ide” de acordo com os sonhos humanos (Bens materiais, casamento, filhos, emprego, dívidas e etc.)

Formados do pó da terra, fomos chamados à semelhança. (Gn 1: 26 e 27)

Um anjo quis ser semelhante ao altíssimo. Para isso, desejou elevar seu trono acima das estrelas do céu (Is 14: 13 e14). Caiu, pois não é assim. Do pó da terra Deus fez um ser à sua semelhança. O diferencial não é a aparência, ou onde se instala o ser, mas no interior. Aquela massa de barro tornou-se alma vivente, ser humano, após receber em suas narinas o espírito soprado por Deus. O Homem não soube desfrutar da liberdade e semelhança junto de Deus. O Homem pecou, caiu.

Após a queda, a busca pela presença de Deus, a conversão, regeneração, transformação e santificação são passos para se atingir a estatura de varão perfeito (Ef 4:13), voltando à semelhança com Deus, conforme o segundo Adão, tudo para honra e glória de Deus; pois ELE não divide sua glória. Ser semelhante a Deus não para própria honra (a semente da soberba), mas para glorificar a Deus.

As pessoas complicam o evangelho. Deturpam a mensagem de Cristo. O ser humano se perde entre seus desejos, suas vontades, suas carências e a sua verdadeira necessidade. Sempre, sua verdadeira necessidade é tida como o menos importante, um estilo alternativo de vida, uma simples conduta. A verdadeira necessidade é salvação, é arrepender-se (Rm 3:23); entender e viver consciente de que precisa de Deus e foi formado para glorificar a Deus.

Ao perceber que fomos formados para glorificar a Deus, que nada merecemos e muito pouco sabemos, nada praticamente em sua plenitude, o amor de Deus nos constrange (2Co 5:14).

Suprema expressão da lealdade, o amor é forte como a morte (Ct 8: 6), é entrega (Jo 3: 16 / Jo 15: 13). Não sabemos se é amor ou ódio o que nos espera (Ec 9). O amor excede a todo entendimento (Ef 3:19).

Pela nossa salvação, Jesus fez tudo (2Pe 3:9). Reforça que devemos amar a Deus sobre todas as coisas (Jo 14:21). Ordena-nos a amar uns aos outros (Mc 12: 28 – 31), permanecer no amor (Jo 15: 9), amar os inimigos (MT 5: 44), e amor seja não fingido, pois Deus, justo juiz, sonda e prova os corações (Jr 17: 9 e 10). Deus é amor (1Jo 4: 8 a 16)